O maior achado arqueológico da era colonial encontrado no centro de Lima é exibido na forma de uma “pequena Pompeia” e guarda vestígios de quatro séculos de história e cinco fases construtivas diferentes, que vão desde a época pré-hispânica até o primeiro século de independência do Peru. Assim explicou Carlos Castillo, presidente da Empresa Municipal Imobiliária de Lima (Emilima), encarregada de restaurar a casa de Juan Francisco de la Bodega y Quadra, um comerciante negro do século 18 em cuja casa foram encontradas mais de três toneladas de restos arqueológicos.
Entre esses restos, foram encontrados mais de 500 objetos que serão expostos na própria casa, que foi transformada em museu para mostrar, “neste achado único”, a evolução dos habitantes de Lima “em pleno coração da cidade, atrás do Palácio do Governo e à margem esquerda do rio Rímac”. Dessa forma, a seis metros de profundidade, os visitantes passeiam pelo entrecruzado urbano de Lima colonial, atravessam vários de seus arcos, contemplam o poço que havia no jardim da casa e apreciam o Muro de Tajamar, que na parte posterior “servia para conter as cheias do rio”.
Entre os demais achados, se destacam as peças de cerâmica que traçam toda uma trajetória histórica desta arte em Lima, iniciada com o singelo estilo pré-hispânico, melhorada com a maior complexidade dos acabamentos coloniais e importada mais tarde com adornos mais elaborados de China, Inglaterra, França e Itália. No entanto, o que mais chamou a atenção dos arqueólogos foi a denominada majólica do Panamá, um tipo de cerâmica que foi “encontrada em grande quantidade” e que segundo disse o diretor da escavação, Miguel Fhon, “seria a prova de que esta apreciada variedade de cerâmica não era feita no Panamá como se pensava, mas era produzida no Peru”.
Também foram localizados “pratos de cerâmica chinesa pertencentes à dinastia Ming, que chegaram a Lima por contrabando procedente do que agora é o México, já que a importação dessas peças estava proibida durante o vice-reinado”, explicou. O complexo também incluía restos da adjacente Igreja dos Desamparados, destruída no século 19 para dar lugar à estação de trem e que agora serve como Casa da Literatura e, além disso, guardava vestígios de atividades econômicas próximas ao imóvel no começo do vice-reinado como um mercado, um açougue e fornos de fundição.
“Daí encontramos pesos utilizados em balanças, vasilhas e tornos, mas na casa também havia objetos do século 19 como joias, perfumes franceses, pentes e escovas de dentes”, comentou. No início, a casa pertencia à família De la Cueva, mas Tomás de La Adega y Quadra, um comerciante espanhol que chegou a ser cônsul de Lima, a adquiriu dois anos depois do terremoto que assolou a capital no vice-reinado em 1746.
Mais tarde, a residência passaria a ser de seu filho Juan Francisco, que além de comerciante descobriu a ilha de Vancouver (Canadá) e “utilizou o subsolo, agora descoberto no imóvel, como um armazém para os produtos que comercializava, como o pisco, entre outros”, assinalou Carlos Castillo. Pela descoberta que o levou até o Alasca, “a comunidade de residentes canadenses no Peru doará ao museu, um busto do personagem para colocá-lo no pátio de onde foi sua casa em Lima”, apontou Castillo.
Segundo Castillo, vestígios como os desta casa existem em “muitos outros lugares” de Lima e “é apenas questão de localizá-los e trabalhar neles, sobretudo nos jardins de alguns palácios que também requerem uma restauração similar”, e que podem esconder mais sobre o passado da “cidade dos reis”. (Fonte: Portal Terra)