O módulo de pesquisa Criosfera 1, instalado no mês passado por cientistas brasileiros na Antártida, a 670 quilômetros (km) do Polo Sul da Terra, já está colhendo informações químicas da atmosfera e dados sobre as condições meteorológicas do continente. Os sensores acoplados ao contêiner do módulo medem a temperatura, umidade, velocidade do vento, o acúmulo de neve e de dióxido de carbono.
As informações são enviadas por satélite e processadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), e servirão para entender o comportamento das frentes frias com origem na região. O módulo, que tem vida útil de dez anos, permitirá também aos cientistas brasileiros estudar a redução da camada de ozônio, que ocorre mais intensamente nos polos do planeta.
Os dados obtidos com o módulo apoiam a pesquisa científica sobre o clima global. “Isso é muito importante porque como a Antártida é um dos lugares mais limpos da Terra, todos os sinais que tivermos lá são globais”, explica o geólogo Jefferson Cardia Simões, coordenador da equipe de 17 cientistas que em cerca de 30 dias levou o módulo para o interior do continente. Segundo Simões, “a Antártida é tão importante quanto a Amazônia para o clima mundial, pois o sistema ambiental é uno e indiviso”.
Além de entender o que ocorre no momento com o clima mundial, os cientistas brasileiros também participam de pesquisa com 22 países sobre a história climática da Antártida, onde colheram amostras das camadas de gelo em cilindros de 100 metros de comprimento. Cada 30 centímetros desses “testemunhos de gelo”, como chamam os pesquisadores, equivale a aproximadamente um ano, assim os cientistas podem verificar eventuais mudanças na composição do gelo nos últimos 300 anos – uma amostra que retrocede ao início da Revolução Industrial no século 18.
Em entrevista à Agência Brasil, Simões disse que a realização das pesquisas no continente são estratégicas. “Sabemos, cada vez mais, que o que importa é a qualidade da ciência e não simplesmente o fato de estar presente na Antártida. Nós temos que adquirir um status melhor na comunidade internacional que decide o futuro da região, nós temos que ter ciência de qualidade”, ponderou.
O Brasil mantém desde 1984 na Ilha do Rei George (a 2,5 mil km do local onde foi instalado o Criosfera 1), a Estação Antártica Comandante Ferraz. Na avaliação do geólogo, a fixação do módulo estabelece novo estágio do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). “Nós chegamos ao ponto de amadurecimento de fazer ciência de vanguarda na Antártida”, comemorou. Em dezembro (verão no Hemisfério Sul), os brasileiros voltarão ao módulo científico para fazer manutenção e instalar sensores que vão medir a recepção de raios violetas.
O equipamento instalado em janeiro pesa cerca de 4 toneladas e tem 12 metros de comprimento, é alimentado por energia solar e eólica, conforme a estação do ano. O Criosfera 1 foi desenvolvido durante 18 meses pelo Inpe, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Além dessas instituições, há pesquisadores no projeto vinculados à Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio Grande, Universidade Federal de Viçosa, ao Observatório Nacional do Rio de Janeiro, ao Centro de Estudos Científicos e Instituto Antártico Chileno.
O desenvolvimento e a instalação do módulo custaram R$ 2,5 milhões, recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por emenda da Frente Parlamentar em Apoio ao Proantar. Segundo Jefferson Cardia Simões, 80% do valor foram gastos com a logística de transporte e a instalação do equipamento. Por ano, serão gastos cerca de R$ 500 mil com a manutenção – há recursos assegurados por três anos. (Fonte: Gilberto Costa/ Agência Brasil)