A temperatura supera os 31 graus na sombra. As folhas das palmeiras amenizam o calor abrasador na reserva natural Pacaya Samiria, em plena Amazônia peruana, onde proteger a biodiversidade é um mantra.
Neste local há sete comunidades, na maioria da etnia Cocama-Cocamilla, que aproveitam os recursos naturais do entorno. Uma delas é a comunidade 20 de Enero, composta por 95 famílias que há 18 anos vivem da agricultura e da colheita do buriti, muito utilizado na culinária local e na fabricação de cosméticos.
Até pouco tempo, os moradores cortavam os pés de buriti (que podem chegar a 40 metros de altura) para extrair a fruta. Agora, para lutar contra a extinção, recolhem os frutos subindo nas árvores através de um sistema de cordas, conhecido como “estrobos”.
O fruto, que pode ser consumido in natura, pode ser transformado em doces, sucos, picolé, licor, vinho e produtos de beleza, como cremes, xampus, filtro solar e sabonetes.
“Para nós, o buriti é um tesouro Estamos conservando este recurso para nossos filhos. Antes, cortávamos a árvore, agora conservamos”, disse à AFP Wiler Tuesta, presidente da Associação de Produtores e Processadores de Óleo de Buriti.
Tuesta, de 42 anos, que também preside a comunidade, vive com os quatro filhos e os pais numa precária casa de madeira com teto de folhas de palmeira. Cozinham num fogão à lenha e não tem energia elétrica e consomem e tomam banho com a água do rio.
Ele afirma que as autoridades não dão apoio suficiente.
“Na comunidade não temos luz, água, saúde”, disse. “Estamos esquecidos”, lamenta, ao falar sobre este local onde só possível chegar de barco, navegando por duas horas por rio a partir de Nauta, na cidade portuária de Iquitos, a cerca de 1.000 km a nordeste de Lima.
Megadiversidade –
Em Pacaya Samiria existem 30.810 hectares de buritis, chamados popularmente “bosques da vida”, as áreas pantanosas onde crescem essas árvores.
Em 2018, a colheita rendeu 21.327 sacos -de 40 kg- de frutos de buriti, comercializados a 129 mil dólares, segundo ministério do Ambiente. Enquanto buscam cumprir com os requisitos sanitários para abrir novos mercados, os produtos são comercializados apenas no Peru.
Recentemente, o presidente Martín Vizcarra escolheu esta reserva para lançar o plano Patrimônio Natural do Peru, um fundo que destinará 140 milhões de dólares para proteger 38 áreas naturais com 17 milhões de hectares.
Essa verba será utilizada nos próximos 20 anos na aquisição de equipamentos para monitorar a vida silvestre, assim como aumentar e fortalecer a participação das populações locais e indígenas na gestão das áreas protegidas.
“Vamos promover a cultura da conservação e sustentabilidade para cuidar de nossas áreas protegidas”, garantiu Vizcarra num pronunciamento em Buenos Aires, uma localidade às margens do rio Marañón.
Localizada na região Loreto, a reserva natural de Pacaya Samiria é uma área de bosque úmido tropical e tem uma extensão de mais de dois milhões de hectares, onde há mais de 60 espécies de flora e fauna silvestre que podem ser exploradas comercialmente.
Além do buriti, nesta região há milhares de espécies da flora e fauna, como a tartaruga, o jaguar e o pirarucu, peixe de água doce considerado como um dos maiores do planeta.
A Amazônia tem a maior reserva de água doce e a mais variada biodiversidade do Peru.
“Para nós é muito importante este acordo porque vai nos beneficiar na proteção das áreas naturais”, disse à AFP Jacobo Rodríguez, coordenador da bacia Yanayacu Pucate, num posto de vigilância da reserva Às margens do rio Marañón.
– Guardiões da Amazônia –
Criada há 46 anos, esta área natural reúne um população indígena com cerca de 15 mil pessoas que vivem dos recursos locais.
Segundo o ministério do Ambiente, mais de três milhões de hectares de territórios indígenas dentro das áreas naturais protegidas.
As comunidades estão conseguindo preservar a selva e gerar sustentabilidade para melhorar sua qualidade de vida, de acordo com as autoridades peruanas.
Esta iniciativa conta com o apoio de organizações como World Wildlife Fund (WWF), Andes Amazon Fund, Fundação Moore e Fundo para o Meio Ambiente Mundial.
“É necessário que outros países sigam o exemplo do Peru para proteger a Amazônia”, afirma Carter Roberts, da WWF.
Alguns especialistas estimam que o planeta se encontra perigosamente num ponto de inflexão na Amazônia, onde desapareceu 17% da selva nos últimos 50 anos, aproximando-se cada vez mais dos 20% que se considera que as florestas secariam.
O Peru ocupa o quarto lugar em extensão de florestas tropicais em nível mundial. Estas florestas absorvem o gás carbônico, ajudando a reduzir os efeitos da mudança climática.
Fonte: AFP