Semana após semana, também na Alemanha, o movimento Greve pelo Futuro tem mobilizado principalmente jovens em prol da proteção do clima. Entre a população em geral, a iniciativa conta com simpatia.
Pesquisas de opinião indicam que uma grande maioria dos alemães quer uma mudança fundamental da política climática e ambiental. Entre as exigências, está uma aceleração da expansão das energias renováveis e a reforma das políticas de transportes e agrária. A seguir, quatro temas recorrentes.
1. O governo não faz o suficiente
Segundo a pesquisa Deutschlandtrend, da rede de TV ARD, 81% dos alemães veem grande necessidade de ação para a proteção do clima, enquanto para apenas 17% haveria pouca ou nenhuma necessidade.
O governo federal indicou uma comissão para orientar o abandono da energia produzida por carvão mineral. Em janeiro, o colegiado recomendou que o país complete a virada energética até, no máximo, 2038. Segundo uma enquete do Trendbarometer para a RTL/N-TV, publicada pouco mais tarde, mais de um quarto da população aprova o consenso alcançado, mas para 14% a data é cedo demais, enquanto para 50%, tarde demais.
Há anos é muito elevada a aprovação à guinada energética e a expansão das energias renováveis no país. Num estudo atual do Departamento Federal do Meio Ambiente (UBA) sobre consciência ambiental, 92% dos consultados apoiaram o fortalecimento das energias solar e eólica, e 79% quer o abandono da energia nuclear.
O estudo mostra ainda que, para 80% dos alemães, Berlim não faz o suficiente pela proteção do clima e do meio ambiente, e a guinada energética transcorre lenta demais. Pior ainda é a reputação da indústria nacional, a qual, segundo 92%, não faz o suficiente nos setores em questão.
2. Nova política de transportes
Os cidadãos também se mostram muito insatisfeitos com a política federal de transportes. As montadoras e o governo estão na berlinda da opinião pública, devido ao escândalo da manipulação de emissões de veículo a diesel e os dados sobre a poluição atmosférica nas cidades.
No estudo do UBA, 89% afirmaram que a política de transportes se orienta sobretudo pelos interesses do empresariado. Assim, só 21% da política de Berlim atentaria às necessidades da população, e 27% às do meio ambiente.
O desejo dos alemães é que proteção climática e ambiental estejam em primeiro lugar; em segundo lugar está a possibilidade de todos se locomoverem com conforto e custos baixos no dia a dia; cabendo o terceiro lugar ao crescimento econômico das empresas alemãs.
A opinião dos cidadãos sobre o assunto está mudando. “A maioria dos alemães é subitamente a favor de limite de velocidade”, era uma manchete do tabloide Bild em junho. Segundo a pesquisa do instituto Forsa citada na matéria, 57% reivindicam um limite geral nas autoestradas, sugerindo, em média, 136 quilômetros por hora.
3. Agropecuária ecológica
Os alemães parecem também muito preocupados com os danos ambientais causados pela agropecuária industrial. Segundo a pesquisa do UBA, para 90% deles a contaminação do solo e da água por pesticidas como o glifosato, excesso de adubo e monoculturas é um grande problema, assim como a resultante redução da diversidade de espécies de pássaros e insetos, entre outras.
Outra causa de grande apreensão para os consultados é a insuficiente proteção dos animais nos estábulos (82%) e a emissão de gases do efeito estufa pela agropecuária (69%).
A opinião pública sobre a política agrária alemã é semelhante à relativa aos transportes: para 86% ela atende, acima de tudo, aos interesses da indústria química, conglomerados alimentares e produtores de sementes, só cabendo 22% de sua atenção à proteção ambiental e climática, e também negligencia os interesses de consumidores agricultores.
O ideal para os participantes da enquete seria que na política agrária o clima e o meio ambiente estivessem em primeiro lugar, seguidos pelo abastecimento alimentar saudável para todos, ficando os interesses econômicos em terceiro lugar.
Para alcançar essa meta, mais de 90% dos alemães se dizem a favor de controles e punições mais severos para infrações às leis ambientais; taxas ambientais mais altas sobre o emprego de pesticidas e adubos; e normas mais rigorosas na criação de gado.
Além disso, segundo o UBA, 82% apoiam impostos e taxas aduaneiras mais elevadas para alimentos especialmente nocivos ao meio ambiente, assim como maiores incentivos à agropecuária ecológica.
É semelhante a opinião dos agricultores consultados pelo instituto de pesquisa de opinião Forsa, por encomenda da organização de proteção da natureza Nabu: 91% querem aumento de subsídios para uma pecuária mais respeitosa com os animais, e 83%, uma produção segundo altos padrões ambientais. Em caso de “incentivos apropriados”, 87%, estariam dispostos a futuramente fazer mais pelo meio ambiente.
4. Mudança política e ação própria
A eleição para o Parlamento Europeu a as pesquisas de intenção de voto evidenciaram o desejo de mudança fundamental na política. Entre as siglas alemãs estabelecidas – União Democrata Cristã e Social Cristã (CDU), Partido Social-Democrata (SPD) e Partido Liberal Democrático (FDP) –, até agora a proteção climática e ambiental não tivera prioridade, e por isso eles caem na preferência do eleitorado.
Em contraste, quem conquista simpatias e aprovação é o Partido Verde, que se engaja por essas metas desde sua fundação. Certos prognósticos apontam que o próximo chefe de governo da Alemanha poderá ser verde – algo inimaginável alguns meses atrás.
Na pesquisa ARD-Deutschlandtrend, 85% disseram acreditar que a mudança climática global não pode mais ser detida sem uma reviravolta nos comportamentos econômico e de vida. Para 68%, contudo, a responsabilidade cabe mais à indústria do que aos consumidores.
Mas ao mesmo tempo cada vez mais cidadãos se mostram dispostos a agir por conta própria. Numa enquete da companhia de pesquisa de mercado Yougov, encomendada pela agência de notícias DPA, 74% manifestaram a intenção de abrir mão de voos de curta distância, 56% deixariam de usar o automóvel nos centros urbanos.
Além disso, na “luta efetiva contra o aquecimento global”, 63% se dispõem também a comer bem menos carne. Segundo a ARD-Deutschlandtrend, a maioria aposta antes em incentivos por parte da política do que em proibições.
Fonte: Deutsche Welle