As revelações de tesouro descoberto por mergulhadores no fundo do mar em Israel

Ele havia mergulhado ali várias vezes antes e adorou a região por causa de sua fartura de peixes, além de restos de navios afundados e cerâmicas que às vezes encontrava no solo marinho. Muitas áreas arqueológicas submarinas de Israel estão abertas aos mergulhadores, e Cesareia era um dos lugares preferidos dele.

Uma tempestade violenta havia atingido o litoral oeste do país na noite anterior, agitando o solo do mar e mudando a topografia submarina. Enquanto Fayer mergulhava mais fundo para investigar o objeto brilhante que havia visto, ele sabia que havia outra tempestade a caminho.

Como era um mergulhador experiente, se sentiu confiante. Naquele momento, porém, o céu de inverno estava começando a escurecer, a brisa estava mudando.

Conforme Fayer se aproximou, percebeu que o brilho deveria ser vir de embalagem de doce, quem sabe um daqueles chocolates simulando uma moeda de pirata.

Mas ao se aproximar e pegar o objeto, viu que estava errado. Não tratava-se de uma embalagem, era uma moeda real de ouro com gravações em árabe em ambos os lados.

“Fiquei chocado quando vi que ambos os lados do metal eram ouro”, diz ele.

Vestígios do passado

Fayer vasculhou mais a areia, viu outra moeda e outra e então outra – o tesouro de um navio naufragado que ficou perdido no tempo.

Exploradores sem escrúpulos poderiam ter levado o tesouro com eles, mas Fayer e seus parceiros de mergulho voltaram ali com seu barco e contataram as autoridades de Cesareia, que então ligaram para a Autoridades de Antiguidades de Israel (IAA, na sigla em inglês).

Quando os pesquisadores da IAA chegaram, estavam céticos. Cesareia é um lugar arqueológico submarino cheio de objetos antigos – eles estavam preocupados com roubos.

“Nós levamos um banho de água fria”, diz Fayer. “Eles estavam gritando conosco, perguntando por que tiramos as moedas do mar. Explicamos nossas condições, tinha uma outra tempestade chegando com a expectativa de ondas de 10 m de altura. Dissemos a eles que, se não tivéssemos levado as moedas naquela hora, talvez jamais as encontrássemos de novo.”

Trabalhando com a IAA, Fayer e sua turma voltaram ao mar e recolheram mais moedas. Dias depois, voltaram de novo e recuperaram centenas delas.

Até agora, mais de 2 mil moedas foram encontradas no local. Por ter pureza de 95% e 24 quilates de ouro em bom estado de preservação mesmo após cerca de mil anos na água do Mediterrâneo, elas estão dando informações empolgantes sobre capítulos esquecidos da história aos pesquisadores.

O que dizem as ruínas

Cesareia, que fica entre Tel Aviv e Haifa no Mar Mediterrâneo, hoje é mais conhecida por suas ruínas romanas. O centro histórico foi restaurado e transformado em um ponto turístico com um museu e um restaurante modernos. Há também um condomínio e um campo de golfe ali perto.

Mas, ao observar a baía ou os arcos do que restou de um aqueduto e admirar o azul da água em direção a Chipre, Turquia e Grécia, é fácil imaginar como esse lugar era há séculos atrás.

Os primeiros prédios construídos em Cesareia foram erguidos em 4 d.C. para estabelecer um ponto de comércio fenício e grego. Em algum momento depois de 96 a.C., porém, a cidade acabou dominada pela rainha egípcia Cleópatra.

Mas a região foi conquistada pelos romanos e Cesareia – então chamada de Stratonos Pyrgos (“A Torre de Straton”) – logo foi entregue a Herodes, o Grande, denominado rei da região pelos romanos. Ele então renomeou a cidade em homenagem ao imperador romano.

Sob o domínio de Herodes, a cidade prosperou. O rei ordenou a construção de quebra-ondas para criar um grande porto com águas profundas, além de um aqueduto, um hipódromo e um anfiteatro para 20 mil pessoas para assistir às batalhas sangrentas entre gladiadores.

Em 6 d.C., Cesareia era a capital da província romana da Judeia. Assim, foi também lar de muitos governadores romanos dali, incluindo Pôncio Pilatos, que governou durante o período histórico de Jesus.

Quando os judeus se revoltaram contra os romanos entre 66 e 70 d.C., e Jerusalém foi destruída, a cidade se tornou o centro político e econômico da região. Se parece um pouco parada agora, é porque tem 2 mil anos de idade.

A cidade continuou importante e com bons relatos históricos até 640 d.C., quando o último bastião da região foi dominado por invasores muçulmanos. Depois disso, a história não foi tão bem documentada.

Há um consenso de que Caesarea perdeu a glória e seu papel político-social da época, suas ruínas foram saqueadas e repovoadas por comunidades pequenas antes de se tornar um lar para uma pequena vila de pescadores em 1800.

Mudança nos rumos

Mas a descoberta das moedas mudou essa história, de acordo com Jakob Sharvit, diretor da Unidade de Arqueologia Marinha da IAA. Aliás, ela sugere que Cesareia continuou sendo um centro de comércio durante o período sob o domínio dos califados islâmicos, ou seja, que não se tornou apenas um reservatório de água rural e remoto.

“Antes de descobrir as moedas, não tínhamos ideia de que a comunidade de Cesareia na época era tão grande ou tão rica”, disse Sharvit. “Então isso mudou o que pensávamos sobre aquele período.”

Embora pequenas, as moedas trazem muitas pistas sobre como era o mundo na época. As datas cunhadas nelas mostram que elas foram feitas durante os califados de al-Hakim (996-1021 d.C.) e seu filho al-Zahir (1021-1036 d.C.), quando Cesareia fazia parte do califado Fatímida, que na época se estendia pelo leste do Mediterrâneo.

As moedas foram cunhadas nas cidades de Cairo, no Egito, e Palermo, na Sicília (Itália), o que prova que elas circulavam no império inteiro. Outras pistas são mais pessoais, como marcas de dentes que indicam quão antiga é a prática de usá-los para testar se algo é mesmo de ouro.

Julgando por seu valor, é possível que Cesareia ainda era uma cidade próspera e agitada na virada do século 11.

“Essas moedas valiam muito dinheiro para as pessoas que moravam aqui”, disse Sharvit.

Fonte: BBC