Na fazenda de Aroldo Borges, 71, é preciso sempre direcionar o olhar para baixo e ter cuidado onde se pisa. Afinal, ali, está um dos poucos criadores legais de jabutis no Brasil, segundo o Ibama.
São mais de 5.000 animais, que passam a maior parte do dia escondidos do sol do sertão baiano. Em Baixa Grande (252 km de Salvador), a chuva forte não vem há dois anos.
Os jabutis, que se diferenciam da tartaruga e do cágado sobretudo por não serem aquáticos, são negociados no mercado pet do Brasil e do exterior.
Em 2012, Borges vendeu cerca de 3.500 unidades.
O preço depende do tamanho, que vai de 5 cm a 15 cm. Em média, uma unidade dos animais adultos custa R$ 150 e é revendida a R$ 350.
Borges diz que o investimento no criadouro já alcançou R$ 1 milhão em 12 anos. Ele não revela lucros e diz que o gasto só com a comida dos bichos seria de R$ 70 mil ao mês.
Mas, para reduzir as despesas, intensificou a plantação dos principais alimentos dos animais: frutas e palma -leguminosa da família do cacto.
“Se não fossem as intempéries da natureza, hoje eu estaria bem financeiramente. Porém, ainda não tenho o retorno que deveria ter”, afirma. A forte estiagem, que prejudica o nascimento dos filhotes, é a principal queixa.
Jabuti chinês – Também pesa a crise econômica internacional, responsável pelo fim das exportações para EUA e Europa.
“Tem três anos que não pedem nada. Agora estou na mão dos chineses. Espero que continuem com crescimento acelerado e o dólar um pouco mais alto”, declara.
Nascido em Baixa Grande, onde herdou a fazenda Jenipapo do pai, Borges recebe encomendas por e-mail, em inglês, por meio de seu site.
Reconhece ter desconfiado, no início, do interesse asiático. Mas comemora: se americanos e europeus pediam um máximo de 200 animais por viagem, compradores de Hong Kong e Taiwan encomendam até mil por vez.
O pagamento é sempre antecipado e o procedimento, menos burocrático em relação ao mercado interno. Não é necessário o implante de chip, embora também precise do atestado de veterinário e de embalagem especializada.
A situação só não é melhor porque, devido à seca, não conseguirá atender toda a demanda. Há risco de os ovos que estão no sol se perderem.
Questionado sobre a finalidade de jabutis na China, diz não acreditar que seja consumo humano, embora isso ocorra inclusive em regiões da Amazônia.
“É exótico para eles [chineses] terem em casa. Ainda há muitas lendas envolvendo o bicho.”
Segundo ele, o animal é visto como um “para-raios”, atraindo energias ruins e deixando as boas para o dono.
Borges também alimenta a crença popular em torno de suas crias, ecoando a história de que ajudam a combater rinite e asma. “Coincidência ou não, fiquei curado após ter os primeiros contatos com os jabutis”, diz.
O objetivo do criadouro, então, seria ajudar a salvar a espécie, sobretudo das queimadas no sertão (“eles caminham muito devagar, é uma crueldade”).
“Vendi os rebanhos que eu tinha, as vacas leiteiras, para apostar nisso”, finaliza. (Fonte: Nelson Barros Neto/ Folha.com)