O acordo internacional aprovado em Cancún para combater as mudanças climáticas tranquilizou em parte os ecologistas, mas não o bastante para fazer esquecer que a esperança de uma lei para limitar as emissões de gases de efeito estufa naufragou nos Estados Unidos em 2010.
O governo de Barack Obama desempenhou um papel ativo para que fosse alcançado, no sábado, um acordo em Cancún, que prevê a criação de um fundo “verde” para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar o aquecimento global.
Mas um projeto de lei com vistas a reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) nos Estados Unidos naufragou este ano no Senado daquele país, antes mesmo da vitória dos republicanos nas legislativas de novembro, muitos dos quais duvidam, inclusive, da realidade das mudanças climáticas.
Agora, a atitude tomada pelos Estados Unidos, de longe o maior emissor per cápita do mundo, será crucial para a continuação das negociações internacionais, que se deslocam no ano que vem para Durban, na África do Sul.
“A questão de se os Estados Unidos estarão à altura de seus compromissos está em todas as mentes”, disse, em Cancún, o ecologista Jake Schmidt, do Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais.
Estamos longe do clima que prealecia há dois anos, quando a chegada ao poder de Obama suscitava a esperança do fim do ceticismo sobre o aquecimento global, que predominou durante o governo do presidente George W. Bush (2001-2009).
O principal negociador americano sobre o clima, Todd Stern, destaca que o acordo de Cancún deveria satisfazer os legisladores americanos, que insistiram na importância da verificação de medidas anti-aquecimento que serão tomadas por outros países, como a China. O fundo “verde” será também gerido pelo Banco Mundial, a pedido de Washington.
No entanto, Stern não tem ilusões sobre as possibilidades de ressuscitar a lei que havia sido aprovada pela Câmara de Representantes em 2009 e que não chegou a ser sequer discutida no Senado por causa das perspectivas de bloqueio por parte da minoria republicana. O projeto previa um sistema de intercâmbio de direitos de emissão, copiado do modelo europeu.
“Não teremos, de entrada, os votos necessários para aprovar o projeto de lei. Mas penso que (Cancún) ajudará”, afirmou.
O Congresso não terá que se pronunciar sobre o acordo de Cancún, mas deverá aprovar os financiamentos destinados a alimentar o futuro fundo “verde” que será dotado de 100 bilhões de dólares ao ano pelos países ricos. Senadores republicanos já se comprometeram a combater esta disposição.
“Os Estados Unidos não têm nenhum interesse em gastar bilhões de dólares dos contribuintes para combater as mudanças climáticas”, escreveram quatro deles à secretária de Estado, Hillary Clinton.
Para Alden Meyer, especialista em mudanças climáticas, será impossível convencer os céticos do aquecimento global, mas o acordo de Cancún é um passo na boa direção.
Se as discussões tivessem fracassado, estes últimos teriam aproveitado a oportunidade para dizer que “o resto do mundo não leva as negociações a sério, já dissemos”, argumentou Meyer.
“Evitamos uma derrota e obtivemos alguma coisa positiva”, acrescentou. (Fonte: Yahoo!)