Plano de emergência da Samarco previa lama só em Bento Rodrigues

Dezessete corpos foram encontrados num raio de 100 quilômetros do local do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. Uma distância bem maior do que a prevista no plano de emergência. Um mapa projetava a área que seria coberta de lama. A ilustração termina no distrito de Bento Rodrigues.

“O mais absurdo é imaginar que sequer havia uma projeção de avanço dessa lama. Se visualizava somente atingir o distrito de Bento Rodrigues e não se imaginava chegar sequer ao Rio Doce, o que mostra a incapacidade dos estudos apresentados, a insuficiência e a omissão dos estudos apresentados no processo de licenciamento”, disse o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto.

A lama percorreu quase 700 quilômetros até chegar ao mar, no Espírito Santo. Segundo o Ministério Público, esta possibilidade não era prevista na documentação da Samarco.

O plano de emergência informava o que a mineradora deveria fazer em caso de rompimento inesperado da barragem: avisar à Defesa Civil, Corpo Bombeiros e a Prefeitura de Mariana. Os órgãos é que deveriam alertar as localidades por onde a lama iria passar, conforme o documento.

A diferença entre o que estava previsto nos registros do licenciamento e o que realmente aconteceu após o rompimento da barragem está sendo investigada pelo MP.

O engenheiro responsável pelo estudo, Joaquim Pimenta de Ávila, afirma que a Samarco sabia que a onda de rejeitos iria além do distrito de Bento Rodrigues e levanta suspeita sobre os documentos apresentados pela mineradora.

O estudo que consta da licença da barragem de fundão, de 2008, apresenta três cenários para o caso de rompimento, com diferenças na velocidade, na largura e na altura que a onda de lama atingiria. Mas em todos os casos, só é citada a “área urbanizada do distrito de Bento Rodrigues”.

“Não, mas nós fizemos além de Bento Rodrigues”, afirma Ávila. “Agora, se a Samarco colocou no plano tudo ou pôs só uma parte, eu não sei te informar”, completa.

Outro engenheiro, Lucas Brasil, completou. “Sempre foi um trecho em torno de 75 quilômetros até Barra Longa”, disse.

“Não sei com que altura, mas chegava até Barra Longa. Isso o nosso estudo chegava”, confirma Ávila.

Os engenheiros afirmaram que estão preocupados com o desaparecimento dessa informação no documento entregue pela Samarco pra conseguir a licença da barragem. “Isso me preocupa porque na medida que eu sou responsável por um estudo e o estudo foi supostamente, aí, mutilado ou subtraído de partes importantes dele, eu já não sou mais responsável, tá certo? Eu sou responsável pelo o que eu fiz integralmente”, concluiu Joaquim Ávila.

A Samarco disse, em nota, que, no dia do desastre, executou todas as etapas do plano de emergência, aprovado por autoridades. A mineradora declarou ainda que está colaborando com as investigações e que até a conclusão dessas investigações considera precipitado fazer qualquer comentário. (Fonte: G1)