O Greenpeace informou nesta sexta-feira (27) que vai recorrer da decisão de um tribunal russo de manter 30 de seus integrantes detidos, a maioria por 60 dias. A organização não governamental (ONG) de proteção ao meio ambiente destacou que é esta a primeira vez que um país responde de forma tão agressiva a um protesto pacífico.
Os 30 membros da tripulação do quebra-gelo do Greenpeace “Artic Sunrise”, interceptado no Ártico por autoridades russas quando fazia uma manifestação, foram colocados sob detenção por um tribunal de Murmansk, no noroeste russo, anunciou a ONG nesta sexta-feira.
“Vamos lutar para conseguir a libertação dos ativistas por todos os meios legais possíveis”, declarou o advogado do Greenpeace Anton Beneslavski, durante coletiva de imprensa.
“O grupo não está intimidado, e nossos advogados vão recorrer”, ressaltou a organização em comunicado.
Interceptação do quebra-gelo – O Arctic Sunrise foi interceptado no dia 19 de setembro por um grupo da guarda costeira russa e rebocado até Murmansk.
Os tripulantes do barco estão sendo investigados por “pirataria”, crime que pode ser punido com até 15 anos de prisão no país, pela tentativa de abordar uma plataforma da empresa Gazprom no Ártico para protestar contra os projetos de extração de petróleo na região.
“Dos 30, 22 ficarão detidos durante dois meses, e oito durante três dias”, informou o Greenpeace.
Entre os tripulantes, há 26 estrangeiros de 18 nacionalidades, incluindo a bióloga brasileira Ana Paula Maciel, e quatro russos, incluindo o repórter fotográfico Denis Siniakov.
A comissão de investigação russa justificou a medida considerando que os militantes poderiam fugir da Rússia caso fossem libertados.
Caso inédito desde Rainbow Warrior – Entre os detidos, também está o capitão do navio do Greenpeace, o americano Peter Willcox, que ocupava o mesmo posto à frente do barco Rainbow Warrior em 1985, quando a embarcação da ONG foi afundado pelo serviço secreto francês.
“O que aconteceu com o Arctic Sunrise é o ato mais agressivo desde a explosão do Rainbow Warrior”, que custou a vida de um fotógrafo, considerou nesta sexta o diretor do Greenpeace na Rússia, Ivan Blokov.
“Essas decisões da Justiça são uma relíquia de outra época, assim como a indústria petroleira russa”, disse Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace International.
“Nossas atividades nada têm a ver com a pirataria, todo o mundo entende, inclusive o presidente Putin”, ressaltou Blokov.
O presidente russo, Vladimir Putin, que participa nesta sexta de um fórum internacional sobre o Ártico, admitiu na quarta (25) que os 30 tripulantes do barco do Greenpeace não são piratas, mas que “essa gente violou as normas da lei internacional”.
“Ele expressou seu ponto de vista, agora cabe à comissão de investigação encarregada do caso”, comentou seu porta-voz, Dmitri Peskov, citado pela agência russa Interfax.
Repercussão – O porta-voz da empresa Gazprom, Sergei Kuprianov, declarou na quinta (26) que o Greenpeace agiu “de forma totalmente ilegal”.
“Compreendemos que nossos atos podem ser qualificados como infração administrativa, mas não crime”, insistiu o advogado do Greenpeace Anton Beneslavski.
A ONG Repórteres sem Fronteiras se declarou “surpresa” com a prisão preventiva do fotojornalista Denis Siniakov, que trabalhou para a AFP em Moscou.
“Denis Siniakov foi detido no exercício de sua atividade profissional, e sua prisão é uma violação inaceitável da liberdade de informação”, informou a Repórteres sem Fronteiras.
Meios de comunicação russos, como a rádio Eco de Moscou e o site Gazeta.ru, anunciaram que não publicarão fotos em sua página inicial em solidariedade a Siniakov, segundo noticiou a agência Interfax.
“A detenção por dois meses de Denis Siniakov será um precedente para o jornalismo na Rússia”, considerou nesta sexta o jornal “Vedomosti”.
“O trabalho profissional do jornalista que cobre inundações, greves ou uma manifestação da oposição é muitas vezes interpretado pela polícia (russa) como uma violação da lei ou cumplicidade”, prosseguiu o jornal.
O periódico “Kommersant” ressaltou, por sua vez, a fraca mobilização das embaixadas estrangeiras, “que não estão com pressa para protestar após a prisão de seus cidadãos”.
Já o jornal pró-Kremlin “Izvestia” afirmou que, sob a lei russa, o navio do Greenpeace pode ser confiscado. (Fonte: G1)