Numa recente sexta-feira, na mesa de Jim Duffield, as janelas voltadas a oeste começaram automaticamente a se colorir de azul às 14h50 – enquanto o sol de inverno descia sobre a base das Montanhas Rochosas.
Em seu pequeno cubículo de trabalho repleto de plantas, um baixo zumbido de sons do ar emanava de alto-falantes no chão, tentando imitar o sopro dos sistemas convencionais de calefação e ar-condicionado – sistemas que o prédio de escritórios de 20 mil m2 não possui, ou precisa, mesmo numa altitude de 1.600 metros. O ruído genérico dos dutos de mentira existe apenas pelo ambiente e pela psicologia do espaço de trabalho – os gerentes acharam que os funcionários precisavam de algo além do silêncio.
Enquanto isso, o telhado fotoelétrico aproveitava a luz que desvanecia.
Desde as 13h35, ele vinha produzindo mais eletricidade do que o prédio consegue usar – um excedente de três horas de energia -, sendo interrompido apenas pela passagem de uma formação de nuvens, por volta do meio-dia.
Para Duffield, de 62 anos, era somente mais um dia no que foi projetado, nos mínimos detalhes, para ser o maior prédio comercial de energia zero no país.
Ele ainda está se adaptando, seis meses após se mudar – junto a outros 800 engenheiros, gerentes e funcionários do Laboratório Nacional de Energia Renovável – ao prédio de US$ 64 milhões, oferecido pela agência federal como um modelo de construção acessível e super eficiente em relação à energia.
“É um tipo de terra da fantasia”, disse Duffield, um funcionário de suporte administrativo, enquanto o sistema de sombreamento das janelas atingia o nível máximo.
Sob certos aspectos, a maioria dos prédios comerciais é divorciada de seus arredores. Cada dia nas trincheiras mecânicas do aquecimento, refrigeração e processamento de dados é basicamente igual ao anterior – mas com o custo de pagar pela energia utilizada.
O prédio de suporte à pesquisa do laboratório de energia é mais como um espelho, talvez uma esponja, em relação aos arredores. Das persianas móveis, que lançam raios de sol aos espaços internos, ao enorme labirinto de concreto no porão – que armazena calor -, cada dia é completamente único.
Esta é a história de um dia aleatoriamente escolhido na vida do novo edifício: 28 de janeiro de 2011.
Era um dia ensolarado, com temperatura acima da média e pico de 16 graus, ventos leves do oeste-noroeste. O sol nascera às 7h12 da manhã.
Naquele momento, o computador central já estava a todo vapor, rastreando cada watt que entrava e saía, procurando sempre o equilíbrio do uso zero ao longo de 24 horas – uma meta que, segundo os gerentes, não será atingida até o início do próximo ano, quando a terceira ala do projeto e um complexo de estacionamento estiverem prontos.
Com a luz do sol, a pulsação do prédio se acelera. Os painéis fotoelétricos começaram a trabalhar às 7h20.
Conforme os funcionários chegavam, o uso da eletricidade – de carregadores de celular a elevadores – começou a aumentar. A demanda total, incluindo a cota máxima de 65 watts por estação de trabalho, atingiu o pico às 9h40.
Enquanto isso, a central de dados no porão – que supre as necessidades de processamento para o terreno de 300 acres – estava a pleno vapor, atingindo o pico em uso de eletricidade às 10h10, enquanto e-mails e planilhas de pesquisas voavam pela rede.
Para Duffield e seus colegas, aquele era um momento de boas e más notícias: a central de dados é o maior usuário de energia no complexo, mas também um dos maiores produtores de calor – que é capturado e usado para aquecer o restante do edifício. Se existe um clube secreto para os “nerds” da energia no mundo, ele provavelmente se parece exatamente com isto.
“Nada neste prédio foi construído da maneira comum”, disse Jerry Blocher, gerente de projetos da Haselden Construction, a empreiteira geral do projeto.
O cenário para tudo aqui é que os prédios de escritórios, para pessoas como Blocher, são a fruta não-colhida da economia de energia. Edifícios comerciais usam, anualmente, cerca de 18 por cento da energia total do país, e muitos desses prédios, especialmente em anos passados, foram projetados praticamente sem considerar a economia de energia.
A solução do laboratório de pesquisa de energia, uma unidade do Departamento de Energia, não é uma ciência sensacional. Não existe nenhum enorme painel solar que possa mascarar a profusão dos tradicionais pecados de projeto, mas sim um repensar generalizado, até os menores elementos, tudo alinhado numa marcha watt por watt em direção a um novo tipo de construção.
Os gerentes inclusive se orgulham do fato de que quase nada em seu edifício, pelo menos em suas peças componentes individuais, é realmente novo.
A tecnologia de prateleira, econômica e eficiente em energia, foi o mantra para descobrir o que os projetistas chamam repetidamente de ponto adequado – energia zero que não dá trabalho e não custa caro. Mais de 400 grupos de visita – projetistas governamentais, empresas, arquitetos – passaram por aqui desde a chegada dos primeiros funcionários, no último verão.
“Tudo ali é tecnologia viável”, disse Jeffrey M. Baker, diretor de operações de laboratório do Departamento de Energia. “É um laboratório vivo”.
Algumas daquelas técnicas são antigas como as grandes catedrais da Europa (massa retém calor como uma bateria, o que levou ao labirinto de concreto do porão). A luz, como já sabiam os construtores das pirâmides, pode ser direcionada para suprir necessidades – com persianas enviando raios de sol a painéis brancos no teto do escritório, para minimizar a eletricidade.
Certamente, há algumas coisas com que os funcionários ainda estão se acostumando. Ao empurrar o prédio para a eletricidade zero ao longo de 24 horas, a iluminação era um alvo crucial. Isso forçou os projetistas a diminuir as divisórias dos cubículos a até 1 ou 1,40 metro (altura decidida por compasso, ou relógio de sol, para maximizar o fluxo de luz e ventilação naturais), gerando questões de privacidade entre os funcionários. Nem mesmo as salas dos gerentes possuem forro – novamente, para permitir o fluxo da luz natural vinda do telhado.
“O escritório aberto é diferente”, disse Andrew Parker, um engenheiro. “O melhor é ficar ao lado de pessoas calmas e silenciosas”.
Atingir o nível mais avançado em tecnologia verde a um custo razoável também exigiu diversas decisões criativas, grandes e pequenas. As colunas estruturais redondas, de aço, que mantêm o edifício de pé? Elas vieram de 900 metros de tubulações de gás natural – construídas para a antiga economia da energia, e nunca usadas. O adorno de madeira no saguão? Pinheiros do norte – 310 deles – mortos por um tipo de besouro que infestou milhões de acres de florestas no oeste.
No final, os custos de construção ficaram em apenas US$ 2.500 por metro quadrado, aproximadamente – quase US$ 770 abaixo do custo médio de um prédio comercial super eficiente, segundo números da Hedelsen Construction, a construtora. Outros componentes do projeto se baseiam na observação da natureza humana.
As pessoas imprimem menos documentos quando usam uma impressora compartilhada, que requer uma caminhada até a sala de impressão. Os funcionários também usam menos energia, segundo os gerentes, quando sabem o quanto estão usando. Um monitor no saguão exibe informações em tempo real, em oito medidas diferentes.
Essas informações chegam até o computador do funcionário, onde um pequeno ícone aparece quando o computador central do prédio diz que as condições são perfeitas para abrir a janela de abertura manual (outras janelas, de acesso mais difícil, abrem por comandos do computador).
Repensar os turnos de trabalho também pode contribuir. Aqui, a equipe de segurança chega às 17h00, duas ou três horas antes do que na maioria dos prédios comerciais, economizando no uso das luzes.
O gerenciamento do comportamento de energia, como a tecnologia, é uma experiência em andamento.
“Atualmente as pessoas estão em seu melhor comportamento”, disse Ron Judkoff, gerente de programa de laboratório. “O tempo nos dirá se é possível treinar realmente as pessoas, ou se um faxineiro ou algo assim começará a se mostrar”.
Se Anthony Castellano for a medida, o regime de treino está claramente enraizado. Castellano, funcionário do laboratório de pesquisa desde o ano passado, após anos na indústria privada, afirmou que a imersão em consciência energética o acompanha até mesmo quando ele sai do escritório.
“Meus filhos estão brigando comigo porque eu desligo todas as luzes”, disse Castellano.
Às 17h05, as células solares param de produzir. O declínio da luz do dia, por sua vez, produz um breve pico no uso de iluminação, às 17h55. Cinco minutos depois, o sistema de gerenciamento do edifício começa a desligar as luzes num ciclo ROLLING de duas horas (o computador avisa com algumas BLINKS amigáveis, como um sinal para o caso de um funcionário em hora-extra querer manter as luzes acesas).
Duffield, cujo espaço de trabalho é cercado por uma mini-estufa de plantas que ele mesmo trouxe, disse que sua mesa se tornou um ponto de parada regular nos grupos de visitantes. Se o prédio é um experimento vivo, diz ele, então seu jardim é um experimento dentro do experimento. Colegas param por ali, brincando a respeito das plantas – mas também conferindo-as, com seriedade, como medida de saúde do prédio.
“Eles se referem à minha mesa como o reservatório de carbono do edifício”, disse ele.
E os bebês de Duffield – diversos gêneros e espécies de flores – estão muito felizes com toda a luz refratada e refletida que recebem, segundo ele.
“Tenho uma flor tropical em minha casa que para de crescer durante o inverno”, disse ele. “Aqui ela continua crescendo; quando os dias começarem a ficar mais longos, ela provavelmente irá florir”. (Fonte: Portal iG)