Um estudo divulgado nesta quinta-feira indica que o aquecimento global foi um agente direto para extinções no início do Triássico, entre 252 milhões e 247 milhões de anos atrás. Ao analisar isótopos de oxigênio, os pesquisadores afirmam ter descoberto que a temperatura em regiões equatoriais chegou a níveis letais, principalmente nos oceanos, onde devastou algas e fez com que a maioria dos peixes e répteis marinhos (ictiossauros) fugissem para regiões mais frias. A pesquisa, afirmam os cientistas, indica que as mudanças climáticas podem ser um agente direto de extinções, e não apenas indireto, e que a velocidade do atual aquecimento do planeta é compatível com a do período. O trabalho foi divulgado na revista especializada Science, da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) de sexta-feira.
No final do Permiano ocorre aquela que talvez tenha sido a maior extinção em massa que já ocorreu. A teoria mais aceita para esta extinção é a que põe a culpa nas chamadas armadilhas siberianas, grandes erupções vulcânicas que liberaram gases tóxicos e de efeito estufa, que fizeram o planeta sufocar. O problema no período era a anóxia, a falta de oxigênio, e a acidificação na água.
No início do período posterior, o Triássico, há uma falta de formação de carvão (constituído por restos de seres vivos), o que indica que ocorreu grande extinção na época também. Agora, pesquisadores da China e da Europa fizeram uma medição da temperatura no início do Triássico e descobriram que o calor pode ter sido tão intenso que matou diretamente muitas espécies.
A temperatura durante a extinção em massa do permiano ficou em média em 30°C nos mares. Contudo, as armadilhas siberianas podem ter continuado a ejetar gases de efeito estufa na atmosfera, o que fez com que os 5 milhões de anos seguintes, o início do Triássico, fossem ainda mais quentes. A água, afirmam os cientistas, chegou a incríveis 40°C – para se ter ideia, hoje a temperatura média na superfície oceânica varia entre 25°C e 30°C. Algas podem ter morrido diretamente por não conseguir fazer fotossíntese. Além disso, acima de 35°C, animais marinhos não conseguem oxigênio suficiente – e quanto maior e mais ativo o animal, mais oxigênio ele vai precisar. Só sobreviveram seres muito pequenos, que suportaram o calor. Os demais foram “jogados” para regiões mais frias, próximas dos polos.
Os pesquisadores explicam que, para descobrir as mudanças de temperatura no período, estudaram a relação de isótopos de oxigênio, que mudam com a temperatura, em registros fósseis. “Esse índice é uma flutuação entre as temperaturas e a razão isotópica de oxigênio da água salgada. Podemos então calcular a temperatura da época com uma equação”, explica ao Terra Yadong Sun, das universidades de Geociências da China e de Leeds (Reino Unido).
Contudo, Sun afirma que no Permiano, mesmo que a temperatura não tenha sido tão extrema, ela contribuiu para a extinção em massa. “Nós dizemos que um aumento de temperatura coincide com a extinção em massa do fim do permiano. Mas isso não necessariamente sugere que o aquecimento foi a causa principal (…) nós dizemos que a temperatura aumentou rapidamente, mas chegou a apenas por volta de 30°C no final do Permiano. Nós sugerimos que ‘fatores sinergéticos, como o aumento da anóxia, podem ter um papel importante na extinção marinha'”.
Em um artigo separado da revista, David J. Bottjer, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), não envolvido no estudo, afirma que esse tipo de pesquisa ajuda a entender as consequências do aquecimento pelo qual passamos. Ele afirma que nos próximos 100 anos a Terra pode ter um “clima estufa”. “O oceano do futuro não vai apenas ser mais quente, mas mais ácido e vai ter grandes zonas com oxigênio reduzido”, diz.
Essa crise, afirmam os autores do estudo, pode servir de alerta ao mundo, já que, segundo Sun, “a velocidade do aquecimento antropogênico (causado pelo homem) é provavelmente comparável ao aquecimento do final do Permiano.” (Fonte: Portal Terra)