Os habitantes do Hemisfério Norte que vêm reclamando do verão inclemente deveriam ir se acostumando. Pois, segundo uma pesquisa recente, o planeta deve enfrentar pelo menos mais quatro anos de calor, um período quente, com “probabilidade elevada de temperaturas altas a extremamente altas”.
Florian Sévellec, da Universidade de Brest, na França, e Sybren Drijfhout, do Instituto Meteorológico Real Neerlandês, em De Bilt, desenvolveram um modelo estatístico para prever as temperaturas globais médias no futuro próximo. Seus cálculos apontam 58% de probabilidade de os anos 2018 a 2022 serem mais quentes do que as tendências atuais. O estudo foi publicado nesta terça-feira (14/08) na revista especializada Nature Communications.
Mas “um ano quente não significa automaticamente uma onda de calor”, esclareceu Sévellec à DW, portanto não é isso o que ele e seu colega estão prevendo. A previsão simplesmente fornece temperaturas globais médias, não valores regionais específicos. “Mas, no total, é mais alta a probabilidade de ficar mais quente do que mais frio.”
A partir de 2022, as previsões se tornam menos confiáveis, pois o modelo não funciona bem para o futuro mais distante. Além disso, “o aquecimento terrestre não é um processo regular”, lembram os pesquisadores. Apesar de os diagramas térmicos mostrarem que no longo prazo Terra se aquece, podem se intercalar anos frios, em que a temperatura média caia abaixo da tendência prevista.
O que pode acontecer se a temperatura da Terra aumentar dois graus?
O motivo para tal é o caráter caótico do clima terrestre, onde oscilações naturais estão sempre surpreendendo os climatologistas. Essa variabilidade é também responsável pela pausa no aquecimento global após 1998. Nesse período, as temperaturas globais se alteraram relativamente pouco, dando a impressão que o aquecimento estagnara – o que os céticos da mudança climática adotaram como emblema. Só em 2012 a tendência ascendente foi retomada.
O sistema de previsão agora apresentado visa registrar tais oscilações naturais e calcular quão provável é que os próximos anos sejam mais quentes ou mais frios do que se espera. É semelhante às previsões de chuva, que nunca são precisas, mas apenas um cálculo de probabilidade.
Mas, como se sabe, previsões de chuva podem se enganar estrondosamente. E quanto aos cálculos dos climatologistas? É realmente necessário investir num novo sistema de ar condicionado? Ou será melhor esperar? Isso, só se saberá no fim de 2018, ao se comparar os dados climáticos efetivos com os previstos por Sévellec e Drijfhout.
No entanto, estimativas de outros cientistas também confirmam que o planeta tem anos quentes pela frente. “Não é nenhum resultado novo”, afirma Wolfgang Müller, do Instituto Max Planck de Meteorologia, em Hamburgo. E Gerhard Lux, assessor de imprensa do Serviço Alemão de Meteorologia reforça: “Faz 10 a 15 anos estamos repetindo que os períodos secos e quentes aumentarão.”
Uma iniciativa de pesquisa de âmbito nacional para prognósticos climáticos de médio prazo, denominada Miklip, obteve resultados semelhantes: seu modelo climático indica uma elevação contínua da temperatura, de 2019 a, pelo menos, 2026.
A novidade do estudo recém-publicado, contudo, não são os resultados em si, mas sim o método como foram calculados, usando modelos estatísticos, uma abordagem que vem se tornando cada vem mais importante no estudo do clima.
Para fazer uma previsão, os modelos climáticos globais levam em consideração todas as características do clima terrestre pesquisadas até então. No novo método analisam-se principalmente dados passados para medir a probabilidade de que um determinado fenômeno – por exemplo, períodos de tempo quente – vá ocorrer no futuro.
“Modelos estatísticos se compõem de algoritmos simples, os quais investigam correlações simples”, explica Wolfgang Müller. E o que torna essa forma de previsão especialmente atrativa é o fato de ela exigir capacidades de computação modestas.
“Uma previsão para dez anos só precisa de 22 milissegundos, podendo ser feita de modo praticamente imediato num laptop”, anunciam Sévellec e Drijfhout em seu estudo. Em comparação, no sistema empregado pelo MetOffice (o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido), a mesma previsão exige uma semana num supercomputador.
Também o Serviço Alemão de Meteorologia já opera em parte com um modelo estatístico, revela o assessor Lux, “e isso promete se tornar interessante.
Entretanto o novo modelo da dupla franco-holandesa não leva em consideração eventos regionais nem locais, sendo assim incapaz de produzir previsões para determinadas áreas. “Digamos que fique de fato mais quente, como previmos”, explica Sévellec, “nós não sabemos se vai ocorrer na Europa, na África ou em outra parte. O modelo não inclui padrões regionais.”
Para Müller, essa é uma grande desvantagem. “Temperaturas médias globais talvez tenham alguma utilidade para as companhias de resseguro”, mas as previsões regionais é que são realmente importantes, por exemplo para tomar medidas preventivas na agricultura.
Nesse ponto, a iniciativa Miklip tem respostas bem mais diferenciadas: seus cálculos apontam que a Europa e partes da Ásia e da América do Norte são especialmente atingidas pelas temperaturas altas.
Portanto, quem está pensando em adquirir um condicionador de ar deve primeiro conferir as previsões regionais. Pois, como lembra o cientista Florian Sévellec, “pode ficar muito quente numa parte do mundo, mas ainda relativamente frio numa outra”.
Fonte: Deutsche Welle