O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou nesta quinta-feira (14/02) que o Corpo de Engenheiros do Exército, uma agência federal dos Estados Unidos, deve revisar todos os processos da mineradora relacionados a barragens.
Criado no século 19, o Corpo de Engenheiros do Exército (Usace, na sigla em inglês), é ligado ao Departamento de Defesa dos EUA e é responsável por planejar e licenciar eclusas e barragens no país. Com 37 mil funcionários, entre militares e civis, o Corpo também firma contratos internacionais de consulta e elaboração projetos. Em 2012, por exemplo, o governo brasileiro contratou o Usace para estudar o projeto de uma hidrovia no rio São Francisco.
No mesmo anúncio sobre a contratação dos americanos, Schvartsman admitiu que as medidas de monitoramento da barragem da Mina do Córrego do Feijao, em Brumadinho, não funcionaram. “A Vale reconhece, humildemente, que seja lá o que vinha fazendo, não funcionou, já que uma barragem caiu”, disse o presidente da Vale em depoimento à comissão externa da Câmara que investiga o rompimento da estrutura em 25 de janeiro, que deixou, até o momento, 166 mortos e 155 desaparecidos.
No mesmo depoimento, Schvartsman também disse que a Vale é “uma joia brasileira” não pode ser condenada pelo rompimento da barragem em Brumadinho “por maior que tenha sido a tragédia”.
Desde a tragédia, a Vale tem sido alvo de críticas sobre a forma como operava e monitorava suas barragens de rejeitos de mineração. Documentos obtidos pelo Ministério Público de Minas Gerais apontaram que a estrutura de Brumadinho e outras noves barragens haviam sido classificadas pela mineradora como em “zona de atenção” no ano passado.
Segundo um dos documentos internos, citado pela Folha de S.Paulo, a Vale chegou a estimar os custos e o número de mortes caso a barragem de Brumadinho se rompesse. A previsão era de que mais de cem pessoas morreriam e de que os custos poderiam chegar a 1,5 bilhão de dólares (cerca de 5,6 bilhões de reais).
A barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, liberou quase 12 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos minerais e deixou um rastro de destruição em instalações da Vale e numa comunidade de Brumadinho. A lama e os rejeitos também atingiram o rio Paraopeba.
Segundo a Vale, a barragem havia sido inspecionada pela certificadora alemã TÜV-Süd em junho e setembro de 2018, ocasião em que foi atestada como estável. No final de janeiro, foram presos dois engenheiros da firma alemã que atestaram a estabilidade e três funcionários da Vale responsáveis pela mina e seu licenciamento. Eles foram soltos no dia 7 de fevereiro.
Após o desastre, autoridades investigam se houve fraude nas análises que atestaram a segurança da barragem.
Na semana passada, o depoimento dos engenheiros terceirizados da TÜV-Süd à Polícia Federal vazou para a imprensa. Segundo as TVs Globo e Record, o engenheiro Makoto Namba afirmou que foi questionado por um funcionário da Vale se a TÜV-Süd iria assinar a certificação e que se sentiu pressionado para atestar a estabilidade da barragem.
O engenheiro disse ainda que assinaria o laudo se a mineradora adotasse recomendações feitas em junho de 2018 e destacou que o questionamento pareceu uma maneira de pressioná-lo a “assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato”.
De acordo com a Folha de São Paulo, o laudo continha 17 recomendações para solucionar problemas de erosão e drenagem da barragem e, assim, garantir a segurança da estrutura.
Trocas de e-mails identificados pelos investigadores revelaram também que, dois antes da tragédia, a Vale descobriu problemas nos sensores que monitoravam a barragem e teria informado a TÜV-Süd e a Tec Wise, outra contratada da mineradora.
Namba disse, porém, que só soube do problema depois do rompimento da barragem.
Fonte: Deutsche Welle