Carros elétricos ganham ronco falso

Christoph Meier, engenheiro de som da Daimler AG, empresa-mãe da Mercedes-Benz, está acostumado a passar o tempo tornando o barulho dos motores menos chocantes. Para os novos modelos elétricos da empresa, ele deverá fazer o contrário: criar o ruído.

Para o carro urbano e-Smart, da Daimler, Meier e sua equipe inventaram um “ronco sonoro” emitido a um volume mais alto que o dos veículos elétricos convencionais, enquanto o SLS AMG Coupe Electric Drive, da Mercedes, que vale 416.500 euros (US$ 569.600), usa sons mais roucos para mostrar sua força.

“As pessoas esperam algum barulho exterior de um veículo, porque todos nós crescemos com o ‘vrum vrum’ dos motores de combustão”, disse Meier, que supervisiona 250 pessoas como chefe de acústica de trens de força da empresa com sede em Stuttgart, Alemanha.

A Daimler não está sozinha na decisão de acrescentar ruído aos carros elétricos. A Renault SA oferece a possibilidade de escolha do tipo de som do carro – puro, glamour e esportivo – para o hatchback Zoe e o Leaf, da Nissan Motor Co., o carro elétrico mais vendido, também vem com som artificial. O problema se tornou mais crítico para as fabricantes porque os órgãos reguladores querem exigir o uso do barulho para efeito de alerta já no ano que vem, em um momento em que o lançamento de cada vez mais modelos requer que as empresas busquem maneiras de se destacarem.

O ruído sintético dos motores, como o dissonante e estridente zumbido “glamour” da Renault, pode salvar vidas e ao mesmo tempo proteger investimentos em carros elétricos. Os veículos quase não emitem som em baixa velocidade, o que os transforma em uma ameaça silenciosa potencial para ciclistas e pedestres, acostumados a reagir diante do ronco de um motor. Com os carros elétricos já enfrentando dificuldades para ganhar popularidade, uma série de acidentes pode reduzir ainda mais a demanda.

“Se um veículo elétrico silencioso atropelar um idoso ou uma criança, não vale o risco”, disse Neil King, analista da Euromonitor em Londres. “Isso acontece com certa frequência em áreas urbanas, onde as pessoas atravessam a rua sem olhar. Não dá para fugir disso”.

Embora ainda não existam dados a respeito de ferimentos causados por veículos elétricos, a União Europeia toma a ameaça com seriedade suficiente para propor uma lei que torne obrigatórios os sons acústicos de alerta, e são esperadas diretrizes globais para o início de 2014, segundo a associação alemã de autopeças, a VDA.

A maioria dos veículos elétricos é silenciosa a velocidades menores que 30 quilômetros por hora. A partir daí, os barulhos dos pneus e do vento entram em ação. Embora acrescentar barulhos ao motor a velocidades mais baixas possa ajudar a evitar acidentes, a medida também enfraquece uma das vantagens de venda dos veículos elétricos.

“Uma das grandes vantagens competitivas dos veículos elétricos é a ausência de ruído”, disse Stefan Bratzel, diretor do Centro de Gerenciamento Automotivo da Universidade de Ciências Aplicadas de Bergisch Gladbach, Alemanha. “Ter cidades mais silenciosas é um objetivo justificável”.

O ruído do Smart imita o barulho de um motor de combustão que fica mais forte à medida que o motorista pressiona o pedal e mais alto quando o carro acelera. A fabricante alemã equipará os modelos elétricos da Mercedes com um sistema semelhante. O dilema real é desenvolver o ruído apropriado.

“Imitar, simplesmente, o barulho de um motor de combustão não era uma opção”, disse Ralf Kunkel, chefe de acústica da Audi, que desenvolveu um som para o híbrido plug-in A3 E-tron, que será lançado no ano que vem. “Nós descartamos as ideias de dar aos veículos elétricos sons de pássaros cantando ou folhas sendo agitadas”. (Fonte: Exame.com)