A notícia principal é: em 2017, a expressão “Furacão Irma” foi a mais pesquisada na internet. Não deve surpreender aos leitores, porque foi o furacão mais forte já registrado na bacia do Oceano Atlântico e ficamos extremamente motivados com os danos causados às pessoas.
Mas a subnotícia é que, embora os internautas estejam bastante motivados pelos danos causados aos atingidos pelos eventos extremos, dificilmente eles vão procurar saber a origem disso. Ou seja: os efeitos causados pelas mudanças climáticas, o aquecimento do planeta, não entram na pauta dos cidadãos comuns. Quem denuncia esta questão, que não é nova para quem estuda o tema, mas sempre será importante, é Erik Solheim, diretor executivo da agência de meio ambiente das Nações Unidas. Durante uma entrevista recente para a Fundação Thomson Reuters , ele apontou um erro recorrente na hora de se tentar a colaboração de todos para reverter o quadro e baixar as emissões de carbono.
Para Solheim, os especialistas em meio ambiente estão usando expressões erradas na hora de explicar aos cidadãos comuns o que está acontecendo com o clima.
“As pessoas querem saber sobre essas coisas, mas quando se trata de explicar por que está acontecendo e o que pode ser feito para detê-lo (o aquecimento global), não estamos falando em um idioma que todos entendam”, disse ele durante a entrevista.
Linguagem técnica demais, siglas e frases politicamente corretas, ou mesmo uma certa retórica que se torna inútil quando não se apresenta o resultado estão, na verdade, afastando as pessoas que poderiam estar também colaborando para uma solução. Ninguém mais aguenta ouvir que as mudanças climáticas vão ser cada vez mais responsáveis pelos eventos extremos que estamos presenciando no mundo. Parece também um tempo desperdiçado quando se exige providências imediatas aos líderes das nações. Como ainda é pouco provável que alguém vá se sentir verdadeiramente inclinado a colaborar para baixar as emissões quando os próprios cientistas dizem que pouco vai adiantar agora, já que o aquecimento do planeta é inevitável.
“Isso tudo acaba aborrecendo as pessoas. Elas precisam estar entusiasmadas e inspiradas a agir e mudar seu comportamento “, disse ele.
Na mesma entrevista, Solheim aproveitou para esclarecer alguns pontos que são básicos e ainda podem trazer muitas dúvidas para as pessoas. O primeiro deles é com relação ao desmatamento.Sabe-se que o manejo sustentável da terra é um procedimento que “não pegou” entre os donos de territórios. Pode trazer benefícios inegáveis, mas não convenceu porque não colabora para a lógica capitalista da acumulação de riqueza.
É verdade que, segundo a reportagem publicada no site do Climateaction,pesquisas sobre o tema sugerem que o restabelecimento de terras degradadas pode gerar entre benefícios econômicos por cada dólar investido, oferecendo um tremendo potencial para alcançar o aumento de temperatura abaixo de 2 graus, conforme estabelecido pelos líderes mundiais que concordaram com o Acordo Climático de Paris em 2015. Mas parece difícil convencer quem precisa ser convencido.
No entanto, o financiamento para a restauração da paisagem precisará ser ampliado em mais de US $ 300 bilhões por ano e, atualmente, só representa cerca de 3% do financiamento climático.
Para Solheim, é preciso arranjar meios para mudar esse tipo de atitude. E só o poder transformador do mercado financeiro é capaz disso. Não por acaso, durante a Cúpula One Planet, organizada pelo presidente francês Emmanuel Macron em Paris, a agência que Solheim administra nas Nações Unidas fez parceria com o BNP Paribas para aumentar o investimento verde em países emergentes.
Esta nova parceria tentará identificar projetos comerciais adequados com impacto ambiental e social significativo e levará US$ 10 bilhões em financiamento até 2025, visando aos projetos de pequenos proprietários, principalmente relacionados ao acesso à energia renovável, agroflorestação, acesso à água e agricultura responsável.
Para Solheim, a sociedade com o BNP Paribas marca um sinal para o setor financeiro de que o business as usual não é mais uma opção.
“Precisamos projetar agricultura sustentável e silvicultura de uma maneira que resolva a crise climática, ao invés de contribuir para que ela se acelere”, disse ele.
Assim seja
Fonte: G1 Amelia Gonzalez