A pesca com o uso de cianureto e o aquecimento das águas: os corais da baía indonésia de Pemuteran estavam condenados, até que uma mergulhadora tomou a iniciativa de ligá-los a uma corrente elétrica. Hoje, o recife está florido e o método vem sendo copiado em todo o mundo.
O cabo revestido de plástico preto corre sob a areia para reaparecer, um pouco mais longe sob as águas turquesas da lagoa. Repousando no fundo marinho, termina a corrida 10 m depois, ligado a um dispositivo metálico submarino onde foram dispostos os “bebês corais”, de alguns centímetros apenas. A estrutura foi instalada há alguns meses, mas as barras de ferro já estão cobertas de calcário, base essencial de cultura de um recife de coral.
Não longe dali, uma estrutura semelhante apresenta-se inteiramente coberta de corais gigantescos com cores cintilantes, fazendo, também, a felicidade de centenas de peixes que aí instalaram seu viveiro. Distingue-se, aí, uma gaiola metálica que sustenta o conjunto e que foi imersa há onze anos. “É extraordinário, não ?”, comenta orgulhosamente Rani Morrow-Wuigk, 60 anos. A australiana, de origem alemã, mergulhou pela primeira vez em 1992 na baía de Pemuteran, no norte da ilha indonésia de Bali, e ficou maravilhada com a beleza de seus corais.
Mas, no final dos anos 90, um aquecimento das águas acarretou o quase desaparecimento do recife, já agredido pela pesca com o uso de cianureto e dinamite. “Os corais estavam praticamente mortos, tornando-se um amontoado de saibro e areia”, lembra-se Rani. A mergulhadora encontrou, então, o arquiteto alemão Wolf Hilbertz que lhe falou de uma descoberta feita por ele nos anos 70: um procedimento que permitia, literalmente, “fazer crescer” materiais dentro do mar. Assim, ele afundou uma estrutura metálica e a ligou a uma corrente elétrica de voltagem fraca, portanto inofensiva, o que produziu eletrólise, provocando o acúmulo de calcário, numa espécie de construção espontânea.
Mas, ao testar sua invenção ao largo da Louisiana, Wolf Hilbertz percebeu que sua estrutura, ao final de alguns meses, tinha sido recoberta de ostras, que colonizaram o calcário acumulado. Experiências foram praticadas e o mesmo fenômeno se confirmou, também, para os corais. “Os corais se desenvolvem duas a seis vezes mais rapidamente. Chegamos a fazer crescer recifes em alguns anos”, disse à AFP Thomas J. Goreau, um jamaicano que, com a morte de Hilbertz, patenteou o procedimento com o nome de “Biorock”.
Os peixes de volta – Nesta descoberta genial, Rani viu uma oportunidade de salvar “sua” baía. Desde o ano 2000, ela instalou estruturas, primeiro com suas próprias economias, depois com a ajuda de Taman Sari, um centro de turismo situado em frente aos corais. São, agora, 60 “gaiolas” na baía de Pemuteran, estendendo-se numa superfície de dois hectares. Não apenas o recife ressuscitou, mas está ainda “melhor do que antes”, se entusiasma Rani.
A comunidade local também passou a se interessar. “No começo, os pescadores não queriam: ‘é meu oceano’, diziam eles”, como se lembra Komang Astika, instrutor de mergulho. “Mas, agora, veem que os peixes voltaram e que o turismo se desenvolveu”, acrescenta Komang, que administra o centro Biorock instalado em Pemuteran através de um programa de custeio chamado “Patrocine um bebê coral” (biorockbali.webs.com/).
Após o sucesso em Pemuteran, o projeto Biorock foi levado a cerca de 20 países, localizados no Pacífico, no oceano Índico, no Mediterrâneo… Na verdade, não apenas ressuscita os corais, mas torna-os mais resistentes, em particular contra o embranquecimento, devido ao aquecimento climático. “A taxa de sobrevivência é de entre 16 e 50 vezes superior”, explica Thomas Goreau.
Em Pemuteran, Rani Morrow-Wuigk aquiesce: “a temperatura da água subiu a 34 graus nos últimos dois anos, contra 30 normalmente. Apenas 2% dos corais morreram. Em 1998, eles morreram quase todos”. (Fonte: Portal Terra)