Roedores consolam familiares e amigos perturbados, mostra estudo

Uma pequena espécie de roedor da América do Norte, o arganaz-das-pradarias (Microtus ochrogaster) tem o costume de consolar familiares e companheiros submetidos a estresse.

A descoberta, feita a partir de um experimento da Universidade Emory, de Atlanta (EUA) mostrou pela primeira vez esse tipo de comportamento de empatia em mamíferos mais distantes da espécie humana.

O hábito de consolar por meio de contato físico só havia sido demonstrado antes em animais de inteligência mais sofisticada, como macacos, elefantes, golfinhos e cães.

Cientistas acreditam que o arganaz-das-pradarias tenha desenvolvido essa capacidade por ser um animal monogâmico, que mantém interações sociais mais complexas do que outras espécies próximas.

Choque de empatia – Entre os autores da descoberta está o primatologista Frans de Waal, primeiro a demonstrar que chimpanzés consolam uns aos outros, em pesquisas de 1979. O experimento foi conduzido James Burkett, também da Universidade Emory.

Para demonstrar se os animais realmente teriam a tendência a consolar outros indivíduos, pares de roedores foram criados juntos e depois separados. Um dos indivíduos era então submetido a estresse com choques elétricos leves, que não causavam dano físico.

Após o tratamento que os deixava mentalmente perturbados, eram novamente colocados em contato com seus pares. Quando voltava à convivência, os animais não submetidos ao choque percebiam o estado de estresse de seus companheiros e mantinham-se junto a eles, lambendo-os por período de tempo maiores.

A demonstração de empatia foi vista tanto entre familiares quanto entre arganazes “amigos”, que haviam compartilhado gaiolas por longos períodos de tempo. Outra espécie de roedor, o arganaz-do-campo (Microtus pennsylvanicus) não demonstrou a mesma capacidade.

Hormônio do amor – Além de pesquisar o comportamento dos animais, os cientistas investigaram quais mecanismos neurológicos estariam embasando as demonstrações de empatia. A suspeita é que a oxitocina — molécula popularmente conhecida como “hormônio do amor” – estava envolvida no processo.

A oxitocina é um neurotransmissor – uma substância que transmite impulso ao longo de nervos em circuitos específicos no cérebro e no restante do sistema nervoso. Quando os cientistas usaram drogas para bloquear o funcionamento da oxitocina nos roedores do experimento, os animais deixaram de consolar seus companheiros.

As conclusões do trabalho foram descritas em estudo na revista “Science”, da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

“Muitos traços humanos complexos possuem origens em processos cerebrais fundamentais que são compartilhados com muitas outras espécies”, afirma Larry Young, um dos autores do estudo. “Agora temos a oportunidade de explorar em detalhe mecanismos neurais subjacentes a reações empáticas em roedores de laboratório, com claras implicações para humanos.”

Segundo os cientistas, seria possível, em princípio, criar modelos de laboratório para estudar transtornos como o autismo e a esquizofrenia, que prejudicam a capacidade de sentir empatia. (Fonte: G1)