Um teste para a vacina da malária em humanos alcançou 100% de proteção contra a doença por pelo menos dez semanas depois da última dose, mostra publicação no site da revista Nature.
Stephen Hoffman e seus colegas da empresa de vacinas Sanaria, especializada em malária, testou a vacina em 35 participantes divididos em diferentes grupos.
Os testes anteriores mais bem-sucedidos haviam usado o protozoário o Plasmodium falciparum, causador mais letal da malária, em uma forma modificada e atenuada para provocar a resposta imunitária. Nesse teste, porém, ele foi usado na mesma maneira que é encontrado na natureza, sem modificações.
“A relevância desse trabalho é que usaram o protozoário do jeito que ocorre na realidade”, explica Rafael Guido, professor do Instituto de Física de São Carlos da USP (Universidade de São Paulo) e estudioso da malária. Segundo ele, a vacina contra a malária com base neste estudo deve estar disponível para a população em geral em uma década.
O teste também conseguiu identificar a dose ideal para a proteção contra a doença. Cada um dos grupos recebeu três doses em intervalos de quatro semanas.
As doses mais baixas protegeram apenas alguns participantes, mas a dose maior atingiu 100% de proteção em nove participantes por pelo menos 10 semanas depois da última dose.
A mesma dose alta dada em um período mais curto (3 doses num intervalo de cinco dias) protegeu cinco de oito pessoas (63%). Não foram observados efeitos colaterais.
No grupo de controle, voluntários saudáveis receberam várias doses da vacina junto com cloroquina, uma droga anti-malária, e foram infectados com a mesma cepa da malária usada na vacina.
Servirá para vacinação em massa? – Os autores ressaltam que são necessárias mais investigações para determinar se a vacina pode ser útil para ser usada em estratégias de vacinação de massa para prevenir a malária.
Eles propõem que o próximo teste clínico feito pelo grupo analise a eficácia da vacina em populações mais diversas, se funciona para diversas formas de malária e em cepas diferentes da doença, além do tempo de duração da proteção.
“Praticamente metade das pessoas no planeta estão sob o risco de contrair malária”, diz o pesquisador brasileiro Rafael Guido, citando dados do World Malaria Report 2015. “A média de mortes por malária é de 584 mil por ano, o que resulta em uma morte por minuto. Por isso, qualquer avanço para eliminar a malária é bem-vindo”.
A malária é transmitida pela picada do mosquito Anopheles, que carrega os protozoários. O Plasmodium falciparum é amplamente encontrado na África subsaariana, que concentrou 92% das mortes por malária em 2015, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Desse total, 70% foram mortes de crianças menores de cinco anos.
No Brasil, a forma mais comum do protozoário é o Plasmodium vivax, que representa cerca de 70% dos casos no país, enquanto 30% são causados pelo Plasmodium falciparum.
Apesar de ser menos letal, o Plasmodium vivax causa muitos casos de morbidade que levam a afastamento do trabalho. (Fonte: UOL)