A mudança climática é uma ameaça para tudo, de plantações de café às raposas do Ártico, e até mesmo um aumento moderado das temperaturas mundiais vai ser prejudicial para plantas e animais em algumas regiões, disseram especialistas nesta quarta-feira (19).
Habitats como os recifes de coral ou a região do Ártico estão entre os mais vulneráveis ao aquecimento global, afirmaram cientistas em uma conferência em Lillehammer, sul da Noruega, organizado pela Global Biodiversity Information Facility (GBIF).
Quase 200 governos concordaram em 2010 com uma meta de limitar o aquecimento global a menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais, visto como um limiar para mudanças perigosas, como secas, inundações, desertificação e elevação dos níveis dos mares.
“Com 2 graus você tem impactos. A ideia de que 2 graus é um nível seguro realmente não se sustenta”, disse Jeff Price, coordenador da Iniciativa Wallace, um grupo internacional que busca modelar os efeitos das mudanças climáticas sobre 50.000 tipos de plantas e animais.
“E quando você começa a ir além dos 2 graus, os impactos sobre a biodiversidade começam a aumentar rapidamente em grande parte do mundo”, afirmou ele. Gases de efeito estufa pela queima de combustíveis fósseis são a principal causa do aquecimento, de acordo com um painel científico da ONU.
Café “deslocado” e animais sob pressão – Price disse que plantações de café da Colômbia, por exemplo, teriam que ser deslocadas para altitudes mais elevadas e para encostas mais sombreadas ao norte conforme as temperaturas sobem. Isso poderia colocar o café em maior competitividade com os habitats de animais e plantas tropicais raros.
Na Escandinávia, a raposa do Ártico está entre os animais sob pressão desde que a mudança climática passou a reduzir a disponibilidade de sua principal presa, o lêmingue. E as raposas vermelhas, maiores do que suas primas do Ártico, estão migrando para o norte conforme as temperaturas sobem.
Temperaturas mais quentes também são uma ameaça para muitas plantas do norte. O mirtilo do norte, por exemplo, pode ganhar nichos, tais como na costa da Groenlândia, nas próximas décadas, mas perderá áreas muito maiores para o sul.
“Não há muitos lugares para onde as plantas do norte possam se mudar. O Ártico é principalmente oceano”, disse Inger Greve Alsos, da Universidade de Tromsoe, na Noruega. “Esperamos uma perda de variedade para muitas plantas.”
Adaptação à nova realidade – Price, da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, disse que um pico nas emissões globais de gases de efeito estufa nos próximos anos, o mais tardar em 2030, ajudaria a ganhar tempo para a ajuda às espécies a se adaptarem à mudança climática.
“No geral, você reduz pela metade os impactos à vida selvagem se deixar as emissões atingirem seu pico nos próximos anos, em comparação às políticas que permitem que elas continuem subindo”, explicou ele. Mas os benefícios não seriam sentidos mundialmente.
Um pico antecipado nos gases de efeito estufa daria o maior alívio para os animais em locais como a bacia do Amazonas, sul da África, sul da Austrália, partes da Rússia e da Ásia.
Plantas também se beneficiariam mais nos Andes, sul da África e na Austrália, de acordo com a modelagem da Iniciativa Wallace, nomeada em homenagem ao naturalista britânico Alfred Russel Wallace, coautor com Charles Darwin da teoria da evolução em 1858.
Os governos têm o objetivo de chegar a um pacto até 2015 para desacelerar a mudança climática, com a entrada em vigor até 2020. China, Estados Unidos, Índia e Rússia são os principais emissores nacionais de gases de efeito estufa. (Fonte: G1)