O aquecimento global é uma realidade, mas algumas das catástrofes relacionadas ao fenômeno podem ter que ser revistas. É o caso do manto de gelo da Groenlândia, que pode estar menos ameaçado que o previsto.
Pesquisadores europeus realizaram um estudo, publicado na revista “Nature”, em que afirmam que o degelo da ilha pode levar mais tempo do que se imaginava.
A causa do temor dos glaciólogos era um fenômeno denominado drenagem subglacial. A água gerada pelo derretimento do gelo infiltra-se em pequenos canais e alcança a camada rochosa abaixo do manto gelado.
Essa água, então, escorre em direção ao mar, formando uma lâmina aquática que atua como lubrificante e faz com que blocos de gelo “escorreguem” para o oceano.
Mas cientistas perceberam, analisando a ilha por satélite, que a drenagem subglacial causa menos estragos do que se pensava.
A partir de um limite de derretimento do gelo – 1,4 centímetro por dia do manto -, a água para de abastecer a interface entre gelo e rocha e começa a se infiltrar em canais no gelo, escoando para o mar. O efeito lubrificante é, então, reduzido.
Os cientistas calculam que, em anos quentes, conforme o verão avança e as temperaturas sobem, a velocidade com que os blocos de gelo se deslocam para o mar se reduz entre 46% e 78%.
“O estudo é uma contribuição importante para a correção dos modelos matemáticos usados para prever o ritmo de redução do gelo da ilha”, diz o glaciólogo Jefferson Simões, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera. Ele ressalta que os efeitos do aquecimento global sobre o gelo continuam valendo.
Segundo Andrew Shepherd, da Universidade de Leeds (Inglaterra) e um dos autores do trabalho, o estudo mostra que o gelo está mais seguro na Groenlândia do que o imaginado.
As previsões sobre o aumento do nível do mar – o IPCC (o painel da ONU para o clima) previa até 59 centímetro em cem anos – talvez tenham de ser revistas, diz ele. Especialmente porque a Groenlândia é uma das grandes vilãs da elevação do nível dos mares.
Isso porque, em razão da localização, suas geleiras ficam a uma temperatura muito próxima da de fusão do gelo. “É necessário muito menos calor para derreter o gelo da ilha do que, por exemplo, o da Antártida”, diz Simões.
Em 2007, o IPCC tinha causado polêmica ao estimar mais degelo do que o real. O órgão dizia que o gelo do Himalaia sumiria até 2035 – em 2010, o IPCC voltou atrás. (Fonte: Luiz Gustavo Cristino/ Folha.com)