O vulcão Anak Krakatoa — responsável pelo tsunami que, segundo o balanço mais recente, matou 281 pessoas e deixou mais de mil feridos na noite do último sábado (22) — é talvez o mais conhecido dos 76 vulcões ativos da Indonésia (são 147 ao todo).
Seu nome significa “filho de Krakatoa” — o pai, que entrou em erupção em 26 de agosto de 1883, foi responsável pela segunda erupção mais letal da história registrada: 13 mil vezes mais intensa que a bomba atômica de Hiroshima, deixou 36 mil mortos e causou o ruído mais alto registrado na história. Ele pôde ser ouvido a 4,8 mil quilômetros, quase a distância entre Porto Alegre e Caracas, capital da Venezuela.
Ele expeliu muito, muito material. Uma enorme quantidade de dióxido de enxofre (SO2) pegou carona nos ventos de grande altitude e se espalhou por toda a atmosfera da Terra. Reações químicas posteriores com o novo “ingrediente” aumentaram a concentração de ácido sulfúrico (H2SO4) nas nuvens, que passaram a interagir a luz do Sol de maneira diferente.
Resultado? Uma queda de 1,2 °C nas temperaturas médias do Hemisfério Norte no verão daquele ano – e meses à fio com o pôr do Sol mais exótico já registrado (a estrela chegou a parecer púrpura ou lavanda em certas regiões). Há quem afirme que o céu psicodélico, o frio e o clima deprê generalizado inspiraram o quadro O Grito, do expressionista Edvard Munch.
O Krakatoa, antes de se auto destruir, ficava em uma ilha chamada, bem… Krakatoa. Na verdade, o mais correto seria dizer que Krakatoa era o nome de uma ilha formada por vários picos vulcânicos conjugados uns aos outros. Vulcões “siameses”, ligados pelo nascimento.
Para entender, vamos voltar ao ensino fundamental. Você sabe que a Terra tem recheio. A camada mais externa, a crosta, é de rocha sólida (que bom, diga-se de passagem: você está em cima dela neste exato momento). A crosta tem, em média, 40 km, e não passa de 100 km nos pontos mais espessos.
Diretamente abaixo, porém, há uma camada bem mais espessa de rocha em estado líquido: o manto, com seus 2900 km de espessura. Magma puro, que chega a uns 900 ºC. Quase o verão em Recife.
Magma e lava são dois nomes da mesma coisa: a calda de rocha pastosa que compõe o manto. Da mesma forma que um meteoro muda de nome para meteorito quando colide com o chão, o magma passa a ser chamar lava quando é expelido e entra em contato com a superfície da Terra.
Quando aparece uma fissura na crosta no fundo do mar, o magma expelido se torna lava. A lava se solidifica em contato com a água e vira rocha. Essa rocha se acumula. E se acumula. Se acumula tanto que uma hora emerge acima da linha da água: bingo, temos uma ilha.
Conforme a ilha cresce para cima e para os lados, a rocha expelida e solidifica se assenta no formato de uma montanha. Assim surge o vulcão típico dos desenhos animados: um cone com um buraco particularmente quente no cume. Esse cone só existe, é bom deixar claro, graças ao acúmulo de lava solidificada após diversas erupções. Nenhum vulcão nasce com forma de cone, e nem todos os vulcões têm forma de cone.
De acordo com a Universidade do Estado de Oregon, nos EUA, a ilha de Krakatoa original era formada não por um, mas por três cones, que cresceram extremamente próximos uns dos outros: Rakata, Danan and Perbuwatan. Esses três não estavam lá desde sempre: nasceram em cima do cadáver de 7 km de diâmetro de um outro vulcão, que provavelmente foi destruído em 416 a.C. Em resumo, o Krakatoa pai tinha um pai, o avô do Krakatoa atual.
Essa abundância de vulcões é típica em todas regiões litorâneas que dão para o Oceano Pacífico, do Chile à Indonésia, passando por EUA e Japão. A essa faixa de atividade sísmica incomum dá-se o nome de Anel de Fogo.
A ilha de Krakatoa tinha 882 metros de altitude quando protagonizou a tragédia, em 1883. Costuma-se imaginar a erupção de um vulcão como o momento em que a lava é expelida pelo cume e escorre montanha abaixo. No caso do Krakatoa, porém, a montanha inteira (na realidade, a ilha inteira) explodiu, gerando tsunamis mais barra pesada que os deste final de semana. Dois terços da ilha simplesmente desapareceram. Sumiram do mapa.
É claro que lá embaixo, no leito do oceano, a lava não parou de ser expelida. Quase meio século após a tragédia — um período de silêncio incomum — o ciclo recomeçou. No vale submarino localizado entre os picos destroçados de Danan e Perbuwatan, emergiu lentamente um novo cone, que foi batizado de Anak Krakatoa, ou filho de Krakatoa. Esse cone já emergiu acima da linha da água e esta se tornando, lentamente, uma nova ilha.