Insetos desempenham um papel central em diversos processos do planeta, incluindo a polinização. Eles também são fonte de alimento para muitas aves, mamíferos e anfíbios. Estima-se, por exemplo, que 80% das plantas selvagens dependem de insetos para sobreviver, enquanto 60% das aves precisam deles para se alimentar. Moscas, besouros e vespas também são predadores, ajudam a controlar as pragas.Este perfil levou cientistas da revista ” Plos One”a fazerem um longo estudo e alguns cálculos, concluindo que os serviços ecossistêmicos fornecidos por insetos selvagens ficam na casa dos US$ 57 bilhões anualmente nos Estados Unidos.
Pois bem. Ocorre que esses mesmos cientistas concluíram que há um padrão geral de “declínio na abundância e diversidade de insetos” hoje na natureza.Houve uma diminuição de 50% de borboletas na Alemanha, por exemplo, entre 1990 e 2011, país onde se concentraram os estudos.As abelhas e mariposas seguem a mesma tendência.
Não é de se estranhar que as mudanças climáticas, que causam a perda, a fragmentação e a deterioração da qualidade do habitat natural dos insetos sejam apontadas como responsáveis número um para o desaparecimento deles. Mas os fungos, o uso de pesticidas e a agricultura intensiva também são grandes vilões neste caso.
Foi a primeira vez que se estudou a biomassa total aérea – a massa de seres vivos existente numa determinada superfície – de insetos. As amostras foram recolhidas entre 1989 e 2016e entre março a outubro de cada ano, em 96 lugares diferentes da Alemanha, mas tem implicações em todos os territórios agricultáveis. Foram a campo dezenas de entomologistas amadores que usaram formas estritamente padronizadas de coleta de insetos. Tendas especiais chamadas “armadilhas de mal-estar” foram usadas.
“Nossos resultados documentam um declínio dramático na média de insetos no ar em áreas naturais protegidas na Alemanha. E demonstram que declínios relatados recentemente de vários outros insetos, como borboletas, abelhas selvagens e mariposas sugerem que não são apenas as espécies vulneráveis, mas a comunidade de insetos voadores como um todo que foi dizimada ao longo das últimas décadas”, diz um trecho do estudo.
Segundo reportagem publicada no jornal português”O Público”, dados colhidos são ainda mais preocupantes se for levado em conta que o estudo foi conduzido em áreas protegidas “que são feitas para preservar o ecossistema e a biodiversidade”. Os cientistas da revista chegam a usar a expressão “Armagedon ecológico” para qualificar a descoberta.
Quem usou o termo foi Dave Goulson, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade Sussex, no Reino Unido, que em entrevista ao jornal britânico “The Guardian”, afirmou que se os insetos desaparecerem por completo, todo o resto do mundo vai entrar em colapso.
“Os insetos constituem cerca de dois terços de toda a vida no planeta, o que faz com que esse fenômeno seja ainda mais terrível”, disse ele aos repórteres.
Apesar das hipóteses muito prováveis sobre o motivo do desaparecimento dos insetos, Goulson prefere deixar em aberto esse debate.
“As terras agrícolas têm muito pouco a oferecer para qualquer criatura selvagem. Mas, exatamente o que está causando a morte deles ainda não se sabe. Pode ser,simplesmente, falta de comida para eles. Mas também a exposição a pesticidas químicos.Ou uma combinação dos dois”, disse ele ao editor Damian Carrington.
Essa informação estimula a buscar mais dados sobre o uso de pesticidas aqui no Brasil. E as notícias continuam não sendo nada boas. O país ainda ocupa – desde 2008 – um inquietante primeiro lugar no ranking mundial de agrotóxicos. Segundo o site The Greenest Post, a Anvisapublicou um estudo mostrando que nos últimos 10 anos a utilização mundial desse tipo de substância aumentou 93%. No Brasil, o salto foi ainda maior: 190%. Neste momento,130 mil toneladas de defensivos agrícolas são utilizados no país todos os anos. Cada brasileiro consome, em média, 5,2 litros de agrotóxicos por ano. Além de permitir o uso de pesticidas proibidos em outros países, o Brasil ainda exonera os impostos dessas substâncias.
Em janeiro deste ano, publiquei dados de um relatório feito pela ONG Greenpeace com base num estudo feito pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (Aesa), organização contratada para realizar avaliações de risco para o uso de pesticidas e seu impacto sobre as abelhas. Ficou claro, para os cientistas que realizaram o estudo da Aesa, que o uso indiscriminado de algumas substâncias, comoclotianidina, imidacloprida e tiametoxan, chamadas de neonicotinoides, estava associado a eventos de envenenamento em massa de abelhas Apis (ou Bichomel) e vespa-de-rodeio.
Outros dados que podem ser obtidos no relatório da Abrasco: 70% dos alimentos in natura consumidos no Brasil estão contaminados por resíduos de pesticidas. Nos últimos dez anos, o mercado mundial desse setor cresceu 93%. Já no Brasil, esse crescimento foi de 190%, de acordo com os dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Já que o cientista inglês, em entrevista ao “The Guardian”, usou uma expressão forte para caracterizar a morte dos insetos, lembrei-me do Relógio do Apocalipse, criado logo depois da II Guerra para indicar o cenário de segurança global, levando em conta, entre outras coisas, os impactos provocados pelas mudanças climáticas. No início deste ano, quando Donald Trump se tornou presidente dos Estados Unidos, o relógio foi adiantado em meio minuto pelos cientistas que se reúnem no Boletim dos Cientistas Atômicos (BCA).
Eventos recentes, como lançamento de um míssil pela Coreia do Norte e a decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, acenderam um alerta amarelo. Estamos próximos de uma catástrofe, acreditam os cientistas. Para os insetos que já desapareceram do meio ambiente, porém, o desastre chegou na frente.
Quando me dei conta de que o campo de pesquisa para o estudo da revista científica foi a Alemanha, logo me veio à cabeça também o pensamento do físico alemão Albert Einstein, morto há mais de sessenta anos. Por incrível coincidência, ele já se preocupava com o desaparecimento de insetos e seu impacto à vida dos humanos. Termino o texto com o pensamento de Einstein que deveria ajudar a mudar o rumo, já que ainda pode ser possível, com alterações no nosso dia a dia, reverter o quadro.
“Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana”. (Albert Einstein).
Fonte: G1