A ativista brasileira Ana Paula Maciel, uma das 30 pessoas do Greenpeace que foram presas na Rússia durante um protesto contra a exploração de petróleo no Ártico em setembro, desembarcou neste sábado (28) no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, por volta das 7h30. Depois da conexão, ela seguiu rumo a Porto Alegre, onde deve passar o Ano Novo com a família.
“Minha vida mudou. Foi uma tremenda injustiça, uma tentativa frustrada de calar um protesto pacífico e a liberdade de expressão”, afirmou, logo após o desembarque. “Eu espero que o mundo tenha aprendido com isso, porque nem os russos esperavam a reação do mundo para nos libertar, para nos proteger.” Ela ainda acrescentou que as muitas horas de voo desde São Petersburgo, com conexão em Frankfurt, não foram nada perto das horas que passou na solitária, durante a prisão. “Foram 12 horas de viagem no avião da minha liberdade”.
Para Ana Paula, o sacrifício foi válido. “Valeu a pena porque agora muito mais pessoas sabem o que está acontecendo no Ártico. E a gente vai continuar denunciando e mostrando, porque a gente faz isso há 40 anos.” Segundo a ativista, a missão no Ártico ainda não terminou. “A gente não vai parar até que eles devolvam nosso navio e a gente tenha um santuário no Ártico.”
Sobre a Rússia, ela disse que é “um país lindo, com pessoas maravilhosas” e que a ação do Greenpeace nunca foi contra o país, mas contra as petroleiras. “Eles entenderam mal o que aconteceu”, acrescentou. A bióloga ainda agradeceu o apoio. “Eles pensaram que podiam fazer com a gente o que eles fazem com todos os que fazem protesto pacífico, que eles calam, espezinham, mantêm na cadeia por anos, mas o mundo estava junto com a gente e eu não tenho palavras para agradecer isso.”
Ana Paula recebeu o visto de saída da Rússia nesta sexta-feira (27). Na quarta, ela havia recebido do governo russo o documento que garantia a interrupção das investigações do crime de vandalismo, pelo qual ela e seus companheiros haviam sido acusados.
Novas ações – Em entrevista ao G1 concedida a partir de São Petersburgo, a brasileira disse que, por enquanto, não tinha uma nova ação planejada, mas deve voltar a uma embarcação da organização ambientalista tão logo esteja descansada do período em que passou presa.
Ana Paula ainda se preocupa com o que acontecerá com o navio que levou os ativistas até a plataforma da empresa Gazprom no extremo norte do globo. “Não temos ideia de quando pretendem devolver o navio. É um processo. Metade do meu coração fica em Murmansk, pois o barco era nossa casa. Nos últimos 5 anos, vivi uns 3 anos dentro dele”, calculou.
A bióloga ainda lamentou que a ação do Greenpeace não tenha impedido a companhia russa de explorar o petróleo na região ártica. “É um ciclo vicioso. As empresas exploram o petróleo, o uso de combustíveis fósseis aquece o planeta, fazendo o gelo do Ártico recuar e permitindo que áreas cada vez mais ao norte sejam exploradas”, disse.
Anistia – Um decreto aprovado pelo parlamento russo no dia 18 – que concedeu anistia a presos por atos de vandalismo – beneficiou o grupo do Greenpeace, que vem sendo chamado pela organização ambiental como os “30 do Ártico”.
Os 28 ativistas e 2 jornalistas freelancers tentavam escalar uma plataforma petroleira da Gazprom no dia 19 de setembro, para protestar contra a exploração do Ártico, quando foram surpreendidos pela polícia russa, que prendeu toda a tripulação do navio Arctic Sunrise.
O grupo permaneceu detido durante dois meses, primeiro sob a acusação de pirataria e, em seguida, sob a acusação de vandalismo. Em novembro, eles receberam o direito de responder ao processo em liberdade mediante pagamento de fiança. Desde então, estavam livres na cidade de São Petersburgo, mas sem poder deixar o país. (Fonte: G1)