Os países da América Latina deverão se concentrar em proteger suas florestas dentro de sua estratégia de adaptação e mitigação da mudança climática nesta nova fase após a entrada em vigor do Acordo de Paris, segundo a Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O economista da FAO Andrea Cattaneo afirmou nesta terça-feira (8) à Agência Efe que os países latino-americanos têm o desafio de analisar quais medidas foram adotadas até agora para lidar com a mudança climática e iniciar seus planos para combatê-la.
Trata-se de uma recomendação em nível geral que, no caso da América Latina, tem importância especial no setor florestal, já que “seu maior potencial de mitigação está em reduzir o desmatamento”.
As florestas tropicais da região enfrentam uma situação delicada, já que, segundo um recente relatório da FAO, elas serão mais afetadas pelas mudanças na disponibilidade de água e na fertilização com dióxido de carbono do que pelas mudanças de temperatura.
Na Amazônia, por exemplo, se prevê um aumento do risco de incêndios, a perda de massa florestal e a “savanização” da paisagem, enquanto na América Central, 40% das espécies de manguezais estão em risco de extinção.
Os governos deverão tomar decisões difíceis e fomentar ações que talvez prejudiquem certos setores produtivos, apesar dos programas internacionais e das compensações econômicas que podem ajudá-los na transformação, opinou Cattaneo.
“Há algumas áreas nas quais a mitigação e a adaptação ao clima podem caminhar de mãos dadas”, apontou o especialista, que enfatizou que todos os setores deverão reduzir suas emissões de gases poluentes, entre eles a agricultura, apesar do quão complicado será fazê-lo enquanto cresce a demanda por alimentos.
Entre as chaves para se garantir essa transição, Cattaneo insistiu na necessidade de uma melhor compreensão das dificuldades dos países, como investir os recursos adicionais e adotar práticas de outros lugares que realmente sirvam aos agricultores locais.
A cúpula do clima realizada atualmente na cidade marroquina de Marrakech pretende explorar os mecanismos de transferência de tecnologias, capacidades e fundos dos países ricos para os pobres.
Um total de 102 países ratificaram até agora o Acordo de Paris de mudança climática, que entrou em vigor na última sexta-feira com o objetivo de reduzir as emissões de gases poluentes e, assim, permitir que o aquecimento global da atmosfera fique abaixo de dois graus centígrados antes de final deste século.
“Os países que mais se beneficiarão do financiamento do clima serão aqueles mais vulneráveis e que requerem uma maior transformação rural”, destacou o especialista da FAO, que vinculou o desenvolvimento rural com uma maior resiliência perante a mudança climática.
Na América Latina, as diferenças de adaptação são marcadas entre países mais vulneráveis como Honduras e Guatemala, e outros como o Chile, embora estes últimos também sofrerão problemas como a desertificação e a salinização de certas áreas.
Segundo os prognósticos científicos, a diminuição das chuvas, a maior seca que afeta os solos e o estresse térmico reduzirão a produtividade das regiões tropicais e subtropicais, enquanto nas zonas temperadas aumentarão os rendimentos de soja, trigo e pastagens.
Além disso, a pesca e a aquicultura do Caribe serão prejudicadas pela maior frequência de tempestades, furacões e ciclones, pelos sistemas de recifes de coral que entrarão em colapso e pelo fato de que algumas espécies de peixes tropicais migrarão para o sul, entre outros efeitos citados pela FAO. (Fonte: Terra)