Pesquisadores da Suécia, EUA e Austrália analisaram o sistema nervoso do camarão mantis a fim de entender como uma criatura tão pequena pode ter a mais incrível e absurda visão do reino animal.
Superpoder
Existem mais de 450 espécies da ordem Stomatopoda, a qual pertence o camarão mantis, um crustáceo do tamanho de um dedo. Apesar desse nome, nenhuma delas é um camarão. Na verdade, esses animais possuem um parentesco mais próximo com caranguejos e lagostas.
E também possuem a visão mais complexa já evoluída no mundo animal. Por exemplo, cada olho do mantis se move de forma independente do outro. Além disso, eles podem detectar luz visível, ultravioleta e polarizada, enxergar em 3D e até ver câncer. Sem brincadeira – existe uma tecnologia de detecção da doença baseada nessa característica biológica do mantis.
Para você ter uma noção do que estamos falando, enquanto a visão humana conta com apenas dois tipos de fotorreceptores e três canais de cores (que nos permitem discriminar entre 10 milhões de tons), os dois olhos compostos do camarão mantis contêm mais de uma dúzia de fotorreceptores diferentes, alguns ultravioleta.
É tudo muito impressionante, sem dúvida, mas também é muita informação visual para um animal com um cérebro daquele tamanhinho processar. Como todos esses dados são trabalhados?
O estudo
Utilizando uma variedade de técnicas microscópicas, os pesquisadores examinaram as células nervosas do olho do mantis, especialmente uma estrutura chamada de corpo reniforme, cuja presença foi identificada em invertebrados mais de um século atrás.
Eles seguiram os caminhos que conectavam o corpo reniforme a partes do cérebro do mantis, criando um mapa do sistema visual do animal.
Os cientistas identificaram uma conexão importante com uma unidade chamada lóbula, que coleta informações visuais processadas por outras partes do cérebro e as converte em algo significativo, por exemplo, uma forma claramente definida.
Outra associação significativa foi encontrada com uma estrutura comumente observada em insetos chamada de corpo de cogumelo, responsável pelo aprendizado e processamento de cheiros. Crustáceos não possuem exatamente um corpo de cogumelo, mas o mantis tem uma estrutura que parece servir ao mesmo propósito.
A ligação de tal estrutura com o sistema visual sugere que as informações visuais processadas pelo mantis são depois compartilhadas com uma parte do cérebro que lida com a memória.
“O fato de termos conseguido demonstrar que o corpo reniforme também está conectado ao corpo do cogumelo e fornece informações a ele sugere que o processamento olfativo pode ocorrer no contexto de memórias visuais já estabelecidas”, disse um dos autores do estudo, o neurocientista Nicholas Strausfeld, da Universidade do Arizona (EUA).
Desvendando o sistema visual do mantis
Anteriormente, uma equipe de cientistas incluindo Strausfeld descobriu que os corpos reniformes serviam como centros de aprendizado e memória em caranguejos. No caso do camarão mantis, isso pode significar uma duplicação de centros de memória.
O próximo passo da pesquisa é procurar estruturas parecidas com o corpo reniforme em outros animais, para estudar sua função.
Quanto mais conhecermos a visão de animais como o mantis, melhor. Esse animal incrível já inspirou diversas tecnologias, de forma que esse é o tipo de conhecimento que pode render aplicações práticas interessantes.
Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica The Journal of Comparative Neurology. [ScienceAlert]
Fonte: Hypescience