Vírus mortal aos anfíbios é detectado pela primeira vez no Brasil

Rã-touro também apresentou cargas de ranavírus, mesmo que ela seja considerada resistente ao patógeno (Foto: Wikipedia Commons)

RÃ-TOURO TAMBÉM APRESENTOU CARGAS DE RANAVÍRUS, MESMO QUE ELA SEJA CONSIDERADA RESISTENTE AO PATÓGENO (FOTO: WIKIPEDIA COMMONS)

Foi identificada no Brasil, pela primeira vez, a presença e a ação do ranavírus na natureza. O patógeno infectou rãs, sapos e pererecas presentes em duas lagoas na cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. O vírus não causa danos aos humanos, mas é uma grave ameaça aos animais, provocando hemorragia interna e ulcerações na pele.

O estudo é fruto da pesquisa de pós-doutorado de Joice Ruggeri, apoiada pela agência FAPESP,  em parceria com vários pesquisadores brasileiros, que coletaram exemplares de rãs, sapos e pererecas em diferentes lagoas brasileiras localizadas na região da Mata Atlântica. 

Os animais passaram por uma análise molecular, sendo utilizada a técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR), capaz de “amplificar o DNA”. “Coletamos as amostras, fizemos a extração do DNA no laboratório e realizamos um PCR quantitativo em tempo real, que não somente possibilita detectar o patógeno, mas também quantifica a carga viral em cada uma das amostras”, explica Ruggeri em entrevista à GALILEU.

Os pesquisadores encontraram girinos de espécies nativas e de rãs-touro (Lithobates catesbeianus), que são consideradas invasoras ao habitat local. Em uma das lagoas, onde só havia espécies nativas, os animais apresentaram níveis baixos do ranavírus.

O ranavírus atinge a população de anfíbios em países europeus e nos Estados Unidos. Agora, ele foi identificado no Brasil em rãs, sapos e pererecas.  (Foto: Wikipedia Commons)

O RANAVÍRUS ATINGE A POPULAÇÃO DE ANFÍBIOS EM PAÍSES EUROPEUS E NOS ESTADOS UNIDOS. AGORA, ELE FOI IDENTIFICADO NO BRASIL EM RÃS, SAPOS E PERERECAS. (FOTO: WIKIPEDIA COMMONS)

Por outro lado, em outra lagoa, onde não havia nenhuma espécie nativa, foram achados mais de 20 girinos de rã-touro mortos, com lesões severas na pele causadas pelo vírus. Dois girinos vivos encontrados tinham baixos níveis de infecção.

Para os pesquisadores, apesar das rã-touro apresentarem naturalmente uma alta tolerância ao vírus, havia altas cargas do patógeno nesses animais. Originárias da América do Norte, elas são a principal espécie criada para consumo humano e são criadas em ranários, localizados em regiões onde foram feitas as coletas.

Anfíbios infectados por ranavírus são identificados na Mata Atlântica (Foto: Divulgação)

ANFÍBIOS INFECTADOS POR RANAVÍRUS SÃO IDENTIFICADOS NA MATA ATLÂNTICA (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Uma das hipóteses é que o vírus teria se disseminado na Mata Atlântica através dos ranários (o Brasil é o segundo maior produtor de rãs do mundo). “Ainda não sabemos se o vírus é endêmico do Brasil, mas pode ser que ele tenha surgido a partir da introdução de invertebrados no país. Um deles é a rã-touro, mas esse vírus também infecta  peixes, outros anfíbios e répteis”, afirma Ruggeri.

Duas rã-touro estudadas não somente tinham o ranavírus, como também o fungo Batrachochytrium dendrobatidis, responsável por praticamente levar à extinção 90 espécies de sapos. O fungo foi detectado em 7 de 19 amostras de girinos mortos, de espécies nativas e invasoras (amostras das duas lagoas).

“Os  anfíbios são os mais ameaçados entre os grupos de invertebrados. Descobrir o vírus no Brasil foi um passo muito importante para entendermos a sua dinâmica na natureza e saber se existe uma correlação com o fungo. Apesar do estudo estar no seu início, ele é essencial para a conservação dos anfíbios brasileiros”, conta a pesquisadora.

Fonte: Revista Galileu *Com supervisão de Thiago Tanji