Uma pesquisa publicada na revista IScience na segunda-feira (24), revelou que insetos podem produzir tanta eletricidade quanto nuvens carregadas em uma tempestade. O estudo realizado por cientistas da Universidade de Bristol, no Reino Unido, mediu campos elétricos ao redor de abelhas e descobriu que a eletricidade produzida pelo bater das asas desses pequenos insetos pode influenciar a carga elétrica atmosférica.
A atmosfera hospeda múltiplas fontes de eletricidade que influenciam em diversos processos biológicos e geológicos. Esse tipo de energia ajuda a moldar eventos climáticos, além de auxiliar insetos a encontrar comida e a fazer migrações por longas distâncias.
Segundo os autores, enxames de insetos podem ocorrer em diferentes altitudes e com diferentes densidades, e geralmente consistem em grupos de uma única espécie, como abelhas, gafanhotos ou borboletas. “Usando medições de carga já conhecidas de abelhas e nossas próprias medições calibradas, desenvolvemos um modelo tridimensional de análise de elementos finitos para avaliar computacionalmente o efeito de enxames de abelhas em campos elétricos atmosféricos locais”, explicam os especialistas no estudo.
“Sempre analisamos como a física influenciava a biologia, mas em algum momento percebemos que a biologia também pode estar influenciando a física”, disse Ellard Hunting, bióloga da Universidade de Bristol, em comunicado.
Gerando eletricidade
Assim como os seres vivos, os insetos também possuem uma carga elétrica natural. As novas medições mostraram que enxames de abelhas alteram a eletricidade atmosférica entre 100 e 1.000 volts por metro, aumentando a força do campo elétrico normalmente observado no nível do solo.
A partir desta descoberta, a equipe desenvolveu um modelo que pode prever a influência de outras espécies, pois, de acordo com os cientistas, a influência dos insetos na eletricidade atmosférica depende da intensidade e do tamanho do conjunto analisado.
“Calculamos também a influência dos gafanhotos na eletricidade atmosférica, pois nuvens de gafanhotos se formam em enormes proporções podendo chegar a aproximadamente 1,2 mil quilômetros quadrados. Isso indica que sua influência é provavelmente muito maior do que a das abelhas”, disse Liam O’Reilly, também biólogo da Universidade de Bristol.
O transporte de carga observado por insetos demonstra um papel inexplorado para processos físicos e ecológicos na atmosfera, daí a importância desta análise. “A interdisciplinaridade é valiosa aqui. A eletricidade pode parecer que vive apenas na física, mas é importante saber o quão consciente todo o mundo natural está das cargas elétricas na atmosfera”, finaliza Giles Harrison, físico atmosférico e coautor do estudo.
Fonte: Galileu