Em amostras coletadas nas geleiras do Tibete, pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências encontraram quase mil espécies de micróbios que apresentam o potencial de propagar doenças. A descoberta foi registrada em 27 de junho na revista Nature Biotechnology.
As coletas de neve e gelo ocorreram em 21 geleiras no planalto tibetano, entre os anos de 2010 e 2016. Após derreterem e analisarem a água de cada uma das amostras, os cientistas detectaram algas, bactérias e fungos de várias espécies.
A equipe sequenciou o DNA dos microrganismos presentes nas amostras, criando um banco de dados batizado de catálogo do Genoma e Gene da Geleira Tibetana (TG2G). É a primeira vez na história que uma comunidade microbiana escondida dentro de uma geleira é sequenciada.
A análise dos genomas dos micróbios revelou que alguns deles têm o potencial de gerar novas doenças conforme são liberados pelo derretimento. “Micróbios patogênicos presos ao gelo podem levar a epidemias locais e até pandemias se forem liberados no meio ambiente”, explicam os pesquisadores.
O cientistas identificaram 27 mil potenciais fatores de virulência, ou seja, moléculas que ajudam os micróbios a invadirem e colonizarem hospedeiros. Eles estimam que 47% desses fatores de ameaça nunca tenham sido vistos antes, o que impossibilita saber o quão prejudicial à saúde podem ser os microrganismos
Além disso, 98% das espécies eram até então desconhecidas pela ciência. Esse nível de diversidade dos seres vivos era inesperado para os pesquisadores: “Apesar de condições ambientais extremas, como baixas temperaturas, altos níveis de radiação solar, ciclos periódicos de congelamento e degelo e limitação de nutrientes, as superfícies das geleiras suportam uma gama diversificada de vida”, concluem os autores do estudo.
Mesmo que as bactérias com potencial patogênico não sobrevivam por muito tempo após escaparem das geleiras, elas ainda podem causar problemas, de acordo com os cientistas. Esses seres podem trocar grandes seções de seu DNA, conhecidas como elementos genéticos móveis, com as de outras bactérias.
Isso significa que, mesmo em uma morte após o descongelamento, elas ainda podem transmitir parte de sua virulência para outras bactérias. Tal interação genética entre os micróbios das geleiras e os microrganismos modernos “pode ser particularmente perigosa”, alertam os estudiosos.
Embora a equipe não saiba a idade exata dos micróbios do Tibete, estudos anteriores disseram ser possível reviver aqueles presos no gelo por até 10 mil anos. O assunto preocupa, pois as geleiras cobrem aproximadamente 10% da superfície da Terra, conforme destaca o site LiveScience.
Além disso, o planalto tibetano fornece água doce em vários cursos de água, incluindo o rio Yangtze, o rio Amarelo e o rio Ganges, que abastecem China e Índia, dois dos países mais populosos do mundo.
Fonte: Galileu