Dezenas de cientistas brasileiros retomaram neste verão austral suas pesquisas na Antártica, paralisadas desde o incêndio que destruiu a base do país no continente branco em 2012.
Esperançosos com a possibilidade prosseguir com os experimentos, ao menos em instalações temporárias de emergência, aguardam ansiosos o início da construção da nova Estação Comandante Ferraz.
Embora nenhuma empresa tenha se apresentado à licitação para construir a nova base, o governo garante que ela estará pronta em março de 2016.
Nas instalações temporárias que servem de quartel-general para os cientistas até a inauguração da nova base, “a principal dificuldade que temos é o espaço”, declarou à AFP o biólogo Marcio Tenorio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que investiga a evolução de organismos como o fitoplâncton na Antártica.
“Na antiga estação tínhamos quatro laboratórios agora temos dois: o de química e o multi-uso. Antes, dois grupos ocupavam o mesmo laboratório, agora são quatro”, explicou o cientista.
Tenório e seus colegas chegaram à Antártica a partir de novembro, e agora, com o fim do verão austral, devem retornar ao Brasil depois de concluir seus experimentos sobre o meio ambiente, as influências do clima antártico no Brasil e fenômenos glaciais com impacto global.
A nova temporada científica começará no próximo verão, 2014-2015, quando retornarão aos módulos de emergência.
Um incêndio provocado por um vazamento de combustível destruiu em fevereiro de 2012 70% da estação, situada na ilha Rei George, arquipélago das Shetland do Sul. Dois militares brasileiros morreram enquanto tentavam controlar as chamas.
Da antiga base restaram apenas edifícios anexos, como o laboratório de química, onde se refugiaram os pesquisadores que estavam trabalhando no dia do acidente.
Instalados em 2013, os módulos temporários têm alojamentos para 66 pessoas, entre cientistas e pessoal de apoio, além de banheiros, lavanderia, enfermaria, cozinha, refeitório e secretaria com computadores conectados à internet.
Dois geradores alimentados por um combustível especial anticongelante produzem eletricidade e calefação para todo o complexo.
O projeto da nova estação foi apresentado em outubro de 2013 no Rio de Janeiro. A um custo de R$ 145,8 milhões (62 milhões de dólares), prevê a construção de 200 módulos com capacidade para 64 pessoas no verão e 34 no inverno.
A nova estação terá 18 laboratórios internos, sete unidades isoladas para pesquisas de meteorologia, ozônio e atmosfera, assim como biblioteca, refeitório e um moderno sistema anti-incêndio para evitar a propagação das chamas.
A previsão era que os módulos fossem construídos no Brasil, transportados de navio à Antártica e instalados no verão austral de 2014-2015.
Mas nenhuma empresa se apresentou à licitação aberta para a construção da base.
O contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, máxima autoridade da Comissão Interministerial de Recursos do Mar, que gerencia o Programa Antártico Brasileiro, anunciou recentemente que a base estará pronta em março de 2016.
“Estamos averiguando porque aconteceu isso (a ausência de empresas na licitação) e em dois meses deverá ser aberta uma nova licitação”, afirmou em uma coletiva de imprensa em Punta Arenas (Chile), ressaltando a possibilidade de que empresas estrangeiras participem da consulta.
“Quando aconteceu o incêndio (entre 1h00 e 02h00 de 25 de fevereiro de 2012), eu estava dormindo porque tinha que fazer uma coleta de amostras no dia seguinte. Quando acordei com o alarme, pensei que fosse uma simulação. Só vi a proporção (do acidente) quando saí e me refugiei com outros cientistas no laboratório de Química”, relatou o oceanógrafo espanhol José Juan Barrera Alba, de 38 anos, residente no Brasil há 14.
Apesar do susto, Alba, que também estuda o fitoplâncton no continente gelado, voltou à Antártica, quer virar a página e diz estar muito esperançoso com a construção da nova estação.
A Estação Comandante Ferraz foi inaugurada em fevereiro de 1984 e nos últimos dez anos recebeu mais de 30 missões científicas de universidades brasileiras.
Nos últimos 10 anos, segundo dados oficiais, uma média anual de 250 cientistas por ano estiveram na Antártica, seja na base ou acampados em barracas em outros quatro refúgios (mini-estações) que o Brasil mantém, assim como em cooperação com bases estrangeiras. (Fonte: Terra)