Uma nova espécie de mini sapos foi descoberta no Morro Santo Anjo, em Massaranduba, no norte de Santa Catarina, em janeiro deste ano. O projeto que percorre a Mata Atlântica, na região da Serra do Mar brasileira, é comandada por três pesquisadores do Mater Natura e conta com o patrocínio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Batizado de Brachycephalus mirissimus, o animal foi oficialmente descrito em um artigo veiculado no início deste mês na publicação científica internacional PeerJ. “É uma sorte, mas também é o fruto de um trabalho de anos”, declara Marcos Bornschein, pesquisador do Mater Natura e professor da Universidade Estadual Paulista, Campus do Litoral, primeiro a encontrar a nova espécie.
Segundo o pesquisador, o novo sapinho possui entre 10 a 13 milímetros, o que corresponde ao tamanho de uma unha. “Não está muito claro o motivo desse processo de miniaturização, porque isso é algo que já ocorre há milhares de anos. Porém, existem algumas peculiaridades nesse sapo, como a redução do número de dedos, que também são menores”, explica Bornschein. “Essa diminuição aconteceria em razão do ambiente em que o sapo vive, com grandes altitudes e cercado por muitas folhas, mas isso ainda é algo especulativo.”
A pele do animal tem tom alaranjado vivo e uma mancha branca tanto na cabeça, quanto nas costas. Para o especialista, as cores fortes podem significar a presença de neurotoxinas que funcionam como uma defesa natural contra ataques (inclusive de aves). Segundo ele, algumas outras espécies encontradas de sapinhos também apresentaram esse tipo de mecanismo. “Por ser uma quantidade pequena, a pessoa que entrar em contato não corre risco de morte, apenas de ficar com as pontas dos dedos amortecidas por um tempo, por exemplo”, explica o professor.
No total, 15 espécies de mini sapos foram descobertas pelo projeto ao longo dos últimos cinco anos. Bornschein diz que o trabalho continuará, já que a equipe acredita que existam ainda muitas outras espécies a serem descobertas morando naquela região.
Por que a Mata Atlântica?
Segundo o pesquisador, o mundo passou, ao longo de sua história, por vários momentos em que se intercalou um clima mais úmido e quente com outro mais seco e frio. Isso faz com que, em tempos de maior calor, as florestas se expandam para áreas de campos (que preferem um clima mais gelado). Isso existe há muito tempo, desde que existiam as megafaunas (com seus bichos-preguiças gigantes e os tatus gigantes).
“A hipótese é que existiam espécies ancestrais a esses sapinhos que foram subindo junto com a floresta para o topo do morro”, explica Bornschein. “Isso fez com que essas espécies hoje vivam isoladas no topo da montanha e, por isso, elas são tão diversificadas hoje.”
O especialista também diz que, se fossem maiores, o mini sapos teriam conseguido migrar para outros lugares, mas pelo seu tamanho e dificuldade por ter dedos menores e em menor quantidades, eles permaneceram onde estavam, cruzando entre eles próprios. Esse é o motivo de serem encontrados atualmente na região da Mata Atlântica, com mais morros e clima úmido e quente.
Sapinhos em risco
O desmatamento na região é proibido, porém, o aumento das monoculturas juntamente com a expansão das fronteiras agrícolas estão prejudicando a região da Mata Atlântica. Segundo Bornschein, a região onde está o Brachycephalus mirissimus é equivalente a quase 57 hectares, o que daria em torno de oito Maracanãs. “Essa área é muito pequena e representa uma das menores disposições geográficas de espécies ao redor do mundo. Isso torna esses sapinhos muito vulneráveis”, explica o professor.
O especialista ainda acrescenta que esse dano à Serra do Mar aumenta o desmatamento e a queda das árvores, dando oportunidade a ventos quentes ressecarem mais o terreno – aumentando, assim, o risco de incêndios.
Agora, imagine só: se houver um incêndio na região do Morro Santo Anjo, os mini sapos com suas perninhas curtas não conseguirão sair do local e, por estarem em uma área relativamente pequena, acabarão sendo totalmente extintos. “Na nossa avaliação, a espécie sofre sim ameaça de extinção, pois está muito vulnerável”, afirma Bornschein.
Fonte: Revista Galileu