As manchas de óleo de origem ainda desconhecida no Nordeste não tornaram as praias inaptas para banho. Os dados estão em relatórios de balneabilidade mais recentes dos Estados mais afetados pelo material.
Mas se o contato com o petróleo é prejudicial à saúde, qual risco correm as pessoas que tomam banho nessas praias?
O coordenador de Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), Ricardo César de Barros Oliveira, explicou à BBC News Brasil que as manchas apareceram em forma de óleo quase sólido, ou seja, já com efeitos do clima, da luz e do sal.
“É um material já condensado, quase solidificado. É um material consistente que tem o óleo incorporado, mas ele não deixa filmes ou resto de óleo soltos na água. Por isso, as praias se mantêm balneárias”, explicou.
Em Alagoas, o IMA emitiu o último relatório na sexta-feira (11) apontando que, dos 63 pontos analisados, apenas três foram considerados impróprios — mesmo com o registro das manchas de óleo em 15 pontos.
Oliveira afirma ainda que o bom resultado de balneabilidade se deve também a outros dois motivos.
“A resposta imediata de limpeza das praias e por se tratar de petróleo temperizado, ou seja, condensado em fragmentos.”
Ainda segundo ele, o que está ocorrendo é a contaminação da areia das praias, onde o óleo fica depositado.
“Aí sim, o calor intenso esquenta o óleo e amolece um pouco. Mas se a água bate, ele fica sólido. O risco maior que tem é a descaracterização da paisagem. Para as pessoas, o risco quando pisam, o óleo fica agregado”, explicou.
Critérios para avaliação
No Estado com maior número de praias afetadas, o Rio Grande do Norte, das 33 amostras de água feitas pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente na semana passada, apenas uma, na foz do rio Pirangi, apresentou problemas de balneabilidade. Entretanto, a poluição no local já existia antes do surgimento das manchas de óleo.
No Estado vizinho, a Paraíba, das 68 praias analisadas, só duas estão impróprias.
Já na Bahia, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) emitiu um alerta para que os banhistas evitem praias contaminadas com óleo, mas garantiu que isso não ocorre porque elas estão impróprias por causa do óleo.
À BBC, o Inema explicou que as praias que estão impróprias são aquelas que, no período chuvoso, “podem ser contaminadas por arraste de detritos diversos, carregados das ruas através das galerias pluviais, podendo causar doenças”.
Ainda segundo o Inema, o Conselho Nacional do Meio Ambiente estabelece que uma praia é considerada imprópria quando mais de 20% das amostras coletadas em cinco semanas consecutivas apresentam resultado superior a 1.000 na contagem de coliformes fecais ou 800 na de Escherichia coli; ou quando, na última coleta, o resultado for superior a 2.500 coliformes termotolerantes ou 2.000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 ml de água.
Em Sergipe, a Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) alega outro ponto para garantir a balneabilidade das praias: óleo e água não se misturam.
“A orientação do governo é que, para banho, não está tendo problema. Agora, existe uma orientação para que os banhistas não cheguem à areia porque ela está contaminada com manchas de óleo que pode criar uma alergia”, informou.
Sobre as praias do Estado, o órgão disse que a capital, Aracaju, está com todas autorizadas para banho; entretanto, o litoral das regiões norte ou sul ainda estão sendo vistoriados com coleta de material.
“A mais parte mais atingida de Sergipe foi a parte sul que teve mais concentração de óleo.”
Balneabilidade não leva em conta o óleo
O oceanógrafo especialista em emergências causadas por óleo Jackson Krauspenhar vê com preocupação as análises da balneabilidade das praias que estão sendo feitas.
“Geralmente, quando analisam, verificam parâmetros ligados a esgoto, mas nós precisamos saber se as análises estão levando em conta os componentes do hidrocarboneto (petróleo).”
Ele defendeu uma averiguação na concentração do óleo nas águas.
“Não sabemos qual a composição do óleo. Os óleos possuem moléculas aromáticas e até cancerígenas, então a balneabilidade deve ser colocada em reflexão se está se levando em consideração esses componentes.”
O especialista também questiona que, sem saber de onde vieram as manchas, as ações que devem ser tomadas a médio e longo prazos ficam prejudicadas.
“Por exemplo, o óleo pode está coberto por areia e os banhistas podem pisar e ser contaminados. Chegamos a uma barreira: não conseguimos nem chegar à fonte e nem na origem.”
Para voltar a normalidade, Krauspenhar disse que é preciso que se passe um tempo sem aparecimento de novas manchas na praia.
“Enquanto não conseguirmos fazer esse parâmetro, não sabemos quando vamos voltar ao normal. Por enquanto, é necessário que se faça limpeza, e que os técnicos usem equipamentos (de proteção).”
Fonte: BBC