A agricultura deverá diversificar seus métodos de produção para enfrentar as mudanças climáticas, que levarão a mudanças pequenas ou radicais, segundo as regiões, advertem especialistas reunidos em uma conferência internacional no Uruguai.
Em relação às “mudanças climáticas e à segurança alimentar, a escala do problema é enorme, por isso a adaptação vai exigir pequenas mudanças em alguns locais, mas em outros vai depender de uma adaptação total”, disse à AP Bruce Campbell, Diretor do Programa de Pesquisa sobre mudanças climáticas do Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR).
As mudanças climáticas e seus efeitos sobre a produção agrícola mundial são um dos temas centrais da Segunda Conferência Mundial sobre Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Agrícola para o Desenvolvimento (GCARD), que é realizada até esta quinta-feira na cidade de Punta del Este (140 km a leste de Montevidéu).
Produtores de todo o mundo “veem que estão acontecendo coisas muito estranhas com o clima, de modo que não se trata de 2030, 2040 ou 2050. O problema é hoje, já, são mudanças muito extensas com as estações que começam em momentos diferentes, (como) um ano com muita chuva, outro com seca”, entre outras mudanças, explicou.
Para Campbell, diante da dimensão do problema, “nenhuma solução pode ser descartada: os transgênicos são uma solução em certos locais e a agricultura orgânica é uma solução em outros”.
Em algumas zonas do planeta será insuficiente implementar mudanças nos mecanismos de produção e alguns cultivos precisarão ser descontinuados, comentou Campbell. Por exemplo, na Nicarágua “agora se produz café e é provável que em 20 anos já não seja possível plantá-lo, sendo necessário mudar”, sustentou.
“Há muitos exemplos de que a agricultura está fazendo as coisas de forma errada, então as soluções podem ser a intensificação da agricultura, mas tem que ser algo sustentável, o que significa diminuir a poluição com nitrogênio, não destruir a capacidade dos solos”, entre outras medidas, concluiu o especialista.
No âmbito das organizações sociais, Marcio Lima, representante da Cáritas Brasil, considerou que as soluções passam por “pensar e elaborar novas formas de produção de alimentos”, mas acredita que estas devem ser como as plantações agroecológicas e experiências orgânicas, que estão sendo implementadas em vários pontos do Brasil, e que têm os pequenos agricultores locais como protagonistas.
Uma das prioridades que os agricultores devem perseguir para cuidar do meio ambiente e da sustentabilidade de seus cultivos será mudar “a matriz produtiva muito baseada nos insumos agrícolas”, como os agroquímicos.
Lima comentou que o Brasil se encaminha para fechar o terceiro ano consecutivo como “campeão no uso de agrotóxicos”.
“Em 2011, pelo segundo ano consecutivo, batemos o recorde do país que mais consome agrotóxicos no mundo” e esta realidade deverá mudar se as comunidades pretendem contribuir para frear a deterioração do meio ambiente, assegurou.
O certo é que “estamos lidando com um fenômeno global que tem impacto no local”, refletiu, por sua vez, Walter Oyhantcabal, diretor do grupo de mudanças climáticas do ministério de Agricultura, Pecuária e Pesca uruguaio.
Para Oyhantcabal, os países devem centrar seus esforços em gerar alianças que facilitem a busca de soluções diante do problema. (Fonte: Portal iG)