Desmatamento e agrotóxicos podem causar prejuízo à economia

A soja, principal produto de exportação brasileiro, é depende da polinização por insetos. (Foto: Creative Commons / diffe88)
A SOJA, PRINCIPAL PRODUTO DE EXPORTAÇÃO BRASILEIRO, É DEPENDE DA POLINIZAÇÃO POR INSETOS. (FOTO: CREATIVE COMMONS / DIFFE88)

A morte de abelhas devido ao uso de agrotóxicos e mudanças em seu habtat já não são uma novidade. Um novo estudo, elaborado pela revisão de outros 73 relatórios, indica que mais de 40% das espécies de insetos estão ameaçados de extinção.

“Nosso trabalho revela taxas dramáticas de declínio que podem levar à extinção de 40% das espécies de insetos do mundo nas próximas décadas”, escreveram os autores do estudo Francisco Sánchez-Bayo, da Universidade de Sydney, e Kris Wyckhuys, da Universidade de Queensland.

De acordo com os pesquisadores, a mortandade dos invertebrados é consequência de diversos fatores, como a urbanização, mudanças climáticas, poluição e aumento de espécies invasoras que atacam os insetos  A agricultura, entretanto, é considerada a maior responsável pelo desequilíbrio ambiental.

“A menos que mudemos nossas formas de produzir alimentos, os insetos como um todo irão seguir o caminho da extinção em poucas décadas”, escrevem. “As repercussões que isso terá para os ecossistemas do planeta são, no mínimo, catastróficas”.

Mas a “catastrofe” não se resume aos sistemas naturais. A própria agricultura sofre as consequências de suas práticas. O “Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil”, produzido em conjunto pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e pela Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP), mostra o tamanho do nosso problema.

No Brasil temos pelo menos 600 espécies de insetos transitando por zonas agrícolas, sendo que 250, pelo menos, tem potencial polinizador. Das 191 culturas agrícolas utilizadas para a produção de alimentos no país, 114 (60%) são visitadas por polinizadores.

As abelhas são as mais importantes, responsáveis por 66% da polinização da produção agricola, mas outros insetos, como besouros, borboletas, mariposas, vespas e moscas também fazem sua parte, assim como aves e morcegos.

76% das espécias cultivadas no Brasil dependem dos polinizadores. (Foto: Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil)
76% DAS ESPÉCIAS CULTIVADAS NO BRASIL DEPENDEM DOS POLINIZADORES. (FOTO: RELATÓRIO TEMÁTICO SOBRE POLINIZAÇÃO, POLINIZADORES E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO BRASIL)

Com base nos núimeros do agronegócio brasileiro e a contribuição animais para a produtividade, os pesquisadores calcularam que o trabalho dos polinizadores renderam R$ 43 bilhões em 2018. Cerca de 60% dessa perda seria no principal produto de exportação do país: a soja. Seguido pelo café (12%), laranja (5%) e maçã (4%).

“A polinização das plantações em algumas regiões da China é feita de forma manual, mas o custo financeiro é alto e a produção e a qualidade dos frutos diminuem”, explica a a bióloga Vera Imperatriz, revisora do relatório de polinização brasileiro e professora aposentada do Instituto de Biociências (IB) da USP.

A conclusão do documento é que, para evitar uma perda na produtividade da agriculturam é preciso manter um firme controle na regulamentação do uso de agrotóxicos, preservar as pareas naturais que promovam o serviço ecossistêmico de polinização, e regulamentar a meliponicultura – que é a  criação de espécies nativas de abelhas sem ferrão.

“O documento, além de trazer um amplo diagnóstico sobre as ameaças aos polinizadores nativos de nossa região”, afirmou o professor Antônio Saraiva, da Escola Politécnica (Poli) da USP, que escreveu um dos capítulos. “Sugere propostas de proteção aos insetos, dados importantes para tomada de decisões governamentais.”

O relatório destaca, porém, que estamos indo na “contramão deste diagnóstico”. Em janeiro, o Ministério da Agricultura brasileiro liberou o registro de 28 agrotóxicos e princípios ativos, entre eles o Sulfoxaflor, inseticida que está ligado ao extermínio das abelhas.

A situação preocupante, porém, não atinge todos os insetos do planeta. Eles vão continuar existindo, sendo que algumas espécies devem encontrar ambiente cada vez mais própício para proliferarem. Invertebrados bem adaptados à vida nas cidades, como moscas caseiras e baratas, só tem a ganhar com o desmatamento, urbanização e o aumento da temperatura do planeta.

Fonte: Revista Galileu