Ataques de tubarão se multiplicam nas praias da Ilha Reunião

A multiplicação de ataques de tubarão perturba a vida na ilha Reunião, no Oceano Índico, um fenômeno atribuído à imprudência dos surfistas, à poluição das águas e até mesmo à abundância de comida desde a criação de uma reserva natural onde a pesca está proibida.

A única certeza é que a população de peixes seláceos aumentou e que os ataques causaram cinco mortos desde 2011.

Em uma das praias, l’Ermitage, em La Saline, Georges, de 48 anos, passa as férias em sua ilha natal e não esconde seu assombro. “Sempre se falou em tubarões na Reunião. Quando era pequeno, nossos pais já nos advertiam do perigo”, diz.

Mas “há pouco tempo se fala muito do tema na metrópole porque os ataques se multiplicaram”, acrescenta este homem, que mora na região de Lyon (leste da França).

Não é um acaso sua família ter escolhido esta praia da costa noroeste da ilha, protegida por um recife de coral, para passar as férias. “Pelo menos, temos certeza de que os tubarões não vêm à lagoa”, explica.

A presença de tubarões, que suscita debates acalorados, aparece como a outra crise que a ilha sofre há anos, somando-se às dificuldades sociais, em vista de que o fenômeno afeta muitas pessoas: banhistas de fim de semana, turistas, esportistas de alto nível, pescadores, funcionários do setor turístico, serviços de Estado, militantes associativos…

Os defensores dos seláceos se opõem aos partidários de uma limitação de seu número mediante caças regulares.

Desde 2011, foram registrados na Reunião cinco ataques mortais de tubarão (e vinte desde 1980), o que alimenta temores de uma má fama que afugente o turismo.

“É uma publicidade que teríamos preferido evitar”, lamenta o diretor de uma agência de comunicação especializada em turismo.

Ainda mais quando as duas últimas vítimas de ataques de tubarão foram dois turistas da França continental: um surfista de 36 anos em lua-de-mel e uma jovem de 15, atacada a apenas dez metros da costa.

O debate sobre o recente aumento da população de seláceos diante da costa da ilha aborda as causas desta proliferação: uns acusam o lançamento no mar de águas residuais de áreas cada vez mais urbanizadas; outros questionam a Reserva Marinha Natural da Reunião. Criada em 2007, esta é uma faixa marítima de 40 km de comprimento, onde a pesca é proibida ou estritamente regulamentada.

“Essa reserva se tornou a despensa dos tubarões”, denuncia um surfista. Os seláceos “se sedentarizam no local onde sabem que podem se alimentar”. Uma constatação compartilhada por Thierry Robert, deputado e prefeito da comuna insular de Saint-Leu.

As soluções para enfrentar a “crise dos tubarões” também são objeto de polêmica.

O representante da Fundação Brigitte Bardot (dedicada à proteção dos animais), Didier Derand, recorreu à justiça para impugnar as caças decididas pela prefeitura. “A ONG Sea Shepherd, com influência internacional, se encarregou do caso, porque é necessária uma sensibilização mundial contra a matança de tubarões”, diz.

O Conselho Regional da Reunião se declarou disposto a financiar balões aéreos equipados com câmeras de vigilância e meios de alerta quando detectarem movimentos na água.

A prefeitura da cidade de Saint-Paul optou por “drumlines”, armadilhas fixas submersas e equipadas de iscas. A prefeita e deputada Huguette Bello mencionou recursos destinados exclusivamente para “medidas de prevenção”. Seu colega, Thierry Robert, defende as “caças preventivas”. “Ninguém ocupa agora o setor, os tubarões ocupam o vazio e se sentem em segurança”, lamenta.

Surfistas e amantes de outros esportes marítimos se recusam a ser sacrificados em nome da defesa dos animais. “É preciso parar o lobby mundial que defende a proteção dos tubarões”, reforça Jean-François Nativel, secretário-geral da associação Oceano Prevenção Reunião (OPR). “É preciso dissipar os tabus, fazer reviver a tradição anterior à proibição da pesca. Deve-se voltar a pescar e que o tubarão volte aos pratos reunioneses, que seja considerado um peixe qualquer”.

O presidente do comitê de pesca reunionês tem suas dúvidas. “Não estou certo de que os reunioneses voltem a degustar carne de tubarão. Quem aceitaria comer um peixe imaginando que talvez aquele que está no seu prato devorou um ser humano?”, questiona. (Fonte: Terra)