Pesquisadores brasileiros detectaram o primeiro paciente infectado pela versão resistente da bactéria Escherichia coli, que tem o gene mcr-1. Na prática, se uma bactéria já resistente a alguns medicamentos adquire este novo gene, o microogranismo sobreviveria à ação da maioria dos antibióticos do mercado, incluindo a colistina, um dos mais fortes disponíveis.
O estudo feito pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) foi publicado nas revistas científicas “Antimicrobial Agents and Chemotherapy” e “Eurosurveillance”. A bactéria foi detectada em um paciente de um hospital de alta complexidade em Natal, no Rio Grande do Norte.
Coautor, o pesquisador Nilton Lincopan aponta que esse gene da Escherichia coli é o mesmo detectado nos Estados Unidos recentemente. Ele disse que esse tipo de bactéria é encontrada em diferentes habitats, incluindo a microbiota do intestino humano – a maioria das variedades da E. Coli não apresenta risco aos seres humanos.
“Tanto no caso do Estados Unidos como aqui no Brasil, e outros países onde foram encontradas cepas de Escherichia coli resistentes ao antibiótico colistina, a resistência apresentada foi devido à aquisição de um gene de resistência chamado de mcr-1”, explicou.
Ainda segundo o pesquisador, as bactérias são geneticamente versáteis “no sentido de que podem se tornar resistentes a uma condição de estresse à qual são submetidas”. Neste caso, ele diz que “existe a hipótese de que a pressão seletiva induzida pelo uso de colistina na produção agropecuária possa ter contribuído para o aparecimento da resistência a esta droga”.
O mesmo grupo do médico Nilton Lincopan já havia iniciado estudos de vigilância epidemiológica em amostras de origem humana, veterinária e ambiental, e obteve os primeiros resultados positivos para a identificação do gene mcr-1 em cepas de E. Coli de origem animal, com artigo publicado em abril deste ano.
Recentemente, outros pesquisadores do Rio Grande do Sul mostraram em uma pesquisa a presença da mesma bactéria resistente também em amostras de origem animal.
“A grande questão central é o fato de este gene estar presente em um elemento genético móvel, o plasmídeo, que pode ser transferido a bactérias da mesma espécie e até mesmo a espécies diferentes. Desta forma, cepas portadoras de outros genes de resistência aos antibióticos, ao adquirirem este gene mcr-1, poderiam ficar resistentes a múltiplos antibióticos, reduzindo as opções terapêuticas para o tratamento de uma infecção”, completou Lincopan. (Fonte: G1)