A abertura de barragens na Grande São Paulo é apontada pela ONG SOS Mata Atlântica, pela Prefeitura de Salto e por um pesquisador do Cepta (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Tropicais), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, como o fator responsável pela mancha negra e pela mortandade de peixes registrada nesta quinta-feira (27) no trecho do rio Tietê, que corta a cidade de Salto, no interior de São Paulo. O diagnóstico contesta a informação da Cetesb de que a grande quantidade de chuvas seria responsável pelos fenômenos. As instituições também criticam o fato de o parecer da companhia ter sido divulgado antes que laudos atestassem a causa do problema.
De acordo com nota divulgada pela Cetesb, a mancha negra e a morte de peixes ocorreu devido a um “fenômeno natural, decorrente das fortes chuvas que promoveram o carreamento de resíduos dispostos no solo, em corpos d’água afluentes e no próprio leito do rio pela correnteza”. “Trata-se de um processo recorrente quando ocorrem chuvas intensas, especialmente após longos períodos de estiagem”, informou a companhia. A Cetesb confirmou nesta sexta o parecer.
Nesta sexta-feira (28), um dia depois de registrar água com tonalidade preta, o rio Tietê apresentou coloração marrom no mesmo trecho da cidade de Salto, além de espuma em vários pontos do manancial durante a manhã.
De acordo com a ambientalista Malu Ribeiro, que integra a ONG SOS Mata Atlântica, a mancha indica que houve transferência de sedimentos presentes em outros trechos do rio, especialmente da Grande São Paulo. “Esses sedimentos geralmente ficam em barragens, são acumulados durante muitos anos. O que provavelmente ocorreu é que uma série de barragens foram abertas para evitar alagamentos e esses sedimentos saíram da capital e foram rumo ao interior”, disse.
O secretário do Meio Ambiente de Salto, João De Conti Neto, concorda e afirma que teve acesso a informações que apontariam a abertura das barragens instaladas ao longo do rio. “Abriram as comportas e essa sujeira de décadas chegou até nós”, afirmou.
Simplista – Já de acordo com Paulo Sérgio Ceccarelli, pesquisador e biólogo do Cepta (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Tropicais), a posição da Cetesb deveria ter sido divulgada somente após a realização de laudos para determinar a causa da morte dos peixes. “É muito simplista dizer que os peixes morreram por conta da queda de oxigênio causada pelas chuvas. Há uma série de fatores que podem causar a morte e a queda da oxigenação, inclusive produtos químicos e metais pesados”, diz.
Apesar disso, o especialista afirmou que a mortandade de peixes em pequena escala, pode ser considerada normal com as primeiras chuvas. “O mateterial se acumula na beira dos rios e riachos e, quando chove, esse material se mistura à água e consome oxigênio, causando mortes. A mancha negra que vi em Salto tem essa característica, mas não é rotineira. O que deixa a gente revoltado é não ter sido feita uma análise da composição daquela mancha negra para determinar sua composição. E nem análise dos peixes mortos”, completa.
Barragens – A versão da ONG e da Prefeitura de Salto, se confirmada, não seria a primeira oportunidade na qual a abertura de barragens causou mortandade de peixes no Tietê. Há 12 anos, a abertura das comportas das barragens de Santana de Parnaíba e de Pirapora do Bom Jesus, administradas pela EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), causou os mesmos problemas. Na ocasião, o Ministério Público autuou a empresa, que pagou multa.
Procurada, a Cetesb manteve a informação, divulgada na nota de quinta-feira, responsabilizando as fortes chuvas pela ocorrência e acrescentou que “por volta das 22h” de quinta, “a quantidade de sólidos sedimentáveis nas águas do Rio Tietê em Salto era de 75ml a 80ml por litro de amostra de água coletada”, quantidade que “representa menos de 10% dos 900 ml de sólidos sedimentáveis constatados em episódio anterior verificado em Salto há alguns anos. Esse dado reforça a posição inicial da Companhia que trata-se de um processo recorrente, consequência das fortes chuvas”. Na mesma nota, entretanto, a Cetesb reconhece que, no fim da tarde de quinta-feira, a situação do manancial já apresentava melhoras em relação ao período mais intenso da mancha, que foi durante a manhã.
Já a EMAE informou, em nota, que “a operação das barragens sob sua responsabilidade é feita de acordo com as regras vigentes para o controle das vazões”. (Fonte: UOL)