Pesquisadores dos Estados Unidos realizaram um procedimento que pode espalhar genes específicos através de uma espécie selvagem para outros animais. A técnica de “gene dirigido” poderia reescrever a composição genética de camundongos para que eles carregassem o DNA projetado.
O gene dirigido impulsiona atividades ao quebrar padrões de herança para garantir que certos genes, principalmente os modificados, sejam transmitidos de uma geração para outra em uma taxa maior que o normal. O procedimento tem potencial para combater doenças como a malária, reescrevendo a composição genética dos mosquitos que carregam o parasita da enfermidade.
Outros genes dirigidos já foram usados para tornar inférteis os mosquitos portadores de doenças. Se eles fossem soltos na natureza, é provável que as populações de mosquitos caíssem. Outros impulsos genéticos impulsionaram a resistência dos insetos à infecções por parasitas.
Cientistas suspeitam que a mesma abordagem possa ser eficaz nos projetos de erradicação de espécies invasoras em ilhas remotas, por exemplo. Apesar do potencial, há pesquisadores cautelosos em relação ao método, visto que os casos que dão errado podem ocasionar muitos problemas ao meio ambiente.
Em 2016, a Academia Nacional de Ciências dos EUA determinou que mais estudos eram necessários para entender e controlar os genes antes que eles pudessem ser usados com segurança na natureza.
Camundongos
Kimberly Cooper, bióloga da Universidade da Califórnia em San Diego, queria criar um gene dirigido em camundongos, com a intenção de gerar animais com mutações subjacentes às doenças humanas.
Em artigo publicado na revista Nature, ela e sua equipe descrevem uma maneira de manipular geneticamente embriões de ratos para que as fêmeas transmitam DNA modificado para as futuras gerações mais rápido do que as condições de herança permitem. O procedimento não funcionou nos machos, mas acabou gerando mutações neles.
“As descobertas sugerem que fazer isso em camundongos é mais complicado do que em insetos”, disse Cooper. “Isso levanta questões, como se isso será eficiente o necessário para uma liberação selvagem.” Uma preocupação é que as mutações nos machos os deixaram resistentes ao gene dirigido, o que poderia prejudicar o uso do método para erradicar roedores invasores.
Cooper ainda acredita que a técnica poderia ser usada para criar animais que carregam múltiplas falhas genéticas ligadas a doenças humanas, como câncer, diabetes e artrite. “A esperança é que você possa fazer mudanças individualmente, entender cada uma delas e depois criá-las todas juntas”, ela afirmou.
Christophe Boëte, da Universidade de Montpellier, na França, sugeriu que usar a abordagem para controlar espécies invasoras era uma perspectiva distante. “Os resultados destacam que tal ferramenta para a erradicação na natureza está longe de estar disponível. A baixa eficácia significa que levaria muitas gerações e favoreceria a seleção de resistência contra a unidade”, ele explicou. “Isso é apenas a pequena parte tecnológica das questões. Há outros aspectos éticos, regulatórios e ecológicos a serem considerados com maior importância antes de empreender essa técnica para conservação.”
Para Cooper, é crucial que os pesquisadores discutam esse método com a sociedade. “Sempre haverá pessoas que acham que o trabalho não deveria ser feito. Não sei se isso é realmente prático”, comentou. “Mas é complicado. Se todos tiverem voz, nada será feito. As pessoas que conheço e que trabalham nesta área são cientistas muito cautelosos, e é importante dizer que esta é uma tecnologia incrivelmente poderosa para o bem.”
Fonte: Revista Galileu