A erupção que durou 1 milhão de anos – e destruiu a camada de ozônio

66 milhões de anos atrás, os dinossauros foram vítimas da queda de um meteoro na península de Yucatán, no México. Você provavelmente já sabia disso: esse talvez seja o capítulo mais famoso da história natural – pau a pau com a ascenção de um certo Homo sapiens.

Pouco se fala, porém, da origem dos dinossauros. E ela, à exemplo do fim deles, foi violenta: há 251 milhões de anos – o marco final de um período geológico chamado Permiano –, a Terra foi palco de outra extinção massiva. Uma de deixar a do meteoro no chinelo, que fique claro: 96% das espécies marinhas e 70% dos vertebrados terrestres sumiram do mapa.

Não lamentamos – ou sequer lembramos – esse massacre. Em partes porque ele não foi culpa de uma pedra extraterrestre. Mas também porque os seres vivos que se deram mal não são tão carismáticos quanto os protagonistas de Jurassic Park.

Por exemplo: já ouviu falar dos trilobitas? Eles são artrópodes que caminhavam no fundo do oceano. Eles estão entre os primeiros animais a desenvolver olhos complexos. Alguns desses bichos alcançavam 80 centímetros de comprimento – o que é assustador considerando o quanto se assemelhavam a insetos. Imagine um inseto do tamanho de uma criança humana de 1 ano de idade!

Ilustração de trilobitas em livro de 1851. (Système silurien du centre de la Bohême/Wikimedia Commons)

Outro grupo interessante que não viveu para contar a história foram os euriptéridos, ou escorpiões-marinhos. Ao contrário do que nome dá a entender, eles viviam majoritariamente em água doce – e não têm nada a ver com os escorpiões contemporâneos, que são parentes das aranhas. Um das espécies mais famosas é o P. decorahensis – que uma criança descreveria (com razão) como uma lagosta diabólica de quase dois metros de comprimento.

Algumas análises, inclusive, indicam que o domínio dos dinossauros sobre o planeta só foi possível por que a grande extinção do Permiano tirou criaturas como os trilobites e euriptéridos do caminho.

Mais ou menos como a nossa espécie, inclusive – todo o estrago propagado pelo meteoro, destruindo os monstrossauros manda-chuvas da época, foi essencial para que os mamíferos finalmente saíssem da toca e tomassem conta do planeta. Esse processo acabaria dando origem a animais como nós, as girafas e os elefantes.

Pesquisadores liderados por Michael Broadley, da Universidade de Manchester, deram um passo importante para compreender a transição entre a era dos trilobites e a dos tiranossauros. Em um artigo científico publicado na última segunda (27), eles descobriram que um “dilúvio basáltico” na Sibéria destruiu a camada de ozônio – e, somado à extinção em massa, bateu mais um prego caixão do Permiano.

Antes que você pergunte, um dilúvio basáltico não tem nada a ver com a Bíblia. Não é chuva – é lava.

Os geólogos dão esse nome a um tipo de erupção vulcânica muito específico, que ocorre no meio de uma placa tectônica. Ao contrário das erupções cinematográficas, que são aquela explosão toda, nessas a lava vai saindo aos poucos, devagarzinho – e por muito, muito tempo.

O dilúvio basáltico siberiano durou 1 milhão de anos – quatro vezes mais tempo do que a existência da espécie humana. Foi tanta lava derramada na superfície que as rochas formadas por sua solidificação hoje ocupam 7 milhões de km2 – mais de um terço do território russo.

Antes da erupção, a crosta terrestre na região da Sibéria continha grandes quantidades de elementos como cloro, iodo e bromo. Eles foram arrastados pela lava para a superfície e liberados na atmosfera – onde permitiram reações químicas que destruíram o ozônio, parecidas com as causadas pelos CFCs (as substâncias que foram proibidas pelo protocolo de Montreal na década de 1980, e que eram muito comuns em produtos com aerosol naquela época).

Com os danos à camada de ozônio, a atmosfera ficou liberada para passagens de radiação ultravioleta, que é, aliás, craque em promover mutações danosas ao DNA – e a Terra se tornou um ambiente ainda mais inóspito para a vida.

“O tamanho dessa extinção é tão inacreditável que os cientistas passaram muito tempo se perguntando o que tornou os dilúvios basálticos siberianos tão mais letais que outras erupções similares”, afirmou Broadley em comunicado. “Nós concluímos que os halógenos [os elementos do 17º grupo da tabela periódica] que estavam armazenados na litosfera da Sibéria foram injetados na atmosfera terrestre durante a explosão vulcânica, destruindo a camada de ozônio e colaborando com a extinção em massa.”

Fonte: Super Interessante