A Comissão de Mobilidade Urbana da OAB , com apoio da ANTP e outras entidades, promove no próximo dia 12 de dezembro o Seminário ‘Mobilidade Corporativa’. Sobre a programação e como participar, acesse o link: http://www.antp.org.br/noticias/destaques/comissao-de-mobilidade-urbana-da-oab-promove-seminario-mobilidade-corporativa-.html
A questão do Teletrabalho – sua adoção, regulação, práticas seguras e impacto na mobilidade, é o tema central do evento que acontece em São Paulo, e sobre o qual falarão os diferentes palestrantes convidados.
Olimpio Alvares, engenheiro mecânico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, é um dos especialistas convidados a explanar sobre o Teletrabalho. Olimpio, entre as atividades que desenvolve em vários organismos, é Diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades – SOBRATT.
Será por essa organização que ele falará sobre o Teletrabalho: marco legal, impactos socioeconômicos e influência na mobilidade.
Segundo Olimpio, o binômio Mobilidade Urbana e Meio Ambiente é uma motivação extra para que o teletrabalho possa se expandir nas grandes cidades brasileiras. O desafio maior está em construir uma economia de baixo carbono, desafio global deste século. Mais que o aumento da temperatura, é preciso pensar além das questões climáticas como problemas ambientais e enxerga-las como desafio e oportunidade no domínio econômico e social.
Para explicar a importância do teletrabalho, Olimpio descreve o cenário: tudo começou na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC), lançada na Cúpula da Terra do Rio de Janeiro em 1992 e ratificada por 196 Estados (chamados de “Partes”).
Posteriormente, a 21ª Conferência das Partes da UNFCCC (a chamada COP-21) e a 11ª Reunião das Partes no Protocolo de Quioto (MOP-11) se sucederam entre 30 de novembro e 11 de dezembro de 2015 em Paris. “Nessa Conferência, chegou-se ao mais robusto acordo climático da história, ratificado em 22 de abril de 2016 na Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, por mais de cento e trinta países”, afirma Olimpio.
Por fim, o acordo contou com o engajamento da China e dos Estados Unidos (que recentemente, após a ascensão de Donald Trump ao poder, abandonou o acordo), que já vinham anunciando ambiciosas ações nacionais em prol da redução das emissões de carbono de origem fóssil. “O objetivo comum é manter o aquecimento global abaixo dos 2°C, cabendo aos países industrializados a maior parte da responsabilidade das ações de controle das emissões de origem antropogênica”, explica.
É quando o Brasil entra definitivamente na história: de modo semelhante à China, a partir da Conferência de Paris, “o Brasil demonstrou uma atitude de concreto protagonismo no contexto do combate às mudanças climáticas; com isso, parece que o Brasil não irá apenas permanecer como de costume no plano das boas intenções e partirá para a ação”, garante o diretor da SOBRATT.
O governo federal encaminhou à UNFCCC em setembro de 2015 sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), com as ações necessárias para se atingir as metas de mitigação das emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa (GEE). “O compromisso oficial pretendido é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025; em seguida, reduzir as emissões em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030”, esclarece Olimpio.
Cálculos do Ministério do Meio Ambiente dão conta que essa contribuição é consistente com níveis de emissão de 1,3 GtCO2e (giga-tonelada equivalente de CO2) em 2025 e 1,2 GtCO2e em 2030, correspondendo, respectivamente, às reduções de 37% e 43%, com base no nível de emissões em 2005 de 2,1 GtCO2e. “Traduzindo em miúdos, isso corresponde à queda em 2025 de 66% na intensidade de emissões do País (emissões por unidade de PIB) em relação a 2005 e em 75% em 2030”, diz Olimpio.
Falando especificamente do setor de transportes, Olimpio cita que estão previstas “entre outras ações relacionadas à substituição de combustíveis fósseis por energia renovável limpa, estratégias para incremento da eficiência energética, como, por exemplo, as medidas de desmotorização e redução da demanda de deslocamentos motorizados desnecessários, bem como de melhorias na infraestrutura de transportes e no transporte público em áreas urbanas”.
Olimpio ressalta que o chamado “Transporte Sustentável” foi colocado em destaque na COP-21.
“As medidas foram discutidas em um dos muitos eventos do encontro. A anfitriã, Paris, apresentou sua meta de substituição de 80% da frota de 4,5 mil ônibus (a diesel) até 2025, por unidades elétricas – a uma taxa de substituição de 500 ônibus por ano. Os 20% restantes circularão com biometano, oriundo do processo de purificação do biogás, econômico e abundante em aterros sanitários e numa gama de processos agropecuários e industriais. Outro projeto apresentado em Paris, o MobiliseYourCity (http://mobiliseyourcity.net), pode gerar expectativa positiva entre técnicos de transporte, urbanismo, meio ambiente e gestores de cidades brasileiras”, ele conta.
Tudo para concluir, segundo Olimpio Alvares, que o Brasil vive um momento de boas oportunidades. Ele as descreve: ”pela Lei Federal 12.587/2012 da Política Nacional de Mobilidade Urbana, municípios com mais de 20 mil habitantes são obrigados a elaborar planos de mobilidade urbana. O MobiliseYourCity pretende desenvolver planos de mobilidade urbana sustentável em 100 cidades e 20 países em desenvolvimento até 2020, com forte viés na desmotorização e na gestão de demanda de viagens urbanas desnecessárias – os programas de GDM (gestão de demanda de mobilidade corporativa). Esses programas incluem, entre as principais componentes, o trabalho a distância, também conhecido por teletrabalho, trabalho remoto e home-office”.
O papel estratégico do Teletrabalho
Desfiando uma série de dados, Olimpio mostra a importância do Teletrabalho como uma das saídas recomendadas para a solução de dois problemas crônicos nas grandes cidades brasileiras: o da mobilidade urbana e o do Meio Ambiente.
Aos dados…
O recente estudo “Opções de Políticas Para Reduzir Emissões Relacionadas ao Uso de Energia”, do World Resources Institute (WRI), aponta o transporte como o setor que mais contribui para as emissões de GEE resultantes do uso de energia no Brasil. “Pode-se alcançar uma ambiciosa descarbonização nesse setor por meio do uso de transporte coletivo e meios não motorizados”, alerta Olimpio.
Outro estudo, assinado pelo Embarq-Brasil, aponta que os deslocamentos ao trabalho são responsáveis por aproximadamente metade das viagens realizadas diariamente nas cidades brasileiras, o que gera uma perda de tempo entre 10 e 15 dias inteiros por ano, por pessoa.
“É nesse contexto, e com essa evidência estatística, que a mobilidade corporativa e o teletrabalho vem se consolidando como uma potencial alternativa de desmotorização, além de demonstrar reiteradamente uma série virtuosa de outros relevantes cobenefícios para empresas, empregados e o meio ambiente”, finaliza Olimpio Alvares.
Ele complementa : “a oportunidade é grande – 80% dos paulistanos afirmam estar dispostos a deixar de utilizar o carro, caso existam opções razoáveis de transporte – ou “não-transporte” (teletransporte ou teletrabalho). Em outras grandes cidades congestionadas do Brasil e do mundo essa proporção não deve ser muito diversa”.
Para corroborar seu otimismo Olimpio cita dois importantes fatores, um cultural e outro tecnológico.
“Em primeiro lugar não existem mais hoje em dia as supostas barreiras culturais, tecnológicas, de segurança e, especialmente, de ordem jurídico-trabalhista, que poderiam causar eventuais restrições à adoção do trabalho a distância e outras práticas de mudanças nos hábitos de deslocamento corporativo”, afirma. “E em segundo lugar, com a recente explosão das acessíveis tecnologias de informação e comunicação (TICs), plenamente consolidadas na sociedade brasileira, estamos diante de uma desafiadora perspectiva de potencializar a penetração dessas medidas alternativas ao deslocamento motorizado no meio corporativo brasileiro – e para tal, requer-se o auxílio de gestores com mentalidade avançada e bem informados, nosso maior desafio”.
Mas o que pensa o setor privado a respeito?
Olimpio afirma que parece haver já um entendimento disseminado no Brasil, entre as grandes empresas e os administradores mais jovens, que o teletrabalho constitui uma das formas possíveis de evitar os danosos deslocamentos urbanos motorizados desnecessários, implicando, sem quaisquer riscos gerenciais – devido à sua inerente flexibilidade e reversibilidade – múltiplos benefícios econômicos e sociais às instituições e aos seus colaboradores, “além de reduzir a pressão do tráfego motorizado sobre o meio ambiente e a saúde pública”, ele conclui.
Um exemplo disso é a recente pesquisa “Comunicação e mobilidade: perspectivas profissionais e corporativas”, realizada pela Aberje – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial.
O levantamento, realizado entre 27 de setembro e 06 de novembro de 2017, se propôs a identificar hábitos relativos à mobilidade urbana de funcionários de empresas e instituições, assim como sistematizar as informações sobre as iniciativas empresariais orientadas para a mobilidade e o papel da comunicação nesse cenário.
Dividida em duas partes, a pesquisa da Aberje ouviu os funcionários e as empresas. Na parte voltada aos funcionários, 55% dos entrevistados citaram a mobilidade como um problema central.
Na segunda parte da pesquisa, em que participaram 155 empresas (cerca de metade delas localizadas na capital), 85% das participantes declararam possuir iniciativas voltadas para a mobilidade, mas 61% dos funcionários acreditam que suas empresas não possuem nenhum programa do tipo. Ou seja, falta comunicação.
Carlos Ramello, coordenador do estudo, afirma que ações apontadas pelas companhias, como home office (Teletrabalho), disponibilização de fretado e infraestrutura de apoio, como bicicletários, muitas vezes não são vistos como programas de melhora da mobilidade.
Ou seja: não basta realizar ações de mobilidade corporativa, é preciso informar com clareza sobre sua importância e relevância para os funcionários, foco principal de qualquer programa.
Olimpio Alvares desfila os inúmeros benefícios do teletrabalho, “todos eles facilmente quantificáveis, no tocante à mobilidade urbana: redução do consumo e dos custos individuais e coletivos com combustíveis fósseis e renováveis; redução das emissões de poluentes globais (GEEs) e de poluentes locais (tóxicos), causadores de stress, incômodos, doenças cardiovasculares, respiratórias e mentais, mortes prematuras e do aquecimento do planeta; redução da poluição sonora urbana – difusa e localizada; redução dos acidentes de trânsito e suas consequências sócio-econômicas; redução da super-lotação do sistema de transporte público; redução dos congestionamentos – e da perda de tempo de cidadãos nos congestionamentos; aumento da velocidade média do tráfego motorizado remanescente, com redução proporcional dos fatores de emissão de poluentes e de consumo de combustível; melhoria da fluidez do tráfego, abrindo espaço físico mais amigável nas vias públicas para aumento da penetração das alternativas ao transporte individual e coletivo motorizado; redução do absenteísmo nas corporações e instituições; e maior inclusão de profissionais de excelência portadores de deficiências e necessidades especiais”.
O Seminário da OAB é mais uma chance não só para debater a importância e oportunidade de ações de mobilidade corporativa, como também para comunicar de maneira mais eficiente seus benefícios.
Fonte: Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte
Diário do Transporte