Deutschlandfunk – Raiva e desespero em Brumadinho, 28/01
“Muitos ainda buscam por familiares e amigos. Eles se sentem mal informados e abandonados – é o caso de Suely de Oliveira Costa, cujo marido está desaparecido. […] ‘Ninguém me diz nada, ninguém dá respostas, estou desesperada. Parem de me dizer que tudo vai ficar bem, ele está morto, como tudo deve ficar bem? Meu Deus, primeiro a Vale destruiu Mariana, agora Brumadinho, e ninguém reage. Qual a próxima cidade que eles vão destruir?’
[…] O governador promete punições severas para os responsáveis e indenizações para as vítimas, mas o povo não acredita nele, porque também depois do desastre no Rio Doce [Mariana] não houve consequências.”
Süddeutsche Zeitung – O inferno parte 2, 27/01
“As imagens apocalípticas que agora rodam o mundo novamente não são conhecidas apenas dos brasileiros. Elas remetem fortemente ao rompimento da mina de minério de ferro de Mariana, há três anos. […]
No Brasil há, segundo dados oficiais, 24.092 barragens registradas. No mais recente relatório da Agência Nacional de Águas, responsável pela segurança das barragens, 723 dessas barragens são classificadas como “de alto risco”, e 45 como “com nível de alerta elevado”. A barragem do Feijão, que rompeu na sexta-feira, não estava entre elas, o que levanta a questão: quantas das minas de minério de ferro brasileiras são de fato bombas-relógios prestes a explodir?”
Handelsblatt – Indenizações podem pesar sobre a Tüv Süd, 26/01
“A questão da responsabilidade pela tragédia deve ser difícil de responder. A certificadora alemã Tüv Süd também será afetada. O CEO da Vale, Fabio Schwartsman, afirmou que a empresa de auditoria de Munique classificou a barragem como segura em setembro de 2018. A Tüv Süd confirmou ter sido encarregada pela Vale de inspecionar a barragem. ‘Segundo o que sabemos até agora, não foram constatadas deficiências’, disse um porta-voz. […]
O fato de mais uma barragem ter se rompido apenas três anos depois da catástrofe de Mariana também é um problema para o presidente Jair Bolsonaro, que tomou posse em 1º de janeiro. Afinal, o incidente é um obstáculo a seus planos de promover maciçamente a mineração no Brasil. Em contrapartida, ele pretende flexibilizar as normas ambientais e facilitar a concessão de licenças.”
The Guardian – Aumenta a angústia de familiares, 27/01
“Marconi Machado veio com três familiares em busca de notícias de seu sobrinho desaparecido, Wanderson da Silva, geólogo da Vale que se casaria em maio. […] Marconi ficou sabendo da tragédia quando vídeos e notícias começaram a circular no Whatsapp. Ele criticou a falta de informações.
‘O Brasil continuar sem aprender suas lições. O país tem oportunidades maravilhosas de construir sua história, mas insiste em cometer os mesmos erros. As pessoas recorrem a palavras, e não a ações’, disse.”
El Mundo – Tragédia numa barragem no Brasil, 27/01
“A paisagem nos arredores do antigo riacho de Feijão é desoladora. A onda de barro, de 12 milhões de metros cúbicos, inundou um vale inteiro. […] A lama avança lentamente em direção ao rio Paraopeba, que abastece a maioria das cidades da região. […]
‘Era uma tragédia anunciada, não é a primeira vez que acontece. Já é hora de alguém fazer alguma coisa. Chorei muito, tudo se acabou para sempre. Não nos resta nada”, disse João Baptista Maia, de 66 anos, se lembrando do que ocorreu em Mariana há apenas três anos.”
Le Monde – Ruptura de barragem reaviva controvérsia, 26/01
“Os brasileiros esfregam os olhos ao verem as imagens do desastre em Brumadinho, com a impressão de estarem revivendo a tragédia ocorrida no estado de Minas Gerais em novembro de 2015. […] A impressão de déja vu é ainda mais forte pelo fato de a mesma empresa estar na origem dessa nova tragédia: a gigante da mineração Vale, maior produtora mundial de minério de ferro e a mais importante empregadora na pequena Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte.
[…] ‘O presidente [Bolsonaro] terá que mudar seu discurso sobre a flexibilização das licenças de mineração’, diz Letícia Marques [professora de Direito Ambiental na PUC-SP]. ‘O que vejo é que população brasileira está indignada e quer mais controle.’ Uma população brasileira com raiva, mas também preocupada com a repetição dessas tragédias.”
Fonte: Deutsche Welle