A maioria dos brasileiros não sabe como funciona a coleta seletiva de lixo reciclável e desconhece informações sobre os tipos de materiais plásticos que são reaproveitáveis, segundo uma pesquisa da consultoria global Ipsos feita em 28 países e publicada nesta semana.
A pesquisa Um Mundo Descartável — O Desafio das Embalagens e do Lixo Plástico perguntou se as pessoas acham que as regras de reciclagem de lixo doméstico são claras. No Brasil, 54% dos entrevistados disseram que não, ou seja, menos da metade das pessoas entendem o funcionamento da coleta seletiva em sua região.
O Brasil está atrás dos outros países pesquisados nesse aspecto: no resto do mundo, a média está em 47%.
No país, 65% dos entrevistados acreditavam que todos os plásticos podem ser reciclados, o que não é real: alguns tipos, como embalagens metalizadas, adesivos e papel celofane, não podem ir para a coleta seletiva.
Em outros países, o desconhecimento é um pouco menor: 55% das pessoas acreditavam que qualquer plástico pode ser reciclado, segundo a pesquisa da Ipsos.
Para a diretora da Ipsos Sandra Pessini, a falta de informação é um desafio, mas o Brasil está na frente em outros aspectos.
“Os brasileiros estão mais abertos a mudanças, mais dispostos a mudar seus hábitos”, afirma ela.
Na pesquisa, 68% dos entrevistados no Brasil disseram que mudariam o local onde compram produtos se isso significasse usar menos embalagens.
“Quando você olha países desenvolvidos, como o Japão, percebe que, embora eles tenham uma cultura muito forte de coleta seletiva, eles estão menos dispostos a mudar seu comportamento de consumo”, diz Pessini.
Os brasileiros também afirmam que os plásticos descartáveis deveriam ser banidos completamente o mais rápido possível — 71% concordam com a afirmação, mesma média mundial.
A diretora da Ipsos também uma forte consciência no Brasil sobre a responsabilidade da indústria e do comércio na poluição: a grande maioria dos brasileiros (77%) concorda que as empresas deveriam ser obrigadas a ajudar com a reciclagem e o reuso das embalagens que produzem.
“Existe uma expectativa grande do brasileiro em relação a isso. Marcas que conseguirem proporcionar embalagens mais sustentáveis serão beneficiadas”, diz a diretora da Ipsos.
No Brasil, 76% dos entrevistados disseram que veem com bons olhos as marcas que fazem mudanças para alcançar melhores resultados ambientais.
Cobertura da coleta seletiva
A pesquisa mostra também uma grande discrepância entre o número de entrevistados que consideram o serviço de reciclagem bom (47%) e a cobertura real de coletiva seletiva no Brasil.
Os dados mais recentes, de 2018, mostram que a coleta seletiva atendia, no ano passado, apenas 17% da população brasileira, de acordo com o relatório do Cempre (Compromisso Empresarial de Reciclagem).
Os serviços também estão muito concentrados — 83% das cidades com coleta seletiva estão nas regiões Sudeste e Sul do país.
Pessini explica que, apesar da cobertura de coletiva seletiva ser muito baixa no país, a diferença existe porque a pesquisa é baseada na percepção das pessoas, não na prática real de fazer a separação.
Em outros países, a média dos entrevistados que consideram bom o serviço de reciclagem nas residências é de 52%. O índice é bem alto no Canadá (70%), na Suécia (70%) e nos Países Baixos (65%).
A pesquisa da Ipsos Global Advisor foi realizada em 28 países entre 26 de julho e 9 de agosto. Foram entrevistadas mil pessoas em cada país e a margem de erro para o Brasil é de 3,5 pontos percentuais.
Como a pesquisa foi feita online, ela é representativa da população conectada, que no Brasil equivale a 70% da população.
Regras de reciclagem
O funcionamento da coleta seletiva varia de cidade para cidade, e cabe aos municípios fazer a divulgação correta do serviço.
A separação do lixo reciclável do não-reciclável precisa ser feita de acordo com alguns parâmetros, segundo entidades ambientais como o WWF:
- Embalagens plásticas que contém líquidos ou alimentos precisam ser levadas e colocadas no lixo reciclável sem tampa
- Vidros também precisam ser lavados e, se tiverem quebrados, precisam ser separados em caixas de papelão ou envoltos em jornal para não ferir o coletor
- Metais, como latas de de alumínio, precisam ser prensados, se possível
- Caixas de papelão precisam ser desmontadas
- Papeis não podem ser metalizados e precisam estar secos
- Resíduos orgânicos, papeis engordurados ou sujos e embalagens plásticas metalizadas não são recicláveis.
O tipo de material que pode ser reciclado também depende da capacidade de processamento de materiais em cada região – alguns locais têm capacidade de reciclar materiais que não são aceitos em outros centros de processamento.
Para mais detalhes, procure a Secretaria de Meio Ambiente ou área responsável na prefeitura de sua cidade.
Fonte: BBC