O fim da vazante dos rios Solimões e Negro, que geralmente acontece no final de outubro e início de novembro, deverá se antecipar em 2012. A previsão é que ela se encerre já nos primeiros dez dias de outubro. Nesta semana, a média de descida do nível do rio Solimões tem sido de dez centímetros por dia.
A antecipação do fim da vazante tem relação direta com a antecipação da cheia, que em 2012 alcançou seu pico em maio e bateu o recorde em mais de 100 anos.
Na região do Alto Rio Solimões, na estação localizada no município de Tabatinga, a cota diária do rio está abaixo da vazante recorde de 2010. A expectativa é que seu fim se encerre nas próximas semanas. A calha do Solimões influencia diretamente no comportamento do rio Negro, em Manaus.
“Os níveis estão baixo lá em cima e isto vai acontecer também em Manacapuru nos próximos dias e em Manaus também. Mas dificilmente (a vazante) vai superar a de 2010”, disse o superintendente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Marco Antônio Oliveira.
Medição realizada diariamente na cota do rio Solimões por meio de uma régua instalada na estação do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) no município de Manacapuru indica que a descida das águas tem sido muito rápida. Medição da vazão também aponta que a perda do volume por segundo tem sido elevada.
Volume de água – Marco Antônio Oliveira classificou como “expressivo” o volume de água que está sendo escoando para o Oceano Atlântico, mas diz que esta quantidade é normal para o período.
Na quinta-feira (30), durante umas das várias medições da vazão (volume) realizadas na estação daquele município, apontou um escoamento de volume de água de 87 mil metros cúbicos por segundo. Isto equivale a 87 mil caixas d’água de mil litros. A medição da vazão vem sendo feita deste o último domingo (26) por especialistas da Agência Nacional de Água (ANA) e do CPRM com equipamentos modernos e de alta tecnologia.
Apesar da descida rápida, Oliveira estima que a vazante não será severa devido ao volume de água ainda acentuado em todos os rios. O fato incomum é a antecipação da vazante, situação que pode influenciar no sistema de produção agrícola que depende da variação do regime dos rios.
Agricultura – “Os agricultores esperam o rio descer para começar a plantação e para colher antes da cheia. Então, se a vazante iniciou antes, está com mais terra para plantar. Embora a vazante esteja rápido, a expectativa para o ano seguinte é que a cheia seja dentro da média. Isso significa que deve começar a inundar as áreas de várzea em março ou abril”, disse Oliveira.
A estação de Manacapuru é considerada ideal para fazer a medição do comportamento do Solimões porque é no local (a meia hora de lancha do porto do município) onde ocorre toda a descarga do rio, desde a sua nascente, nos Andes (Peru). “Aqui é um trecho retilínio do rio. Em 30anos, nunca mudou seu canal ou erodiu as margens”, disse Oliveira.
Curso – O monitoramento do Solimões nesta semana conta com a participação de 30 alunos do Amazonas e outras regiões e do exterior do curso internacional de medição em descargas líquidas em grandes rios. Os funcionários são vinculados a órgãos públicos e instituições de pesquisa e a maioria está conhecendo a bacia amazônica pela primeira vez. Fabrício Vieira Faria, hidrólogo da ANA e um dos instrutores do curso, disse que o curso explica as diversas metodologias para se medir a vazão do rio Solimões.
Os alunos têm as aulas durante o dia todo, em dois barcos deslocados até a área onde ocorrem as medições da vazão. Eles acompanham todo o processo de medição diária realizada de ponta a ponta das margens do rio Solimões. O curso promovido pela ANA e pela CPRM já ocorre há 20 anos, com participantes que participam de seleção.
Faria explicou que o processo de medição e de análise fornece parâmetros para identificar os regimes hidrológicos e eventos extremos como grandes cheias e grandes secas.
“O objetivo treinar técnicos e engenheiros ligados à área de hidrologia sobre medição em grandes rios. Ele apresenta técnicas utilizadas há 30 anos e técnicas atuais. Isto é importante porque todas as obras hídricas, o controle de desastres naturais, o acompanhamento de estiagens e cheias estão ligadas diretamente à séries históricas criadas por essas medições”, disse o instrutor. (Fonte: Elaíze Farias/A Crítica/AM)