Quem passa em frente à Rua Nova Pátria, em Cotia (SP), não imagina o que acontece no galpão que fica ao lado de uma quadra de esportes. Parte do que é descartado pela população da cidade ganha o destino certo: a reciclagem. No local funciona a Coopernova Cotia Recicla, cooperativa fundada em 2008 que reúne 32 participantes (22 mulheres e dez homens).
No galpão, com o apoio de apenas duas prensas e uma empilhadeira, eles reciclam, por mês, cerca de 40 toneladas de papelão; 30 toneladas de papel misto; 10 toneladas de vidro; três toneladas de embalagens cartonadas (caixas de leite, sucos e molhos), 1.500 quilos de latas de alumínio, e centenas de componentes de lixo eletrônico (monitores, computadores, impressoras e mouses).
Referência EducaRES – A Coopernova foi uma das cooperativas contempladas pelo projeto “Lixo Eletrônico e Responsabilidade Socioambiental”, apoiado pelo Fundo Socioambiental Caixa e realizado pelo Instituto GEA – Ética e Meio Ambiente, reconhecido como prática de referência EducaRES, ferramenta digital do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Desde a sua criação, em 2013, a EducaRES vem divulgando ações que ajudem a enfrentar os desafios da implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei 12.305/10) proporcionando aos gestores, catadores de material reciclável e cidadãos em geral, a oportunidade de buscar boas iniciativas de todas as regiões do País. Atualmente existem 200 iniciativas cadastradas na plataforma.
Objetivos – O projeto, que foi iniciado em julho de 2013 e terminou em julho deste ano, teve como objetivo principal gerar renda para cooperativas de catadores, a partir da capacitação técnica dos cooperados e estruturação física das cooperativas para processamento adequado de resíduos eletrônicos (computadores, impressoras e mouses).
Além disso, a iniciativa teve como meta colocar à disposição da população uma forma ambientalmente segura e socialmente justa de destinar seus equipamentos eletrônicos sem uso; facilitar a inserção das cooperativas na logística reversa dos resíduos eletroeletrônicos (REE), uma diretriz da PNRS e do Decreto 7.404/10; e reduzir o risco de contaminação do meio ambiente por resíduos tóxicos.
Inspiração – De acordo com estudo desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA/ONU), o Brasil apresenta-se como maior produtor per capita de lixo eletrônico entre países emergentes e em desenvolvimento, resultando em 96,8 mil toneladas de lixo eletrônico ao ano – sendo o setor bancário um grande consumidor de equipamentos eletroeletrônicos.
Tendo em vista a abrangência nacional da Caixa, a sua ampla rede de atendimento e os avanços tecnológicos, a instituição identificou que o estoque de equipamentos eletroeletrônicos sem uso era elevado, o que demandava uma solução ambientalmente correta. Paralelamente, também constatou que as cooperativas não estavam preparadas para executar essa atividade.
Somando a isso, havia a necessidade de atender ao marco regulatório de resíduos sólidos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece a responsabilidade compartilhada na destinação final dos REE (fabricantes, distribuidores e consumidores), além do estímulo à participação de catadores no processo de gestão resíduos sólidos. A partir de todas essas questões, a Caixa resolveu desenvolver o projeto em parceria com o GEA.
Capacitações – O projeto apresentou resultados em todos os aspectos da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Foram estruturadas e capacitadas sete cooperativas (localizadas em São Paulo, Salvador, Recife e no Distrito Federal) para coletar, processar e comercializar resíduos eletrônicos, utilizando parte de resíduos da Caixa.
Foram capacitados 79 catadores pelo Instituto GEA, apoiado pelo Laboratório de Sustentabilidade da Universidade de São Paulo (Lassu). As capacitações abordaram os seguintes temas: riscos de contaminação durante a manipulação de resíduos eletrônicos, gestão administrativa do negócio e internalização de informações sobre toda a documentação necessária para comercializar esse material com empresas certificadas.
Segundo a presidente da Coopernova, Marli Monteiro, a partir das capacitações os cooperados passaram a trabalhar com mais segurança e mais higiene. “O descarte e o manuseio corretos das embalagens proporcionam mais saúde e mais renda ao trabalhador”, afirmou. “Ao higienizar as embalagens antes de descartá-las, a população mostra uma preocupação com quem vai trabalhar com elas”.
Lixo eletrônico – Após as capacitações técnicas, as cooperativas foram equipadas com ferramentas, mobiliário e equipamentos de segurança, para que pudessem atuar com os resíduos eletrônicos de forma profissionalizada e segura.
Foi só a partir desse momento que a Caixa passou a destinar os seus resíduos eletrônicos a essas cooperativas, que fizeram sua desmontagem e venderam os componentes para empresas especializadas, que fornecem documento comprovando a destinação final adequada. Segundo Marli Monteiro, durante a vigência do projeto a cooperativa passou a receber cerca de 300 monitores e 300 CPUs por mês da instituição.
Todos os cooperados que integram as cooperativas tiveram um aumento da renda proveniente da reciclagem do lixo eletrônico. Marli conta que os cooperados da Coopernova recebem, em média, renda de R$ 1.500,00 e que boa parte do valor vem desse tipo de material, normalmente muito procurado pelo mercado. “Não é só uma questão de valor”, enfatizou. “O lixo eletrônico é um dos que mais traz danos ao meio ambiente.”
Foram também colocadas à disposição do público 26 caixas coletoras nas regiões contempladas para resíduos eletrônicos provenientes da população, em condomínios residenciais e comerciais, mercados, aeroportos, empresas públicas e privadas.
Resultados – No total, 17.965 equipamentos eletrônicos foram destinados pela Caixa às cooperativas e 300 doados pela população. A comercialização desses equipamentos, após tratamento adequado, gerou um total de R$ 220 mil para as cooperativas. O descarte adequado desses equipamentos permitiu que pelo menos duas toneladas de chumbo fossem recicladas, evitando a contaminação do meio ambiente.
Segundo a presidente do Instituto GEA, Ana Maria Luz, o projeto só teve resultados positivos e serviu como exemplo a outras empresas, pois demonstrou, na prática, que é viável considerar as cooperativas de catadores como destinatários dos seus resíduos eletrônicos.
Essa ação socioambiental tem um grande alcance e beneficia não só os catadores, mas a população em geral. “Adotando esse mesmo procedimento, as empresas podem ainda antecipar-se à entrada em vigor da política nacional de resíduos sólidos, implementando a logística reversa de eletrônicos com viés social”, destacou.
Considerando os resultados exitosos do projeto, a Caixa iniciará uma segunda fase, que consistirá na expansão para Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Goiânia, além de Brasília, Recife, Salvador e São Paulo. Serão tratados, além de eletroeletrônicos, mobiliários, equipamentos de uso, de segurança e de tecnologia da informação (TI). Outras 22 cooperativas participarão, sendo capacitados e instrumentalizados 420 cooperados.
As cooperativas e cooperados da primeira fase também receberão capacitação. O outro diferencial dessa próxima fase consistirá na estruturação de uma rede apoio para que a comercialização seja realizada de forma integrada com outras cooperativas locais.
Saiba mais – Mais de 200 experiências sobre educação ambiental e comunicação social com resíduos sólidos estão disponíveis na plataforma virtual EducaRES. Essa ferramenta digital tem o objetivo de divulgar ações que ajudem a enfrentar os desafios da implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) proporcionando aos gestores, catadores de material reciclável e cidadãos em geral, a oportunidade de buscar boas iniciativas de todas as regiões do país.
Em 2014, o Ministério do Meio Ambiente lançou edital público que selecionou 84 ações de referência. Foram escolhidas até 30 experiências de cada segmento (sociedade civil, poder público e setor privado).
As propostas selecionadas foram reconhecidas como “Práticas de Referência EducaRES” e aparecerem de forma diferenciada na plataforma. As experiências também serão recomendadas pelo Ministério do Meio Ambiente como referência para compor materiais pedagógicos e técnicos de publicações e processos formativos, presenciais ou a distância, produzidos pelos governos no âmbito federal, distrital, estadual e municipal. (Fonte: MMA)