Ir à praia deixou de ser apenas uma maneira de diversão e descanso para cientistas da Universidade de São Paulo (USP).
Em vez de apenas colocar a cadeira e os pés na areia para descansar, eles decidiram investigar a vida que existe entre os grãos de sedimentos.
O objetivo dos pesquisadores do Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar) é divulgar a existência de seres minúsculos, impossíveis de serem vistos a olho nu e inofensivos a humanos, mas que podem ser grandes colaboradores na manutenção da qualidade da água e na indicação de problemas ambientais, como a poluição de ambientes marinhos.
São organismos menores que um milímetro que vivem em um ecossistema chamado de meiofauna. De cores e formatos diferentes, alguns até com aparência assustadora, esses pequenos bichos podem ser encontrados em qualquer parte dos oceanos. Já são 15 mil espécies descobertas, o que representa cerca de 10% do total esperado — ou seja, há muito que descobrir.
“São seres importantes e são aplicados em diferentes processos, como a decomposição de matéria orgânica e na remineralização (reciclagem de nutrientes), função importante para alimentação de espécies como os fitoplânctons”, explica Fabiane Gallucci, pós-doutoranda em Biologia Marinha no Cebimar e uma das autoras do vídeo “Vida entre grãos”, elaborado pela instituição para explicar a meiofauna ao público em geral.
Para exemplificar a quantidade de organismos que podem ser encontrados em uma pequena quantidade de sedimentos, Fabiane afirma que se uma pessoa encostar a mão na areia da praia e verificar a existência de grãos na palma da mão, nessa pequena quantidade podem existir, pelo menos, 600 “bichinhos” de diferentes espécies. Mas não se preocupe, porque esses bichos não são parasitas humanos.
Qualidade do ambiente – Em projeto realizado no Litoral Norte de São Paulo, os pesquisadores querem verificar como essas espécies podem contribuir para monitorar a qualidade da água.
Análises feitas no Canal de São Sebastião, faixa de mar existente entre as cidades de São Sebastião e Ilhabela usada como rota de navios, vão ajudar os cientistas a melhorar a aplicabilidade dessas espécies para verificar os níveis de poluição naquela área.
Segundo Fabiane, o canal de São Sebastião sofre com a emissão de esgoto doméstico das duas cidades (lançados no mar) e com a contaminação por meio de tintas utilizadas em navios. “Os organismos da meiofauna funcionariam como bioindicadores dos poluentes. Alterações de comportamento das espécies poderiam indicar problemas, (…) mas o que estamos fazendo no momento são testes”, explica.
De acordo com Álvaro Migotto, vice-diretor do Cebimar/USP, não perceber que esses organismos podem ser contaminados por algum problema ambiental representaria uma contaminação expandida para diversas cadeias alimentares. Para ele, divulgar mais detalhes sobre esse ecossistema no Brasil é uma forma de incentivar a pesquisa, já que existe, segundo ele, pouco material sobre o assunto. (Fonte: Eduardo Carvalho/ Globo Natureza)