Machismo torna furacões com nome de mulher mais letais, aponta estudo

Os furacões com nomes femininos podem matar três vezes mais porque as pessoas os percebem como menos ameaçadores do que as tempestades com nomes masculinos.

A conclusão foi obtida por cientistas, que publicaram seus resultados na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a “PNAS”. O estudo abrangeu mais de seis décadas de furacões atlânticos.

Esses fenômenos são nomeados segundo uma ordem pré-determinada e alternada que não tem nada a ver com a força da tempestade. Os cientistas desenvolveram este sistema nos anos 1970 para evitar uma percepção influenciada por gênero.

Pesquisadores da Universidade de Illinois analisaram dados sobre as fatalidades relacionadas a cada furacão que tocou a terra nos EUA entre 1950 e 2012.

“Comparativamente, estima-se que um furacão com nome masculino cause 15,15 mortes, enquanto se calcula que um furacão com nome feminino cause 41,84 mortes”, destacou o estudo. “Em outras palavras, nosso modelo sugere que mudar o nome de um furacão severo de Charley para Eloise pode triplicar sua letalidade”, acrescentou.

Katrina ficou de fora da análise – Os cientistas desconsideraram duas grandes tempestades em suas análises – os furacões Katrina (2005) e Audrey (1957) – porque mataram um grande número de pessoas e poderiam distorcer os resultados. “Ao julgar a intensidade de uma tempestade, as pessoas parecem aplicar suas crenças sobre o comportamento masculino e feminino”, explicou o coautor do estudo, Sharon Shavitt, professor de marketing.

“Com isto, um furacão com nome de mulher, especialmente um com um nome muito feminino, como Belle ou Cindy, parece mais suave ou menos violento”, prosseguiu. “Esta é uma descoberta muito importante”, disse Hazel Rose Markus, professor em ciência comportamental na Universidade de Stanford, que não participou do estudo. “Isto demonstra que nossas associações com base cultural determinam nossos passos”, prosseguiu.

Antes da decisão de dar nomes alternados feminino e masculino, os furacões só recebiam nome de mulher, uma prática surgida da crença de que as tempestades, assim como as mulheres, seriam imprevisíveis.

O meteorologista Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que o fenômeno climático é resultado da combinação de alta temperatura na superfície do oceano, elevada quantidade de chuvas e queda da pressão do ar (sistema que favorece uma subida mais rápida do ar e uma constante evaporação da água do mar).

“Esse sistema costuma se formar em áreas próximas à Linha do Equador. Sem ventos inicialmente, o calor do oceano (2 ºC a 3 ºC acima do normal) provoca uma evaporação rápida da água, formação de nuvens e de chuva. Com a precipitação, a temperatura ao redor da nuvem aquece e provoca uma queda da pressão atmosférica na superfície do mar. Na prática, isso provoca ventos favoráveis à formação de chuva”, disse.

Ele explica ainda que, com a queda da pressão do ar, os ventos se intensificam e começam a se movimentar no oceano (em espiral), podendo atingir o continente.

Categorias de furacões – Os furacões se dividem em cinco categorias de força pela escala Saffir-Simpson. Fenômenos classificados na categoria 1 têm ventos de até 152 km/h. Tempestades com ventos entre 153 km/h e 176 km/h estão na categoria 2.

Furacões com ventos entre 177 km/h e 207 km/h são classificados na categoria 3. Foram classificados neste patamar os fenômenos Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005, e matou 1.700 pessoas, e Glória, que 1985 atingiu a região da Carolina do Norte e Nova York e causou oito mortes.

Na categoria 4, os ventos têm velocidade entre 209 km e 250 km. Já os furacões classificados na categoria 5 são aqueles que registram ventos com velocidade acima de 251 km/h, de acordo com o meteorologista do Inmet. (Fonte: G1)