A destruição de ativos da natureza, como florestas e pântanos, causa perdas anuais de ao menos US$ 2,5 trilhões no mundo.
A cifra, que supera em quase US$ 1 trilhão o PIB do Brasil, foi citada em um projeto financiado pela Comissão Europeia e apresentado nesta quarta-feira em Nagoya, Japão, durante conferência da Unep, a agência de meio ambiente da ONU.
“The Economics of Ecosystems and Biodiversity” (Teeb) é um estudo de dois anos cujo objetivo é mostrar o valor econômico de florestas, água, solo e corais, bem como os custos ocasionados pela perda desses recursos.
O líder do projeto, Pavan Sukhdev, pediu que “o valor dos serviços da natureza se torne visível” e influencie negócios e decisões adotados pelos países.
Seu relatório afirma que os custos de proteger a biodiversidade e os ecossistemas é mais baixo do que o custo “de permitir que eles mingúem”, e artigo no site do projeto diz que “estamos vivendo do capital da Terra; precisamos aprender a viver dos juros”.
Brasil e Índia – Outra conclusão é a de que a conservação tem papel importante na redução da pobreza, pois “florestas e outros ecossistemas contribuem para a sobrevivência de lares rurais empobrecidos”.
Os líderes do projeto disseram que alguns países estão dando os primeiros passos para levar o valor da natureza em consideração ao adotar políticas públicas, e citam Brasil e Índia como exemplos.
“A abordagem do Teeb é útil para fazer com que (diferentes setores da sociedade) entendam as implicações da perda da biodiversidade e do retorno de investimentos (por conta da) conservação dessa biodiversidade”, disse à BBC News Bráulio Dias, secretário de biodiversidade e florestas do Ministério do Meio Ambiente brasileiro, presente no evento em Nagoya.
Sukhdev disse que 27 países da América Latina e da África pediram à agência ambiental da ONU ajuda para tornar suas economias mais “verdes”.
Cidades – O cálculo do valor de ecossistemas específicos foi aplicado pelo Teeb em cidades como Campala e Nova York.
Em Campala, capital de Uganda, estimativa de 1999 dava conta que o pântano Nakivubo valia entre US$ 1 milhão e US$ 1,75 milhão ao ano, por sua habilidade em purificar o esgoto da cidade.
Segundo o relatório, o cálculo fez com que fossem abandonados planos de drenar o pântano. No entanto, ao longo do tempo o Nakivubo perdeu suas capacidades, e em 2008 foi necessário um projeto para restaurar o local.
“O caso de Uganda mostra que, enquanto a valoração de serviços do ecossistema em geral fortalece argumentos para proteger o capital natural, por si só ela não previne que sejam tomadas decisões que degradem esses serviços”, diz o estudo do Teeb.
Mas essa valoração “estimulou a implementação de normas que premiam os responsáveis por proteger” o ecossistema.
Um caso citado ocorreu em Nova York, onde autoridades pagam donos de terras em uma área montanhosa perto da cidade para que estes adotem técnicas agrícolas mais avançadas.
O objetivo é impedir que nutrientes da terra sejam escoados para rios locais, o que demandaria a construção de custosas estações de tratamento de água.
O incentivo aos agricultores custa entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão, enquanto o valor estimado de uma nova estação de tratamento de água é de US$ 6 bilhões a US$ 8 bilhões.
E Curitiba é citada no relatório como “exemplo” positivo de cidade que expandiu seus parques urbanos com o objetivo de prevenir inundações e oferecer espaço recreativo aos seus cidadãos. Estes contam com, “em média, 50 m² de espaço verde cada um, um dos maiores índices da América Latina”. (Fonte: G1)