A reativação da sonda espacial Rosetta, que deve pousar em um cometa, e a chegada do satélite Gaia a sua órbita, para produzir um verdadeiro censo galático, marcaram apenas o início de um ano de grande expectativa para a exploração espacial. “Nunca se desvendou tanto sobre o universo onde vivemos, mas sabemos que estamos apenas arranhando a superfície. O futuro será brilhante para a astronomia, a astrofísica e a cosmologia, e 2014 promete seguir neste sentido”, afirma Lúcio Marassi, doutor em cosmologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e especialista em cosmologia computacional pelo Instituto de Astrofísica de Paris.
A Pesquisa de Energia Escura (DES) foi criada para sondar a origem da expansão do universo e ajudar a descobrir a natureza da energia escura medindo a história de 14 bilhões de anos da expansão cósmica com alta precisão. Mais de 120 cientistas de 23 instituições nos Estados Unidos, Espanha, Reino Unido, Brasil e Alemanha se envolveram no projeto, que construiu uma câmara digital de 570 megapixels extremamente sensível, a DECam, e a montou no telescópio Blanco, no Chile. “É o projeto mais atraente na minha área. E neste ano sairão os primeiros resultados desse projeto”, diz Marassi.
Rosetta – Lançada em 2004, a Missão Rosetta, da Agência Espacial Europeia, tem o objetivo inédito pousar em um cometa. O escolhido foi 67P/Churyumov-Gerasimenko, que viaja entre as órbitas da Terra e de Júpiter. Em janeiro, a sonda “acordou” após ter permanecido em modo de “hibernação” por 957 dias. A missão se aproximará do alvo em agosto e, depois de análises e estudos iniciais, lançará uma sonda para monitorar as alterações desse corpo em sua jornada em direção ao Sol. Examinando a composição do cometa e suas transformações, esse estudo pode ajudar a entender a evolução do universo.
Gaia – É uma das missões mais audaciosas e caras da história da exploração espacial. A Gaia pretende produzir um mapa tridimensional da Via Láctea, um esforço de 1 bilhão de euros que conta com a colaboração de cientistas de diversos países para investigar 1 bilhão de estrelas da nossa galáxia. O satélite atingiu sua órbita em janeiro, mas seus dados devem começar a produzir resultados a partir de 2017.
Estação Espacial Internacional – Uma boa notícia para a Estação Espacial Internacional foi anunciada em janeiro: a Nasa estenderá sua missão na ISS, que iria até 2020, por mais quatro anos. As outras agências envolvidas nas operações da ISS, porém, ainda não anunciaram se terão missões na estação após 2020. Outra boa notícia é que, na metade deste ano, uma impressora 3D será enviada pela primeira vez à ISS. Com ela, os astronautas poderão criar ferramentas e peças sobressalentes. A ideia é economizar com os custos de envio de equipamento até a estação e criar tudo que for possível de lá mesmo. Se tudo der certo, uma versão permanente da impressora será enviada em 2015.
Astronomia e estatística – A astronomia sempre esteve muito ligada à física, tanto nos temas de pesquisa quanto na proximidade geográfica dos institutos e departamentos, lembra Emille Ishida, doutora em física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especialmente porque a obtenção de dados em astronomia era muito difícil. “Entretanto essa situação mudou radicalmente nas últimas décadas, e agora nós enfrentamos praticamente o problema oposto”, explica Emille. “Com o advento de grandes levantamentos de dados, somos inundados com novas informações o tempo todo e, consequentemente, a interação com a estatística se torna imprescindível. Acredito que uma colaboração devidamente orquestrada entre estatística e astronomia tem um enorme potencial cientifico, e o início de grupos de trabalho interdisciplinares é a minha maior expectativa para 2014”. Um dos resultados recentes dessa aproximação é o International Astrostatistics Association (IAA), grupo de pesquisadores de todo o mundo que busca facilitar a troca de experiências entre essas áreas.
Oficialização do Brasil no ESO – Firmado em dezembro de 2010, um acordo de participação do Brasil no Observatório Europeu do Sul (European Southern Observatory, ESO), o mais avançado do mundo, foi celebrado por grande parte da comunidade astronômica. Além de possibilitar o acesso a toda a infraestrutura do ESO e de seus observatórios, o ingresso do Brasil permitiria uma possível participação em contratos para a construção do European Extremely Large Telescope (E-ELT), que será o maior telescópio óptico/próximo infravermelho do mundo, com 39 metros de diâmetro e a capacidade de procurar planetas exosolares com condições de vida, medir a propriedade das primeiras estrelas e tentar desvendar a natureza da matéria escura e da energia escura.
Mais de três anos depois, no entanto, o projeto, que custará aproximadamente R$ 1,1 bilhão ao longo de 11 anos, ainda espera aprovação do Legislativo. Tramitando na Câmara dos Deputados, o projeto PDC 1287/2013 aguarda parecer da Comissão de Finanças e Tributação. A demora preocupa a comunidade acadêmica brasileira e a organização do ESO, que conta com o País para financiar o novo telescópio. Do custo de 1 bilhão de euros (aproximadamente R$ 3 bilhões), 1/3 viria da contribuição brasileira. “Isso representaria um passo significativo para a astronomia brasileira e para o desenvolvimento no Brasil de tecnologias associadas à construção de grandes telescópios”, explica Roig.
Voos privados – Pouco tempo atrás, o turismo espacial ainda gerava grande desconfiança entre especialistas e curiosos. No ano passado, entretanto, o cenário se modificou: novos testes bem-sucedidos, anúncios e parcerias levam a crer que, em um futuro bem próximo, seres humanos poderão deixar a Terra e voltar a salvo para contar a aventura espacial para amigos e familiares. E o primeiro passo para essa tendência pode ser dado em agosto de 2014, data prevista para o início das operações comerciais da Virgin Galactic.
Após mais um teste bem-sucedido de seu SpaceShipTwo em janeiro deste ano, o dono da empresa, o bilionário britânico Richard Branson, se disse otimista: “Eu não poderia estar mais feliz de começar o ano novo com todas as peças visivelmente em seu lugar para o início de voos espaciais completos. Assim, 2014 será o ano em que vamos, finalmente, colocar a nossa bela nave espacial em seu ambiente natural, o espaço”. Ainda refém de possíveis atrasos técnicos, o voo suborbital (altitude pouco acima de 100km), com transmissão ao vivo pela televisão nos Estados Unidos, terá o dono da companhia acompanhado de seus dois filhos, Holly e Sam.
“Voos turísticos que não atingem a órbita não têm nada a ver com exploração espacial. Voos suborbitais são uma novidade, e seu mercado a longo prazo é ainda incerto. Mas eles são um passo importante para um feito tecnicamente muito mais difícil de ser alcançado: o voo privado orbital”, afirma John Logsdon, ex-diretor do instituto de política espacial em Washington.
Grupo de ação contra asteroides – O impacto de um corpo espacial de 17 a 20 metros de diâmetro em Chelyabinsk, na Rússia, em 15 de fevereiro de 2013, soou como um alarme para as agências espaciais: qual é o plano de ação caso um asteroide de grande porte entre em rota de colisão com a Terra? Em fevereiro de 2014, pela primeira vez, ocorrerá uma reunião entre peritos de agências espaciais de todo o planeta para tratar do assunto. Sua tarefa é coordenar as competências e capacidades para missões destinadas a lidar com corpos celestes que um dia poderiam atingir nosso planeta. Dos mais de 600 mil asteroides conhecidos do Sistema Solar, mais de 10 mil são classificados como objetos próximos da Terra, ou NEOs, porque suas órbitas podem os trazer relativamente perto do nosso caminho.
Na órbita de Marte – Em setembro, dois orbitadores devem se juntar às missões humanas em Marte: o Maven, da Nasa, e o Mars Orbiter, da Agência Espacial Indiana. A missão americana deve chegar à órbita do planeta vermelho dois dias antes da indiana, no dia 24. O Maven pretende estudar a atmosfera de Marte e descobrir por que a água do planeta se perdeu ao longo do tempo. Já a missão do Mars Orbiter é demonstrar a tecnologia necessária para a concepção e o desenvolvimento de operações futuras entre planetas. (Fonte: Terra)