Tambaqui, jaraqui ou curimatá? Que o peixe é preferência na culinária nos municípios da região norte do Brasil, não é novidade. O que ainda estão desconhecidos são as espécies que sobressaem no mercado, o destino da pesca, os tipos de embarcação e apetrechos utilizados pelos pescadores de algumas regiões, entre outras informações. Buscando preencher esta lacuna, o Instituto Mamirauá expandiu o Monitoramento do Desembarque Pesqueiro para dois municípios do alto curso do Rio Solimões. A experiência, que é realizada no município de Tefé (AM) há 25 anos, agora também será replicada nos municípios de Santo Antônio do Içá e Fonte Boa, também no estado do Amazonas.
Assim como o município de Tefé, os dois novos pontos de monitoramento ficam próximos a unidades de conservação. Um dos objetivos da iniciativa é verificar quanto da produção pesqueira comercializada nessas cidades é proveniente das áreas protegidas. As unidades de conservação localizadas no entorno dos municípios fazem parte do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa): são as Reservas Extrativistas Baixo Juruá, Rio Jutaí e Auati Paraná. Parte do município de Fonte Boa também está dentro da área da Reserva Mamirauá. Essa ação é financiada pela Fundação Moore.
A técnica do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá, Pollianna Ferraz, reforça que conhecer mais sobre a produção local e sobre as espécies da região pode contribuir para o direcionamento de ações alinhadas com a realidade da região. “O Amazonas é um estado extremamente grande e com muitas diferenças ao longo dos rios e igarapés. A gente tem legislação única, sendo que o comportamento do peixe no baixo Amazonas é diferente do alto Amazonas. Assim como a pressão da pesca no baixo, médio e alto curso do rio, são diferentes. Se a gente sabe a produção da região e o tamanho médio das espécies que são capturadas, é possível desenvolver políticas públicas direcionadas à região”, comentou.
A experiência pôde ser expandida para outras áreas após os bons resultados obtidos a partir do monitoramento em Tefé. A atividade iniciou em 1992 no município e, desde então, já foram publicados dois livros com o apanhado de informações sobre a produção pesqueira da cidade e entorno. Os dados também são disponibilizados para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 2011. Ao longo deste período, já foram desenvolvidas e aperfeiçoadas as metodologias para a obtenção e divulgação dos dados.
“Se a gente tem uma área preservada, o entorno também vai sendo colonizado e abastecido por esta área fonte. Há uma grande diferença ao longo dos anos da produção que vinha para Tefé das Reservas, comparada com o que vem hoje, que é uma produção muito menor. Hoje, a pesca se concentra muito mais próxima da cidade”, contou Pollianna. Ela também reforça que a gestão comunitária tem um importante papel para a conservação das unidades, que são classificadas como Reserva de Desenvolvimento Sustentável, onde a população local vive na área, sobrevive dos recursos naturais da região e contribui para a gestão e conservação ambiental.
Pontos estratégicos – A escolha dos municípios não foi aleatória. A proposta é gerar informação sobre a produção pesqueira na calha do Rio Solimões.
Para coleta de dados, o Instituto Mamirauá – que atua como uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – conta com dois técnicos atuando localmente, um em Fonte Boa e outro em Santo Antônio do Içá. As informações são coletadas diariamente, durante seis dias da semana, em pontos de desembarque. Semestralmente, o Instituto publica o Boletim do Desembarque Pesqueiro com o apanhado das informações mais relevantes. A publicação também é disponibilizada em formato de banner e exposta em locais de acesso e consulta pelos pescadores. (Fonte: Instituto Mamirauá)