Sessenta mil pessoas foram retiradas de suas casas nesta quinta-feira (24) em Haifa, a terceira maior cidade de Israel, devido a incêndios florestais que já duram três dias, e as autoridades suspeitam que parte do fogo foi provocada intencionalmente, por motivos políticos.
Bairros inteiros da cidade litorânea, envolta por uma fumaça espessa, foram evacuados, assim como uma universidade, escolas e presídios.
“Tivemos de evacuar 60 mil pessoas, algo sem precedentes em Haifa”, disse Yona Yahav, prefeito desta cidade habitada por cerca de 280 mil judeus e árabes, que em 2010 foi arrasada por um incêndio que deixou 44 mortos.
Os serviços de resgate registraram 95 hospitalizações em todo o país, 65 delas em Haifa, em sua maioria por problemas respiratórios leves.
Yael Hame, moradora do bairro de Romema, um dos mais afetados, contou que a fumaça a obrigou a deixar sua casa e sair da cidade com a sua família.
“Toda a rua da frente da minha casa estava bloqueada pelos carros. As chamas eram maiores que as torres de 20 andares. Era espantoso e, com a fumaça, não conseguíamos ver nada”, contou.
Alguns moradores levaram seus pertences em carrinhos de supermercado para fugir do lugar, enquanto dezenas de bombeiros, policiais e socorristas trabalhavam nas ruas, com a ajuda de numerosos voluntários.
Exército em alerta – Alguns habitantes tratavam de conter as chamas com suas mangueiras. No ar, pequenos aviões-tanque tentavam, sem muito sucesso, combater o fogo.
As equipes de resgate trabalham de porta em porta, orientando principalmente as pessoas de mais idade a saírem de casa. Dezenas de desabrigados enchiam os centros de acolhida.
O Exército anunciou ter mobilizado dois batalhões e chamou os reservistas para que ajudem os bombeiros e policiais.
Origem – Foram localizados vários focos em Haifa, o que reforça a hipótese de que alguns incêndios foram intencionais.
Durante o dia, ocorreram outros incêndios nos arredores de Jerusalém, em Moddin (centro), assim como em Talmon, uma colônia israelense na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel.
Há três dias, o centro e o norte de Israel estão sendo afetados por vários incêndios florestais, resultado da grande seca dos últimos meses e dos fortes ventos. Não há registros de mortos.
Cerca da metade destes incêndios teria uma origem criminosa, declarou o ministro de Segurança Pública, Gilad Erdan, pelo rádio militar.
Segundo Erdan, o fogo teria sido obra de piromaníacos ou de pessoas motivadas pelo conflito entre Israel e Palestina.
‘Ato de terrorismo’ – Cerca de 1,4 milhão de árabes israelenses (17,5% da população), descendentes dos palestinos que ficaram nas suas terras após a criação do estado de Israel, em 1948, vivem no país. Apesar de serem cidadãos israelenses, muitos se consideram palestinos e simpatizam com sua causa.
“Estamos enfrentando um terrorismo do incêndio intencional”, disse Erdan na noite desta quinta-feira em Haifa, para onde viajou junto com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. O ministro informou que houve várias detenções, sem dar mais detalhes.
Netanyahu advertiu que qualquer incêndio provocado intencionalmente seria tratado como um “ato de terrorismo”.
Indignação da comunidade árabe – Ante tais acusações, os líderes da minoria árabe mostraram sua indignação. “Faz centenas de milhares de anos que vivemos neste país e nunca o incendiamos”, disse o deputado árabe Ayman Odeh em um comunicado, acrescentando que os árabes também foram afetados pelo fogo.
O partido de Odeh, a Frente Democrática para a Paz e a Igualdade, informou que milhares de famílias árabes estavam dispostas a acolher os afetados, independentemente da sua religião.
Estava previsto que Israel, que não conta com equipes suficientes para combater incêndios em grande escala, iria receber o apoio de uma dezena de aviões enviados pela Rússia, Turquia, Grécia, Itália, Croácia, Chipre e França. (Fonte: G1)