Nos últimos anos, as notícias sobre ciclones devastadores parecem estar se tornando mais frequentes. Mas, segundo o meteorologista Christian Herold, do Serviço Meteorológico da Alemanha, essa constatação é enganosa. “Nas últimas décadas não há uma tendência clara em relação à frequência de ciclones”, afirma.
Segundo o especialista, isso ocorre porque os dados disponíveis abrangem um curto período, já que desde apenas algumas poucas décadas é possível medir ciclones por satélite.
Ciclones tropicais são classificados por meteorologistas de acordo com a sua intensidade, em uma escala que mede a velocidade de seus ventos dividida em cinco categorias, sendo a quinta a mais violenta.
Além da velocidade, a escala abrange a precipitação e os prejuízos causados. Com uma velocidade de mais de 350 km/h, o tufão Haiyan foi classificado na categoria 5. “Um ciclone com a velocidade que atingiu as Filipinas nunca havia sido observado”, diz o pesquisador Friedrich-Wilhelm Gerstengarbe do Instituto para Pesquisa sobre Efeitos Climáticos de Potsdam. Ele diz que o Haiyan absorveu muito vapor d’água, o que ocasionou chuvas intensas e enchentes.
Um ciclone tropical surge quando a água do mar, numa temperatura de ao menos 26°C, evapora. O vapor se condensa, o ar se aquece e sobe, empurrando ar frio para cima. A rotação da terra faz com que essa corrente de ar gire. Quando o ciclone atinge a costa, ele libera toda a energia acumulada sobre a terra.
Mais força – A maioria dos pesquisadores concorda que não houve um aumento na frequência de ciclones nas últimas décadas. Mas, segundo Gerstengarbe, a capacidade de destruição deles ficou maior. “Surgem mais ciclones tropicais avaliados na categorias 3, 4 ou 5.”
Em 2008, pesquisadores liderados por Thomas Jagger, da Universidade do Estado da Flórida em Tallahassee, escreveram um artigo no qual afirmam que principalmente a velocidade dos ciclones tropicais sobre o Atlântico aumentou nos últimos 30 anos.
Já o cientista Kerry Emanuel, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, concluiu que principalmente os ciclones sobre o noroeste do Pacífico elevaram sua força de destruição.
Outros não veem tendência alguma e dizem que os estragos são maiores hoje porque os valores dos seguros aumentaram.
Para Mojib Latif, do Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica (Geomar) em Kiel, não é surpresa vários estudos apresentarem resultados diferentes. Segundo o pesquisador, a base de dados para fenômenos raros, como ciclones, é muito ruim. Ele compara a situação com dados viciados.
“É preciso jogá-los várias vezes para descobrir se eles estão ou não viciados”, diz o pesquisador. No caso dos ciclones, dá-se o mesmo: se de fato existe uma tendência, vai levar um certo tempo até que ela seja constatada.
Com o aquecimento do mar devido às mudanças climáticas, há a possibilidade de que os ciclones se tornem mais violentos no futuro. “Há regiões onde a temperatura do oceano aumentou significativamente, por exemplo no Caribe e no local onde surgiu o Haiyan”, diz Gerstengarbe. Segundo ele, a temperatura da água lá é de 30°C, antigamente chegava apenas a 28°C.
Mudanças climáticas – Quanto mais a água se aquece, melhores são as condições para a formação de ciclones, diz o meteorologista Sven Plöger. “Quanto mais quente o mar, mais umidade se acumula na atmosfera, e ela é a energia para esse fenômeno”, explica. Ou seja, quanto mais quente o mar fica, maior é a possibilidade da existência de ciclones mais fortes.
Mas Herold reforça que esses são apenas modelos. “O sistema é muito complexo. Ainda não é possível saber até que ponto um aumento de temperatura influencia realmente a força do ciclone, ou se há uma compensação por outro processo. É possível que outros parâmetros na atmosfera, que impedem a formação de um tufão, modifiquem-se em decorrência da elevada temperatura da água”, acrescenta o pesquisador.
Mas Latif reconhece que a força de Haiyan foi surpreendente. Ele percebeu o fenômeno como um sinal de alerta e pergunta: “Nós queremos arriscar que esse modelo esteja certo ou não?” Ativistas exigem que as emissões de dióxido de carbono sejam reduzidas para evitar a formação de ciclones.
Ainda é difícil evitar a destruição causada por ciclones. Sistemas de alerta auxiliam a curto prazo. Meteorologistas conseguem prever a chegada de um ciclone com até quatro dias de antecedência. Mas a evacuação de uma região onde moram muitas pessoas em poucos dias é quase impossível.
Segundo Plöger, é preciso refletir se não seria o momento de impedir que pessoas voltem a morar nesses locais. “Nunca teremos 100% de segurança. Com ciclones como esse sempre haverá riscos”, completa. (Fonte: Terra)